ELEIÇÕES


Os partidos de esquerda começam a se articular para as eleições de 2022. As lideranças políticas defendem a ampla união das frentes para derrotar o presidente Jair Bolsonaro no próximo pleito. Os desafios estão em evitar a pulverização da esquerda e escolher um nome forte para ser eleito. Reconhecer o “fator Lula” também é debatido entre as lideranças. O petista figura, atualmente, como o principal adversário de Bolsonaro e favorito para ganhar as próximas eleições. Uma pesquisa Quest/Genial divulgada na última semana mostra que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em todos os cenários testados para primeiro turno, aparece na liderança com larga vantagem para o segundo colocado, Bolsonaro.


Ao mesmo tempo, a volta de Lula à cena política reposiciona a oposição ao governo atual, enquanto partidos alinhados ao Planalto também foram levados a refletir sobre o novo cenário. Apesar do favoritismo, o ex-presidente ainda não se declarou oficialmente como candidato à Presidência. “É um processo ainda em construção. Nem o próprio PT afirma categoricamente que Lula será candidato. Até porque, quando você se coloca já nessa posição, como o Ciro Gomes está fazendo e o Bolsonaro também, você passa a ser alvo de ataques da direita e da esquerda e até do seu próprio partido”, observa o sociólogo Lejeune Mirhan.


Para o deputado federal Ivan Valente (PSol-SP), os partidos de esquerda têm um só objetivo: tirar Bolsonaro do poder. “É preciso derrotá-lo da maneira mais eficiente possível”, reitera o parlamentar. Valente, que é um dos fundadores do PT, não descarta apoiar uma eventual candidatura de Lula. “O PSol, desde a sua fundação, em 2005, sempre teve candidato próprio. Então, é a primeira vez que deixamos em aberta essa questão. Pode ser o Lula, sim, porque é o candidato mais competitivo neste momento”, declara.


Ivan Valente acredita na união dos partidos de esquerda e defende equilíbrio de interesses das lideranças. “O PT tem que ter a sabedoria de entender que os outros partidos têm as suas aspirações, os seus projetos e que querem derrotar o Bolsonaro também”, pondera.


Na avaliação da deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), a esquerda se dividiu na eleição de 2018 porque não esperava o modo de Jair Bolsonaro governar. “Tínhamos expectativa ainda de convivermos com a normalidade democrática. Mas o país se transformou em negacionismo, ataques à democracia e às instituições. Eu creio que a estratégia da esquerda será a busca pela máxima unidade”, ressalta.


No entanto, oficialmente, as lideranças ainda não bateram o martelo para a escolha de apenas um nome. “Os partidos já têm candidatos explícitos. O PDT, por exemplo, está apostando na candidatura do Ciro Gomes e fechando alianças. O PCdoB também participou de uma densa reunião com o ex-presidente Lula e a direção do PT, em que discutimos a realidade nacional e as expectativas. E acho que, sim, tem grandes chances de uma aliança”, afirma.


Pulverização


Em 2018, vários candidatos da esquerda se candidataram à Presidência da República. Fernando Haddad (PT) disputou o segundo turno contra Jair Bolsonaro e teve 44% dos votos válidos. Guilherme Boulos (PSol), líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), também concorreu e teve 0,58% do total. Na mesma disputa, Ciro Gomes (PDT) conquistou uma parte da esquerda e terminou o primeiro turno em terceiro lugar, com mais de 13 milhões de votos.


Agora, como pré-candidato, Ciro Gomes ainda não discutiu alianças com o PT e outros partidos de esquerda. A expectativa é de que ele se una às lideranças em um eventual segundo turno. Para o cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a esquerda deve se dividir novamente na busca pela Presidência. “Duas candidaturas estão dadas: a do Lula e a do Ciro. Acho muito improvável que o Ciro desista de ser candidato, porque ele vai ter algo em torno de 5% a 15%. Como ele foi candidato várias vezes, tem muito eleitorado, e é um candidato minimamente sólido, acho bastante improvável que ele desista para apoiar o Lula”, ressalta.


Nas últimas eleições, o PSB adotou postura de neutralidade, assumindo apoio ao então presidenciável Fernando Haddad somente no segundo turno, quando Bolsonaro liderava pesquisas. O senador Humberto Costa (PT-PE) afirma que tudo tem encaminhado para uma união entre os partidos. “Tem encaminhado bem uma unidade entre PT, PSB, PCdoB. Não sei como está o PSol, mas, ao que tudo indica, deverá encaminhar a esse possível entendimento no primeiro turno”, destaca. “No segundo turno, eu creio que o PDT também poderá apoiar uma eventual candidatura de Lula. E se tiver Ciro para o segundo turno e o PT não for, podemos apoiar”, declara.


Governadores projetam reajuste ao funcionalismo


Com a proximidade do fim do veto a reajustes salariais de servidores, imposto pelo socorro federal concedido durante a pandemia, ao menos 14 governadores projetam recomposições inflacionárias ou aumentos reais para 2022, ano eleitoral. Parte deles já aprovou projetos que miram determinadas categorias, com destaque para professores e policiais.


No ano que vem, 17 governadores poderão tentar a reeleição. Dois deles ao menos já declararam não ter interesse — os tucanos João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), que disputam entre si a vaga de presidenciável do PSDB. Ambos não preveem aumentos. Entre os demais, nove já anunciaram planos ou debatem a possibilidade, como Wilson Lima (PSC), do Amazonas, que planeja fazer o anúncio no Dia do Servidor, celebrado em 28 de outubro.


“Estamos finalizando os estudos para definirmos os porcentuais do reajuste, que será concedido para todas as categorias. Ao menos a correção inflacionária vamos dar, é inevitável. Em ano eleitoral, as pressões pelo aumento vêm de todos os lados. Mas estamos preparados e com as contas em dia para fazermos isso com responsabilidade”, disse Lima, que afirmou ser candidato à reeleição.


Mesmo sem assumir publicamente a decisão de concorrer novamente, e depois de resistir a dois processos de impeachment, Carlos Moisés (PSL) se movimenta em busca de mais quatro anos à frente do governo de Santa Catarina. Enquanto negocia uma troca de sigla, Moisés enviou dois projetos para apreciação dos deputados com a finalidade de ampliar a remuneração de militares — ele próprio é bombeiro — e professores, em ações de impacto bilionário para os cofres públicos. A estimativa é que o custo alcance cerca de R$ 1,2 bilhão ao ano.


Mas quando se trata de impacto financeiro, o Rio até agora é líder do ranking. Com o caixa reforçado após a venda da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), o governador Cláudio Castro (PSC), que assumiu o cargo após o impeachment de Wilson Witzel (PSC), vai ampliar o gasto com o funcionalismo público em R$ 6 bilhões pelos próximos três anos. A Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) aprovou um projeto, com o apoio do Executivo, que autoriza valorização de 22% para os 432 mil servidores, sem recomposição desde 2014.


Mato Grosso também já aprovou a recomposição salarial de todos os servidores, em 6%. A ação foi assegurada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2022 ao custo estimado de R$ 550 milhões. O secretário da Fazenda, Rogério Gallo, afirmou que as contas suportam a medida que, segundo ele, não tem motivação eleitoral. “O estado recuperou a sua capacidade financeira e de pagamento, e também reduziu abaixo de 49% os gastos de pessoal em relação à receita corrente líquida. Foram estes dois movimentos que permitiram, para o próximo ano, a concessão desses 6,05%, e não um movimento político”, disse.