GREVE DOS CAMINHONEIROS
Vice-presidente da Câmara dos Deputados participou do quadro '15 minutos com Sapia', na rádio Super
Deputado, o senhor é governista, do mesmo partido do presidente Michel Temer, o MDB. O que pode ser feito para acabar com essa crise que está acontecendo em todo país?
Eu não sou deputado governista, mas sim independente. Já tem mais ou menos dois anos que eu tenho batido muito no governo, defendido outras ideias, diferentes das que o governo tem equivocadas pelo país. O governo erra a todo momento, nunca aprende com seus erros e sempre erra mais. Eu vejo que nós temos um grupo de pessoas incompetentes e insensíveis administrando o país. A incompetência ainda é maior do que a insensibilidade. Nós somos donos do petróleo, somos ricos por petróleo também, mas vivemos em um país aonde tivemos uma empresa que teve um problema sério de corrupção e de gestão. E, agora, querem pagar a conta da corrupção e da má gestão em um ano e nas costas dos mais pobres. Todo mundo depende do petróleo no Brasil, todo mundo depende da gasolina, depende do gás, depende do óleo diesel. Os caminhoneiros têm razão quando fazem esse movimento. Eu apoio o movimento e, sobretudo, que seja um movimento que não tenha nenhuma exceção, dê segurança para as pessoas e respeite o que reza a nossa Constituição.
Os 53 deputados federais e os três senadores de Minas não se pronunciaram sobre essa greve nos últimos dias. Como estão os mineiros nessa situação?
Eu me pronunciei desde terça-feira a favor do movimento e, sobretudo, demonstrando que o governo está errado. E não é só com esse movimento. Quando começa-se a dar um aumento de 88% na passagem do metrô você vê a insensibilidade e a incompetência do governo, aí passa pela questão dos caminhoneiros. Falta ao governo a inteligência para dar pra ele os caminhos do que está acontecendo — faltou a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) passar pra ele realmente o tamanho do movimento e o tamanho do problema que iria causar no Brasil. Todo mundo já sabia que esse movimento ia acontecer, desde o ano passado. E o governo achou que não ia acontecer nada, foi levando com a barriga, fez aumentos excessivos do petróleo, principalmente do óleo diesel, e colocou todas as pessoas para que elas tornam-se desempregadas. O governo deveria mostrar um pouquinho de autoridade agora, e não falar que vai prender empresário. Deveria era demitir o presidente da Petrobras (Pedro Parente) e não viver como um governo que só pensa no mercado financeiro. A Petrobras tem dado lucro sim. Quem comprou R$ 1 milhão de ações da Petrobras, ultimamente, ganhou 30%. Ganhou nas costas do brasileiro, nas costas dos mais pobres. O governo deveria falar que vai mandar prender quem está especulando e destruindo o país. É fácil você recuperar uma empresa na desgraça de 200 milhões de pessoas.
Como o senhor analisa essa posição do presidente hoje? Existe o risco de que se uma terceira denúncia contra ele chegar no Congresso Nacional, ela não seja arquivada como aconteceu com as duas denúncias anteriores? Existe o risco hoje de se chegar uma denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) e o Congresso aceitar?
Eu penso que se chegar uma terceira denúncia ninguém vai segurar mais porque ficou um governo ingovernável, um país ingovernável, intranquilo, ministros que fazem discursos mirabolantes e ficam mais passeando de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) do que propriamente cuidando dos interesses dos brasileiros. O que eu vejo aí é avião da FAB pra baixo e pra cima. Avião da FAB anda mais do que tudo e eu posso afirmar: anda atoa, não têm nada para fazer. Eles deveriam estar nos ministérios, cuidando dos problemas do Brasil. Mas eles acham bonito andar pra baixo e pra cima naqueles aviões bonitos e majestosos, pagos com recursos da nação. Eu acho que você não pode falar eu vou prender empresário. Eu acho que primeiro tem que apurar os fatos. Vamos dizer a verdade? A Petrobras está certa? Não. Os especuladores estão certos? Não. A equipe econômica está certa? Não. Este país hoje vive de um governo de banqueiros e de especulação.
O candidato a presidente, o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é banqueiro…
Se ele fosse competente ele teria dado emprego para 13 milhões de pessoas. Então, eu acho que ele é um grande banqueiro. Realmente entende muito de dinheiro, mas para poucas pessoas e não para distribuir para o povo brasileiro. E sabe como você distribui dinheiro par ao povo? É dando emprego. Não adianta você falar: “votamos o teto de gastos”, mas não fazer o que tínhamos que fazer. Primeiro tinha que fazer o dever de casa, voltar a dar emprego para o povo. Nós não temos 13 milhões de desempregados, mas sim 29 milhões. O presidente vem e fala num discurso: "A greve acabou". Presidente, pelo amor de Deus, espera primeiro a greve acabar para você dar a notícia. Espere primeiro. Ministros, parem de falar que vai prender beltrano ou fulano. Vamos apurar os fatos, ver onde estão os erros, vamos atrás dos erros. Nós não temos que sair prendendo ninguém. A gente tem que dar solução para os problemas que foi esse governo que criou. E como ele criou, este governo que tem que resolver.
Muitos boatos aparecem pelo país. O Brasil corre o risco de ter uma intervenção militar?
Eu penso que não. A gente tem que lutar pela democracia. Se tiver que fazer alguma coisa é pela política. Se tiver que mudar, vamos mudar pela política, não pela intervenção militar. Eu respeito todos os militares, mas fica aqui a minha certeza de que se resolvem as coisas pela política. Hoje nós temos uma administração mal informada, de maus gestores e ministros que se gabam de serem muito inteligentes e sábios, mas que não sabe nem o que falam.
Voltando a falar de um possível pedido de cassação de Michel Temer. Se a denúncia cair na Câmara dos Deputados o senhor disse que deve ser aprovada. Pela linha sucessória o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumiria a Presidência da República pelo resto do ano. Ele tem condições de dirigir o país?
Eu penso que o Rodrigo tem toda a competência, mas eu não conversei sobre esse assunto com ele. Agora, o que eu vejo na Câmara é que realmente há uma insatisfação grande de todos os partidos com o governo. Talvez até um arrependimento de não ter aprovado a segunda denúncia.
Muito se falou de que o Temer barganhou com os deputados por meio de emendas parlamentares. Ele cumpriu o que ele prometeu?
Olha, eu não participei disso, eu não tenho nenhum cargo no governo, as verbas que eu consigo é que eu mesmo vou aos ministros...
Mas cada deputado tem um limite de verba, né?
É. Os nossos limites hoje, em sua maioria, são impositivos. E eu acho que a gente tem que ter independência. Eu defendo sim o meu Estado e o meu eleitor. Nunca dei as costas para Minas. A questão da Cfem (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) só saiu porque eu estava na presidência da Casa, caso contrário teria caducado. A questão da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) na Câmara conseguimos votar para estender para a região do Rio Doce; tivemos também a alforria do queijo, que já foi votada na Câmara e no Senado; e agora temos essa questão principal. Começou com o metrô. Eu dizia para o presidente que era um absurdo o aumento do metrô. E na parte política eu não consegui resolvi e fui para a parte jurídica. Eu entrei com uma ação popular em meu nome e a Justiça vetou o aumento do metrô. E agora nós temos essa questão seríssima do diesel que sobe todos os dias. Será que eles não estão sabendo que nós temos uma inflação de 3%? E aí tem um aumento de 50% no óleo diesel? É inadmissível.
Sobre política em Minas agora. O jornal O TEMPO deu com exclusividade um almoço entre o vice-governador do Estado, Antônio Andrade (MDB), e o ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB). Pode acontecer esse acordo?
Olha, eu não posso afirmar o que pode acontecer ou não. Quando a gente estava no partido no início, qual seria o acordo? Que seria um benéfico para as bancadas estadual e federal. Seria um acordo com o governador Fernando Pimentel (PT). Depois, o partido andou tendo algumas desavenças, mas vamos aguardar pra ver.
Fui em função da ex-presidente Dilma Rousseff que vai se candidatar ao Senado e teria ficado com a vaga do MDB na chapa?
Eu não posso afirmar o que houve. Eu posso afirmar é que a gente tem que procurar o diálogo para dar ao partido o tamanho dele. Caso contrário ele vai ficar pequeno. Eu posso afirmar que sempre fui independente, mostrei isso no governo Lula, Dilma e agora no do Michel Temer. E, se Deus quiser, eu sendo reeleito deputado neste ano vou ser candidato à Presidência da Câmara dos Deputados e posso afirmar que vou ganhar essa eleição.
Minas Gerais ficou muito esquecida nesse governo, né? Pela primeira vez não tivemos ministros...
Muito esquecida. E a bancada também tem que estar mais unida. Temos alguns deputados que acham bonito ir lá conversar com o presidente, o presidente bate nas costas. Eu não tenho isso tapinha nas costas. Eu vou lá exigir coisas para Minas Gerais.
Eu vou falar um tema como o senhor, e o senhor precisa classificar. Michel Temer?
Muito a desejar.
Carlos Marun, o ministro da Secretaria de Governo?
Não entende nada de política.
Henrique Meirelles?
Não é meu candidato.
O senhor pode votar em um candidato em Minas que não seja do seu partido?
Eu sou um homem de palavra e dei minha palavra para o Pimentel.
Deixe um recado para os caminhoneiros...
Eu penso que os caminhoneiros estão fazendo uma greve e, no momento certo, o governo tem que chamar os líderes dos caminhoneiros para fazer uma negociação, já que eles falaram que os que foram negociar não representam eles. Então, falta ao governo aumentar o diálogo com o maior número de representantes, conversar com o empresariado também, fazer o diálogo e dar uma solução para Petrobras. Não é dar aumento de 30 em 30 dias. O petróleo é brasileiro. Há um erro gravíssimo e espero que o governo saiba que antes de prender os empresários, mande uma mudança na diretoria da Petrobras e exigindo que os novos diretores e presidente não pensem só no mercado financeiro e na especulação, mas pense nos brasileiros.