NCÔMODO


O clima na Esplanada dos Ministérios vai de mal a pior e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, conseguiu piorar um pouco mais a situação ao fazer anúncio sobre a construção da linha 2 do metrô de Belo Horizonte ou, como nos bastidores tem sido dito: “Fazer cumprimento com o chapéu dos outros”. Segundo interlocutores, ele conseguiu irritar, de uma só vez, os ministros da Economia, Paulo Guedes; do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho; e o advogado-geral da União, José Levi Mello do Amaral Júnior. 


O motivo é que ainda não foi fechado acordo com a Justiça que, na prática, pode garantir que os recursos da multa da empresa Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), orçados em R$ 1 bilhão, sejam utilizados exclusivamente para a expansão dos trechos da capital mineira. O processo estava sendo conduzido por Marinho e o acordo entre as pastas do governo federal era de que o anúncio somente seria feito após a decisão judicial e com a ida do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a Belo Horizonte.


No entanto, na noite de terça-feira (1º), Tarcísio encontrou-se com o chefe do Palácio do Planalto e contou da novidade. Mas, de acordo com pessoas ouvidas pela coluna, sem comentar que o processo ainda está em andamento na 12ª Vara da Justiça Federal e que havia a pretensão de que o anúncio fosse feito na capital mineira. Bolsonaro publicou nos perfis das redes sociais, na manhã desta quarta-feira (2), sobre o fato e citou somente o ministro da Infraestrutura. “A criatividade e a determinação do Tarcísio viabilizará a linha 2 do metrô de BH”.

 

Jair M. Bolsonaro
@jairbolsonaro
- A criatividade e a determinação do @MInfraestrutura @tarcisiogdf viabilizará a linha 2 do metrô de BH.

- A indenização relativa à devolução de trechos antieconômicos da Ferrovia Centro Atlântica será empregada no segmento Calafate/Barreiro, antigo sonho dos mineiros.

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Em conversas reservadas, Marinho se mostrou extremamente irritado com a situação e ainda falou que está preocupado que esse anúncio atrase a decisão da Justiça. Isso porque o processo na AGU ainda está no papel e precisa ser digitalizado. Só depois disso, o órgão do governo federal vai apresentar um aditivo na Justiça pedindo para que o dinheiro seja direcionado exclusivamente para as obras na linha 2. Antes, a verba começou a ser depositado pela empresa numa conta geral do governo, do Tesouro Nacional. Já foram pagos R$ 186 milhões, que não podem mais ser direcionados para as intervenções. 

Soma-se a isso o fato de que entidades de classes já estão se colocando contrárias a ideia, uma vez que a liberação da quantia está vinculada ao processo de privatização dos trechos. Na prática, para que o projeto saia do papel, vai ser necessária concessão das linhas do metrô para a iniciativa privada e a gestão da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) na cidade, num leilão previsto ainda para setembro do ano que vem. E a empresa vencedora ainda vai ter que injetar R$ 2,4 bilhões para a realização de obras nas linhas. Isso porque dos R$ 3,6 bilhões orçados para as intervenções, apenas R$ 1,2 bilhão é proveniente do acordo com a FCA.

Incômodo geral

Parte da bancada mineira também se mostrou insatisfeita com Tarcísio . Uma das reclamações é que durante videoconferência nesta quarta-feira, o ministro se esquivou de dar respostas concretas aos parlamentares sobre como vai se dar o projeto de retomada das obras da linha 2. Acrescentaram a isso o fato de que a liberação do dinheiro ainda depende de aval da Justiça.

Outra análise é de que todos os Estados administrados pela CBTU, de responsabilidade do Executivo, receberam recursos federais para dar andamento a obras, menos Minas. Isso, mais uma vez e em um novo governo.  E, agora, quando o anúncio é feito, é revelado que os recursos não são provenientes da União, como era de se esperar, mas sim de uma multa.