CERCO FECHANDO

Um grupo de investigadores de extrema confiança da atual cúpula da Polícia Federal trabalhou freneticamente nas últimas horas para finalizar o relatório da apuração que busca elucidar se houve uma tentativa de golpe no Brasil após as eleições de 2022 e, em caso positivo, mapear os cabeças do plano.

Na noite desta quarta-feira, o documento já estava praticamente pronto. O relatório será remetido ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), que em seguida o encaminhará para apreciação do procurador-geral da República, Paulo Gonet. A partir daí, Gonet decidirá se apresenta uma denúncia formal à Suprema Corte contra os envolvidos.

Se o ex-presidente Jair Bolsonaro já tinha motivos para se preocupar depois da operação deflagrada na última terça-feira, 19, tudo caminha para a semana terminar ainda pior para ele.

Sim, a Polícia Federal concluirá que houve uma tentativa de golpe e Bolsonaro será mesmo indiciado como um dos principais responsáveis por maquinações em série que puseram a democracia em risco.O relatório da PF vai amarrar várias pontas, a começar pela propagação de fake news para agitar a militância bolsonarista e criar um ambiente propício para um eventual golpe de Estado. Depois, vai passar pela organização dos acampamentos nas portas de quartéis e pela elaboração da chamada “minuta do golpe”, esmiuçar as reuniões em que integrantes do primeiríssimo escalão do então governo discutiram estratégias para tentar permanecer no poder e, finalmente, chegar na invasão do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal no fatídico 8 de janeiro de 2023.

O plano para assassinar Lula, então presidente eleito, e seu vice Geraldo Alckmin, além do ministro Alexandre de Moraes, também será incluído entre os vários capítulos da trama.

Haverá novidades importantes em relação ao papel de Jair Bolsonaro. São informações que, segundo fontes a par do caso, têm potencial para comprometer ainda mais o ex-presidente do ponto de vista criminal.

Passo a passo, nas várias operações que veio deflagrando do ano passado para cá, a PF foi colocando Bolsonaro cada vez mais na cena do que considera ter sido, de fato, um plano golpista.

A investigação que deu origem à operação de terça passada já trouxe revelações graves, como a que aponta que Bolsonaro não apenas teve acesso como fez alterações na minuta do golpe. Indicou, ainda, que ele tomou conhecimento do plano para matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. O que o relatório final trará agora vai ainda mais além – daí a promessa de que vem nitroglicerina pura.

Em suma, por mais que busque sempre se desvencilhar dos movimentos feitos por aliados não muito próximos e pelos seus principais homens de confiança, Bolsonaro será apresentado pela PF como sujeito ativo de todo o processo.

Serão indiciados também vários dos integrantes de seu estado-maior, como, por exemplo, os generais Walter Braga Netto e Augusto Heleno Ribeiro e o delegado Anderson Torres, todos ministros do governo passado.

Nas últimas semanas, os encarregados da investigação na PF vêm trocando informações com o gabinete de Alexandre de Moraes, relator do caso no STF e, como tal, responsável por autorizar todos os passos da apuração até aqui. Moraes, portanto, sabe, de antemão, de tudo o que virá no relatório.

Desde o começo da investigação, em linha com o gabinete do ministro, a PF entendia que, por mais que tivesse elementos para solicitar medidas mais extremas (como, por exemplo, prisão preventiva) contra Bolsonaro e seus principais auxiliares, incluídos aí Heleno e Braga Netto, o melhor e mais adequado seria reunir tudo, juntar em um relatório bem amarrado, submeter à PGR e esperar que, depois de uma denúncia formal, o Supremo decida, em colegiado, sobre a culpa de cada um e estabeleça as penas.

Foi um cuidado para não inflamar ainda mais o ambiente político. Uma eventual prisão preventiva de Bolsonaro, expedida monocraticamente por Moraes, poderia gerar reações que, além de tumultuar o país, muito provavelmente atrapalhariam outras etapas da investigação. No caso de Braga Netto e Heleno, dois generais bem relacionados até hoje com a alta cúpula militar, o cálculo envolvia ainda o risco de criar atritos com a caserna.

Assim, mesmo que houvesse discordâncias pontuais de um ou outro integrante da equipe encarregada das apurações, o entendimento majoritário sempre foi o de que seria melhor reunir tudo e aguardar por um veredicto definitivo do STF, depois de ajuizada a denúncia pela PGR.

A crença reinante entre as autoridades que trabalham no caso é a de que, com tudo o que há na investigação e que estará cuidadosamente amarrado no relatório final, muito dificilmente os indiciados, Bolsonaro à frente, escaparão de uma sentença pesada a ser estipulada, no máximo até o ano que vem, pelo plenário do STF.