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Gastos de R$ 11,5 mil em churrascaria; R$ 3,8 mil em restaurante de luxo no Lourdes, onde se serve até pizza de R$ 180; e duas idas a um restaurante de luxo na Savassi, onde são servidos pratos de alta gastronomia, como bacalhau de Coimbra e confit de pato, com custo de R$ 4,8 mil para os cofres públicos. Essas são algumas das notas fiscais indenizadas pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) neste mandato, como mostra os dados abertos da Casa, os quais o Núcleo de Dados do EM segmentou para esta reportagem.
O deputado estadual Betinho Pinto Coelho (PV) lidera a lista de verbas indenizatórias em bares, restaurantes e similares com R$ 31,2 mil pagos pela ALMG nesta legislatura. São 68 notas fiscais diferentes, uma média de R$ 459,83 por emissão.
Em segundo lugar, aparecem Grego da Fundação (PMN) e Oscar Teixeira (Progressistas), que gastaram R$ 26,8 mil cada. Os deputados estaduais lideram os reembolsos acima de R$ 1 mil, com seis notas fiscais do tipo cada. A lista de Grego conta com indenizações de R$ 5,7 mil em um bar e restaurante em Caratinga (Rio Doce); e de R$ 4,3 mil em um restaurante em Espera Feliz (Mata). Ainda gastou R$ 3,7 mil em um restaurante em Eugenópolis (Mata) e R$ 3,2 mil em um pesque e pague de Muriaé (Mata).
Já Teixeira teve um reembolso de R$ 7,2 mil em um restaurante em Montes Claros. Há, até mesmo, dois gastos elevados num mesmo estabelecimento de luxo na Savassi, na Região Centro-Sul de BH, onde são servidos pratos de alta gastronomia, como risoto com frutos do mar, bacalhau de Coimbra e confit de pato. As duas idas custaram R$ 4,8 mil à Assembleia somadas.
Os nomes dos estabelecimentos, apesar de constarem nos dados abertos da Assembleia, foram resguardados pela reportagem para evitar constrangimento, já que essas empresas não têm qualquer responsabilidade sobre o uso do dinheiro público.
A maior nota fiscal do tipo (em valores), no entanto, fica por conta do ex-deputado estadual Fábio Avelar (Avante), atual prefeito de Nova Serrana, na Região Centro-Oeste do estado. Com dinheiro público, ele pagou R$ 11,5 mil em uma churrascaria na cidade de Onça do Pitangui, a cerca de 40 quilômetros do município onde trabalha atualmente. O gasto aconteceu em 9 de novembro do ano passado, quando o político já sabia que deixaria o Legislativo para assumir a administração municipal.
Outro destaque fica por conta da deputada estadual Chiara Biondini, também do Progressistas. Em visita a uma pizzaria do Bairro Lourdes, em BH, ela recebeu ressarcimento de R$ 3,8 mil. O local serve o tradicional prato italiano até por R$ 180, além de risoto de bacalhau e de frutos do mar.
O que dizem os citados
Vice-líder em gastos com bares, restaurantes e similares, Grego da Fundação informou que "as despesas citadas se referem exclusivamente à realização de encontros institucionais com lideranças regionais, todos realizados em dias úteis e em horários diurnos, dentro do exercício regular da atividade parlamentar". Ele disse acreditar que "legislar e fiscalizar não se restringem às dependências da Assembleia Legislativa, mas passam, sobretudo, pela presença constante nos municípios, pela escuta ativa da sociedade e pela observação direta das necessidades de cada região".
Já Oscar Teixeira esclareceu que todos os seus gastos em bares, restaurantes e similares "estão em plena conformidade com as regras que regem a utilização da verba indenizatória na Assembleia Legislativa de Minas Gerais". Por ter base eleitoral no Norte do estado, ele esclarece que "é frequente a necessidade de receber lideranças políticas, comunitárias e representantes da sociedade civil em Montes Claros e, igualmente, em Belo Horizonte, onde cumprimos agendas oficiais, reuniões de trabalho e participamos de sessões solenes e homenagens promovidas pela ALMG". Ele ressalta que as solenidades "exigem encontros, recepções e reuniões que justificam os gastos apontados".
A deputada Chiara Biondini também se posicionou sobre o gasto de quase R$ 4 mil em uma pizzaria de luxo, sem justificar diretamente o caso trazido pela reportagem. "Tais despesas têm por finalidade viabilizar a adequada organização e alinhamento das atividades parlamentares, de modo a atender, de forma eficiente e economicamente racional, às demandas dos municípios. Ressalte-se que os recursos não são utilizados para fins pessoais, mas exclusivamente para a realização de atividades inerentes ao mandato", disse.
Ex-deputado, Fábio Avelar informou, por meio de sua assessoria, que “o recurso citado foi investido na realização de um encontro político, momento que possibilitou a troca de experiências entre prefeitos e lideranças, promovendo soluções e estratégicas visando beneficiar a Região Centro-Oeste, fortalecendo a união e o diálogo e objetivando resultados promissores para a população e os municípios”.
A reportagem também procurou o líder dos gastos com bares, restaurantes e similares, o deputado estadual Betinho Pinto Coelho. Em viagem no interior, o parlamentar não apresentou justificativas para as indenizações que somam cerca de R$ 31 mil.
Valor total
Ainda que as indenizações de elevados valores chamem a atenção, o levantamento feito pelo Núcleo de Dados do Estado de Minas mostra que a Assembleia registra 1.286 notas fiscais em nome dos deputados emitidas em bares, restaurantes e similares desde fevereiro de 2023. Elas geraram R$ 269.760,06 em verbas indenizatórias, mecanismo criado em 2009 pela Casa que dá direito aos parlamentares de solicitar ressarcimento por gastos de diferentes naturezas no exercício do mandato. Os documentos variam entre meros R$ 2,67 até R$ 11.556,45, com valor médio de R$ 209,76 por emissão.
Os números mostram que os gastos envolvem deputados de diferentes ideologias. Hoje dividida em três blocos parlamentares, sendo dois deles governistas e um de oposição, a Assembleia pagou cerca de R$ 192,9 mil aos deputados aliados ao governo e outros aproximadamente R$ 76,8 mil aos oposicionistas, que somam o menor número de cadeiras na Casa.
"O uso da verba indenizatória dificilmente tem algum tipo de direcionamento ideológico. Não há, até onde se saiba, um impedimento ideológico. É uma questão de conveniência", afirma o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec em Belo Horizonte.
Na mesma linha do professor Adriano Cerqueira, Ramirez diz que há um "consenso" em toda classe política para defender os privilégios dos parlamentares. "Abra-se um leque de vantagens para que os políticos atuem de forma contrária ao interesse público. Isso acontece em todo o Brasil, não só na Assembleia de Minas Gerais. Isso aumenta a revolta e a descrença da população, que não encontra um bom exemplo no Legislativo", afirma.
A segmentação dos dados por partidos políticos ilustra a análise dos especialistas. Enquanto o Progressistas, que em Minas caminha com o governo, lidera as verbas indenizatórias em bares, restaurantes e similares com R$ 53,6 mil neste mandato, o oposicionista PT vem em terceiro lugar no número absoluto com R$ 34,5 mil.
Na mesma toada, o segundo colocado no recorte das refeições é o PMN, alinhado à gestão Zema. A legenda tem como representante, por exemplo, o ex-secretário de estado de Governo, Gustavo Valadares. A sigla soma R$ 41,4 mil em indenizações do tipo. O quarto colocado, no entanto, já integra o bloco de oposição: o PV, com R$ 32,7 mil em reembolsos.
Exceções?
Ao mesmo tempo, apenas parte dos parlamentares registra alguma nota fiscal em bares, restaurantes e similares. Entre deputados atualmente em exercício e outros licenciados, 45 nomes diferentes estão na relação segmentada pelo EM. Algumas dessas indenizações, apesar de serem feitas nesta legislatura, dizem respeito a parlamentares que exerceram mandato entre 2019 e 2022 – apesar desse número não superar 20 emissões.
Daqueles que ocupam cadeiras atualmente no Legislativo, 39 sequer cobraram da Assembleia o ressarcimento de despesas do tipo – o que representa maioria dos 77 mandatos em curso.
Ainda assim, os gastos elevados em bares e restaurantes reforçam a imagem ruim que o Poder Legislativo tem na sociedade, segundo o cientista político Paulo Ramirez, professor da ESPM em São Paulo. “Na minha visão, demonstra a falta de compromisso com as finanças públicas. Os deputados gozam de uma série de privilégios e acabam exagerando na dose com gastos elevadíssimos. Enquanto isso, diferentes governos e municípios buscam cortar gastos de outras fontes, como educação e saúde. Falta responsabilidade”, diz.
Porém, ele ressalta que o problema não se estende a todos os políticos. Mesmo que seja raro o não uso da verba indenizatória durante o mandato, independentemente do objetivo, o professor afirma que é possível ter acesso ao benefício sem excessos. "Há uma consciência, embora menos expressiva, de políticos que sabem que ganham bem e que seus salários são suficientes para manter uma vida adequada. Por isso mesmo, acabam não usando esse tipo de verba (de maneira extrapolada)", diz.
Adriano Cerqueira, do Ibmec, concorda. “O fato de a maior parte, uma pequena maioria, ter algum tipo de nota em restaurantes e bares é um indicativo de um certo cuidado com o gasto desse tipo de verba. Pode ser que muitos deputados entendam que o bom salário que recebem vem para cobrir gastos dessa natureza”, analisa.
Metodologia do levantamento
Para apurar os números, a reportagem acessou os dados abertos da Assembleia e os segmentou com a linguagem de programação Python. Para mapear as verbas indenizatórias de bares, restaurantes e similares, o EM fez buscas por palavras-chave que têm relação com esses estabelecimentos, já que algumas razões sociais não trazem “bar” ou “restaurante” em seu CNPJ, mas termos como “churrascaria”, “bistrô” e “pizzaria”, por exemplo. Após obter a relação, foram feitos filtros pelos maiores valores indenizados e agrupamentos por parlamentar para construção do texto.
Como funciona o mecanismo
A verba indenizatória é regida pela deliberação 2.446, de 15/06/2009, da Assembleia. Pelo texto, o parlamentar só pode receber o recurso se a atividade for "inerente ao exercício do mandato", portanto eventos pessoais não podem entrar na relação.
Além disso, há um limite de 6.253,8466 Unidades Fiscais do Estado de Minas Gerais (Ufemgs) para ressarcimento mensal, o que hoje representa R$ 34.590, considerando todos os gastos, não apenas aqueles com bares, restaurantes e similares. O mecanismo permite acúmulo, caso o político não gaste todo o valor disponível em um determinado mês.
São indenizáveis as seguintes despesas: locação de imóvel e seus complementos (IPTU, água, segurança, telefonia, etc.); combustível e lubrificante para veículos terrestres; manutenção de veículos terrestres; serviços de assessoria, consultoria e pesquisa; material de expediente (informática e equipamentos de escritório, por exemplo); passagens, hospedagem e alimentação; assinatura de publicações, periódicos e clippings; e promoção e participação em eventos.
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Gastos de R$ 11,5 mil em churrascaria; R$ 3,8 mil em restaurante de luxo no Lourdes, onde se serve até pizza de R$ 180; e duas idas a um restaurante de luxo na Savassi, onde são servidos pratos de alta gastronomia, como bacalhau de Coimbra e confit de pato, com custo de R$ 4,8 mil para os cofres públicos. Essas são algumas das notas fiscais indenizadas pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) neste mandato, como mostra os dados abertos da Casa, os quais o Núcleo de Dados do EM segmentou para esta reportagem.
O deputado estadual Betinho Pinto Coelho (PV) lidera a lista de verbas indenizatórias em bares, restaurantes e similares com R$ 31,2 mil pagos pela ALMG nesta legislatura. São 68 notas fiscais diferentes, uma média de R$ 459,83 por emissão.
Em segundo lugar, aparecem Grego da Fundação (PMN) e Oscar Teixeira (Progressistas), que gastaram R$ 26,8 mil cada. Os deputados estaduais lideram os reembolsos acima de R$ 1 mil, com seis notas fiscais do tipo cada. A lista de Grego conta com indenizações de R$ 5,7 mil em um bar e restaurante em Caratinga (Rio Doce); e de R$ 4,3 mil em um restaurante em Espera Feliz (Mata). Ainda gastou R$ 3,7 mil em um restaurante em Eugenópolis (Mata) e R$ 3,2 mil em um pesque e pague de Muriaé (Mata).
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O que dizem os citados
Vice-líder em gastos com bares, restaurantes e similares, Grego da Fundação informou que "as despesas citadas se referem exclusivamente à realização de encontros institucionais com lideranças regionais, todos realizados em dias úteis e em horários diurnos, dentro do exercício regular da atividade parlamentar". Ele disse acreditar que "legislar e fiscalizar não se restringem às dependências da Assembleia Legislativa, mas passam, sobretudo, pela presença constante nos municípios, pela escuta ativa da sociedade e pela observação direta das necessidades de cada região".
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A deputada Chiara Biondini também se posicionou sobre o gasto de quase R$ 4 mil em uma pizzaria de luxo, sem justificar diretamente o caso trazido pela reportagem. "Tais despesas têm por finalidade viabilizar a adequada organização e alinhamento das atividades parlamentares, de modo a atender, de forma eficiente e economicamente racional, às demandas dos municípios. Ressalte-se que os recursos não são utilizados para fins pessoais, mas exclusivamente para a realização de atividades inerentes ao mandato", disse.
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