BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) adotou um discurso ambíguo para não romper de vez com o STF (Supremo Tribunal Federal) e, ao mesmo tempo, deixar evidente sua insatisfação com episódios em que considera que a corte extrapolou seus limites de atuação.

 
Com uma série de pendências nas mãos da Justiça, o governo, internamente, tenta contemporizar sua irritação com os magistrados.

Mas também se vê na obrigação de acenar para sua base ideológica e quer pontuar que não é possível apagar o passado e ignorar episódios em que, na avaliação de Bolsonaro e assessores, o Judiciário avançou o sinal." Essa avaliação tem respaldo, inclusive, de ministros militares.

De parte do Judiciário, os discursos de Bolsonaro e seus aliados, ora pela harmonia entre os Poderes, ora críticos ao STF, são lidos com desconfiança e irritam ministros do STF. Eles reclamam da postura dúbia do presidente e auxiliares.

Na semana passada, o próprio presidente da corte, Dias Toffoli, em live, pediu trégua entre os Poderes. Em afirmação destinada "diretamente e em especial" ao chefe do Executivo, que "não é mais possível atitudes dúbias".

Nesta segunda (15), após o STF ter sido alvo de ataques com fogos de artifício, no sábado, Bolsonaro pediu que sua equipe que não critique publicamente o tribunal.

Ministros do Supremo cobram de Bolsonaro a demissão de Abraham Weintraub (Educação), que já se referiu aos integrantes do STF como "vagabundos". Para eles, demiti-lo seria o gesto mais enfático do presidente no sentido de harmonizar a relação.

Nesta segunda, Bolsonaro disse que o fato de Weintraub ter comparecido ao ato pró-governo no domingo (14) "é um problema que estamos tentando solucionar com o senhor Abraham Weintraub".

Sem isso, a tendência, avaliam aliados do governo e ministros do STF, é que a relação entre Judiciário e Executivo siga entre altos e baixos.


A base mais fiel a Bolsonaro, ligada ao escritor Olavo de Carvalho, critica decisões da corte e sempre cobra que o presidente se posicione em relação ao tribunal.

Governistas citam como exemplos de decisões do tribunal a suspensão da indicação de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal, as buscas nas casas de apoiadores do presidente no âmbito do inquérito das fake news e a divulgação da reunião ministerial de 22 de abril.

O Planalto escalou dois ministros de formação jurídica, Jorge Oliveira (Secretaria-Geral) e André Mendonça (Justiça), para comentar decisões do STF e se opor a elas quando necessário. O governo tenta mostrar que há uma unidade de pensamento e evitar que Bolsonaro fique marcado como inimigo do Supremo.

"Aquilo extrapolou, não tinha nexo algum com o objeto do inquérito", disse o ministro Jorge Oliveira, à CNN Brasil, sobre a divulgação da reunião ministerial.

Auxiliares de Bolsonaro dizem que o nível de tensão no governo está elevadíssimo. Mas usam viés mais construtivo quando falam com os integrantes do STF.

O governo teme o avanço de ações que pedem a cassação da chapa de Bolsonaro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e também o inquérito que investiga disparos de fake news contra integrantes do Supremo, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes.