Gustavo Maia
Do UOL, em Brasília
Em nota à imprensa divulgada na manhã desta segunda-feira (30), a Secretaria de Comunicação da Presidência da República afirmou que o "adiamento" da viagem de dez dias do presidente Michel Temer (MDB) à Ásia, prevista para começar nesta quinta (5), foi causado "unicamente" pelo calendário eleitoral do país.
O Palácio do Planalto refutou qualquer relação da mudança na agenda com o inquérito que tem Temer com alvo, em andamento no STF (Supremo Tribunal Federal). "Somente pessoas desinformadas sobre tal circunstância espalhariam versão tão inverossímil", afirma o texto.
A nota diz que as investigações já estão sendo realizadas há 150 dias e que a PF (Polícia Federal), responsável pelo inquérito, pediu de prorrogação de mais 60 dias. Não haveria, portanto, "causa urgente que justifique mudança de agenda".
Apesar de o comunicado informar que a viagem foi adiada, a assessoria de comunicação do Planalto disse que ainda não há nova data definida para que ela aconteça.
O comunicado aponta que a saída de Temer do Brasil "obrigaria" os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), a também deixarem o território nacional simultaneamente, "prejudicando votações importantes" no Congresso Nacional.
Isso porque os dois pretendem disputar cargos eleitorais em 2018 e a legislação eleitoral proíbe que qualquer candidato ocupe cargos no Executivo em até seis meses antes da eleição, marcada para 7 de outubro.
Foi por isso que, no último dia 13, quando Temer viajou para a Cúpula das Américas, no Peru, Maia e Eunício também deixaram o país. Na ocasião, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, assumiu interinamente a Presidência da República, o que estava previsto para ocorrer também durante a viagem à Ásia.
A nota informa que a principal votação que pode ocorrer no período é a que define o remanejamento de verbas orçamentárias e "tem de ser votada até 8 de maio para evitar default (calote) do Brasil por garantias oferecidas a exportações em governos passados". "Isso traria imensos prejuízos a toda a economia brasileira", comentou o Planalto.
Esta é a segunda vez que Temer cancela a ida ao Sudeste Asiático. Na primeira, no fim do ano passado, a desistência se deu por razões médicas.
Investigação da PF avança
Na sexta-feira (30), jornal Folha de S.Paulo publicou reportagem mostrando que a investigação da PF sugere que Temer "lavou" propina por meio de imóveis da família.
O caso é referente ao inquérito dos portos, em que o presidente é suspeito de ter beneficiado empresas do setor por meio da edição de um decreto em troca de propina.
Temer reagiu horas depois, em pronunciamento no Palácio do Planalto, no qual declarou que a suspeita da PF é um "disparate" e uma "perseguição criminosa disfarçada de investigação".
Depois de bater com o punho cerrado no púlpito em que estava por diversas vezes, ele disse que sugeriria ao ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, que investigasse como se deram os vazamentos das informações.
A cobrança logo deu resultado e o ministro divulgou nota avisando que determinou ao diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro, "a imediata apuração" do "possível vazamento". À noite, a corporação então informou que instaurou um inquérito, "cumprindo determinação" de Jungmann.