A nova pesquisa XP-Ipespe, feita semana passada, trouxe resultados de pirar o cabeção dos gestores da segurança pública. Para 54% da população a violência no Brasil aumentou em 2019; quase um quarto das pessoas (23%), aliás, acha que aumentou é muito. Só 19% veem diminuição e 2% muita redução. Os demais 23% avaliam que a violência segue igual. Essa percepção se choca com registros oficiais que indicam uma queda de 13% dos assassinatos no ano passado, o maior recuo em 11 anos. O brasileiro se sentiu mais inseguro no primeiro ano de Bolsonaro, apesar da melhora estatística. O que está pegando?

O povo pode estar certo. A redução no número de mortes violentas pode ser fenômeno passageiro, reflexo de um esfriamento temporário na guerra interminável de gangues, e não um processo de reversão sustentada da violência urbana. Ainda é cedo para se cantar qualquer vitória na área. Por outro lado, há motivos de sobra para se acreditar que o país está cada vez mais violento e inseguro. As próprias autoridades, a começar pelo presidente, não perdem oportunidade para se referir a armas e crimes, contribuindo para difundir medo e apreensão.

Neste domingo, o ex-ministro Raul Jugman lembrou em artigo que nossas prisões são controladas pelo crime organizado e funcionam como centros de recrutamento. O Estado não garante a vida dos apenados, que então buscam proteção nas facções. E o sistema passa a operar sob uma lógica perversa: quantos mais presos, mais soldados do crime.

Com 812 mil detentos, o 3ª maior contingente no mundo, o país oferece mão de obra inesgotável ao crime organizado. Nos últimos oito anos, a população carcerária brasileira cresceu 200%. A justiça vem prendendo como nunca e a polícia batendo recordes de tiros e execuções. Pela lógica do sistema, o caldo de cultura da violência só engrossa no país embora as mortes possam ter caído oficialmente. E quem garante a confiabilidade das estatísticas policiais? Ao menos em Minas, como já mostrou Os Novos Inconfidentes, a polícia não tem dados detalhados sobre a própria atuação.

Sim, a percepção popular parece mais realista e consistente que os dados oficiais. Porém, não dá para ignorar a incongruência do cidadão em suas opiniões sobre segurança. Nas pesquisas e nas urnas, ele vem apoiando o aumento de prisões e até as execuções de bandidos, mesmo ciente de que tal política produz mais violência. Afinal, o que o brasileiro quer? Vá alguém entender.