O futuro do MDB em Minas Gerais pode ser decidido nesta quarta-feira (28/4), durante reunião da Executiva nacional da legenda. O presidente estadual do partido, Newton Cardoso Júnior, deputado federal, pleiteia a prorrogação de seu mandato à frente da agremiação por mais um ano, em virtude das eleições de 2022. Outro grupo, porém, quer nova votação em julho deste ano. Parlamentares estão descontentes com a gestão do atual comandante e pedem a intervenção da direção nacional.

Em março, dois deputados federais e sete integrantes da Assembleia Legislativa endereçaram a Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, ofício solicitando pleito interno já no meio deste ano, quando o mandato de Newton Cardoso Júnior se encerra. O encontro desta quarta está previsto para começar às 10h30.

Opositores fazem duras críticas à gestão de Newtinho, como é conhecido o filho de Newton Cardoso, governador de Minas entre 1987 e 1991. O documento solicitando a intervenção nacional contempla diversas acusações. Os signatários dizem que o parlamentar tem “estilo absolutista” e não reúne a Comissão Executiva do MDB para tomar decisões. O grupo alega, também, que o presidente estadual utiliza o diretório mineiro como “extensão do gabinete parlamentar” mantido por ele na Câmara dos Deputados.

Se Newton Cardoso Júnior não conseguir mais um ano de mandato, o MDB precisará constituir comissão provisória para promover nova eleição. Caso isso aconteça, o atual presidente pode participar da disputa para tentar voltar ao comando.

“Se ele (Newton Cardoso Júnior) ganhar, tudo bem. Mas tudo indica que ele não ganha a eleição. Ele está levando o partido só para proveito próprio e não tem trabalhado pelo coletivo”, afirma o deputado federal Mauro Lopes, um dos emedebistas ouvidos pelo Estado de Minas.

Outro interlocutor consultado pela reportagem, mas sob a condição de anonimato, ressaltou a indignação das bancadas estadual e federal ante a postura de Newton Júnior. Uma das justificativas trata de suposto “distanciamento” entre a direção do MDB e seus representantes no Legislativo.

Na Assembleia, o MDB tem Leonídio Bouças, Thiago Cota, Celise Laviola, Douglas Melo, João Magalhães, Tadeu Martins Leite e Sávio Souza Cruz. Todos eles assinaram o ofício solicitando a intervenção nacional.

No que tange aos representantes do MDB mineiro na Câmara dos Deputados, fora Mauro Lopes, o pedido de intervenção é subscrito por Hercílio Coelho Diniz. Fábio Ramalho, que foi candidato avulso ao comando do Parlamento Nacional, não assinou.

Procurado, Newton Cardoso Júnior diz, por meio de sua assessoria, esperar que a reunião desta quarta sirva para “que o MDB busque o caminho que promova um maior crescimento do partido em Minas Gerais”.

Extensão de mandatos atingiu Baleia, estados e municípios de MG

A prorrogação dos mandatos têm sido prática recorrente no partido. Em fevereiro, sem a necessidade de nova eleição, Baleia foi reconduzido à presidência nacional até julho do próximo ano.

Ao tratar das extensões, Mauro Lopes diz que expediente do tipo não foi adotado em Minas Gerais por causa da “péssima situação” em que se encontra o partido. Segundo ele, o diretório é “muito mal administrado” por Newtinho.

Mauro é pai de Adalclever Lopes, ex-presidente da Assembleia de Minas e, agora, secretário de Governo de Alexandre Kalil (PSD) na Prefeitura de Belo Horizonte.

Apesar de a Executiva nacional emedebista não ter prorrogado o mandato da comissão estadual, a vigência de gestões municipais foi alongada até o fim de maio.

 Leonídio Bouças, que lidera a bancada do partido no parlamento mineiro, foi ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) solicitar a suspensão do ato. O parlamentar alega que as prorrogações não seguiram o estatuto do partido, que determina consulta prévia à Comissão Executiva da legenda sobre o tema. Ele aponta que a decisão foi tomada unilateralmente por Newton Cardoso Júnior.

Dissolução de gestões municipais gerou mal-estar

Antes das eleições municipais do ano passado, o MDB enfrentou a dissolução de diversas diretorias locais do partido. A decisão, tomada em cidades como Nova Lima, na Região Metropolitana de BH, Igaratinga e Araújo — ambas no Centro-Oeste — deixou lideranças insatisfeitas.

Uma das solicitações da ala antagônica a Newtinho é que o agendamento de convenções municipais seja interrompido. Os filiados argumentam que, por ora, as reuniões servem somente para a “eleição de delegados direcionados à perpetuação da atual gestão”.

Os deputados descontentes com Newton Cardoso Júnior sustentam que as mudanças afetaram negativamente o desempenho da agremiação nas urnas. Em 2016, a bandeira emedebista conquistou 194 prefeituras mineiras; em 2020, foram 98.

À época das dissoluções, o presidente estadual garantiu que as medidas não foram tomadas por motivações políticas. Newton Júnior argumentou que houve casos de infidelidade partidária e ausência de compromissos para o lançamento de candidaturas.