O assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais e ex-chanceler Celso Amorim disse achar” estranha” a aliança de Israel com a extrema direita brasileira e que se Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, espera um pedido de desculpas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela declarações em que comparou o massacre de civis palestinos ao Holocausto, “vai continuar pedindo”. 

“Vai ficar pedindo. Se é que ele está insistindo mesmo. Não sei se ele faz isso por demagogia interna ou por qualquer outra razão, mas certamente se ele está esperando isso não vai receber. Não posso falar pelo presidente, mas eu não vejo nada, não vejo razão para o presidente se desculpar”, disse Amorim ao jornal Folha de S. Paulo.

“Tenho certeza que essa pressão é mais da mídia brasileira do que de qualquer outro lugar. Ele não recebeu nenhuma pressão. Por exemplo, Antony Blinken [secretário de Estado americano] nem de longe sugeriu a ideia de pedido de desculpas. Ele fez uma referência ao Holocausto de maneira muito sutil. Ficamos com a opinião da Corte Internacional. É um genocídio. Não sei qual vai ser a decisão definitiva da corte, mas o que existe hoje é o seguinte: há uma plausibilidade na acusação de genocídio”, afirmou. 

Ainda segundo o ex-chanceler, “nunca estivemos afastados do povo judeu, nem sequer do Estado de Israel, cuja existência nós defendemos. O problema é que esse governo, além do que ele está fazendo em Gaza, comportou-se de uma maneira diplomaticamente inadmissível”.

Amorim também avalia que o diálogo com o governo Netanyahu como “praticamente impossível” enquanto o massacre do povo palestino não for interrompido. “Pode ser que mude de atitude; eu sou um pouco pessimista. Obviamente esse governo não quer que exista a Palestina, nem em Gaza nem na Cisjordânia. Uma das declarações citada pela África do Sul, mas repetida pela Corte, é de que não há inocentes. Se não há inocentes, é preciso eliminar todo mundo. Diferenciar isso de genocídio é muito difíci”, ressaltou. 

Apesar da crise diplomática entre os dois países, o diplomata afirma que o Brasil não irá agir contra Israel, mas que considera estranha a aliança entre o governo de Netanyahu e a extrema direita brasileira. “Não vamos agir contra Israel. Não tem nada disso. Mas também não podemos apagar uma aliança estranha que existe entre o governo de Israel e a extrema direita brasileira”, observou. 

“O embaixador de Israel teve uma conversa lá com o pessoal ligado ao [ex-presidente] Jair Bolsonaro. Não é com a direita moderada. Obviamente vamos esperar acabar o julgamento. Coloco essa ressalva sempre. Mas estão acusados de golpe. Não é qualquer direita”, completou. 

 

Brasil247