Divergências quanto à avaliação e ao enfrentamento da pandemia da Covid-19 entre o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) – duas das principais lideranças políticas do Estado –, voltaram a criar mais incertezas do que a dar segurança à população. 

Zema anunciou ontem, em entrevista a uma emissora de TV, que, diante de dados animadores, apontando baixos percentuais de infectados e de óbitos no Estado – onde só 3% dos leitos de UTI estariam sendo usados por pacientes de Covid-19 –, Minas poderia vislumbrar para breve a superação da crise sanitária. 


“Vejo que Minas está em uma situação em que nós já podemos ver, começar a enxergar um momento pós-pandemia”, afirmou. “E estamos já preparando um protocolo exatamente para isso, para dar segurança aos prefeitos de que, no momento de começarmos a fazer uma reativação criteriosa, segura, da economia, eles possam dar os passos com mais consistência”, completou, lembrando que mais da metade das cidades mineiras sequer tem casos da doença.

O otimismo do governador, contudo, esbarrou em entrevista dada quase ao mesmo tempo por Kalil, na sede da PBH, na qual o prefeito descartou qualquer possibilidade de flexibilização da quarentena, pelo menos na capital: “A guerra começou e nos preparamos para ela. Ainda não sabemos onde o inimigo está e a quantidade. É algo realmente assustador, apavorante”, ressaltou.

Mesmo assim, Kalil elogiou os efeitos da quarentena até o momento e disse acreditar que BH será a primeira capital a sair do isolamento no país. Para isso, ele destacou, as estatísticas da Covid-19 serão levadas em conta. “Tudo será feito com base na ciência e orientado pelos especialistas que compõem o comitê de enfrentamento à doença”. A capital tinha, até ontem, 452 casos e oito mortes confirmadas de Covid-19.

Amira Hissa/PBH

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Kalil: Reduzir restrições depende da ciência e da orientação de especialistas

 

Farpas antigas


No mês passado, logo após o surgimento dos primeiros casos da pandemia em Minas, Kalil e Zema, que já vinham se estranhando por causa de providências ligadas aos estragos das chuvas na capital, se indispuseram em debate sobre as medidas de restrição para conter a propagação do novo coronavírus.

Na época, o prefeito acusou Zema de ter recuado na divulgação de ações de isolamento social para frear a doença, temendo apenas os impactos econômicos. 

O governador rebateu, dizendo que o gestor da capital estaria mais preocupado com a política do que com a Covid-19. “Convido aqueles que subiram em palanques para descer. Não é hora de ataques e sim de união. Todos por Minas”, escreveu ele, no Twitter. Kalil contragolpeou durante transmissão online. “Tirar emprego não é populismo, fechar estabelecimento não é populismo, é coragem para fazer o que tem ser feito. Não preciso de palanque, eu preciso de um governador de palavra”, disse. 

 

Gil Leonardi/Agência Minas

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Estado já prepara protocolo para que prefeitos relaxem quarentena

 

Governador diz que alguns colegas quiseram se promover com carta de repúdio a Bolsonaro

O governador Romeu Zema reafirmou ontem, em entrevista à Rede Globo, que não assinou carta aberta conjunta com 20 governadores, contra críticas do presidente Jair Bolsonaro ao Congresso e ao STF, divulgada domingo, por discordar dos colegas. 

Zema, que já havia emitido posicionamento nas redes sociais, disse que haveria “pessoas querendo se promover dentro de uma briga que não é deles”. E chegou a defender Bolsonaro. “O presidente, a gente tem que lembrar, ele pode estar errando em algumas coisas, mas está acertando em outras. E eu aqui é a mesma coisa, e tenho certeza que todos os governadores também”, pontuou. 

“Está havendo parece que um movimento exacerbado, desnecessário, em relação a algumas falas, algumas questões do presidente. Outro dia eu até brinquei: se o presidente arrotar, vai virar motivo para alguém se manifestar”.

Para o governador, seria importante que todas as opiniões fossem respeitadas. “É um direito dele (Bolsonaro) ter a opinião dele, mas pode ser que eu não concorde, até porque não tenho feito isso aqui em Minas. Mas é um direito dele se manifestar. Estamos numa democracia, a riqueza da democracia é a diferença de opiniões. E parece que tem pessoas que estão adotando um totalitarismo contra o presidente, aí eu não concordo também”, acrescentou.


Zema destacou ainda que, “de forma alguma”, teria deixado de assinar o documento de repúdio a Bolsonaro por ser supostamente subserviente ao mandatário maior do Executivo. “O que faço questão é de não entrar em assuntos que não dizem respeito a mim”, ressaltou.