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string(65) "Os desafios para a construção de uma frente ampla de oposição"
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Muito se fala da postura agressiva do governo Jair Bolsonaro em relação aos seus adversários políticos. Não raro, o presidente dá declarações fortes e rechaça o diálogo com quem está fora da base aliada. Desde o fim das eleições presidenciais em 2018, políticos e especialistas defendem a criação de uma frente ampla de oposição capaz de medir forças com o bolsonarismo em 2022.
Recentemente, o ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), publicou no Twitter uma mensagem defendendo a construção de uma frente ampla de esquerda “contra o fascismo”. O petista citou nomes como o prefeito do Recife, João Campos (PSB), o presidente do consórcio Nordeste e governador do Piauí, Wellington Dias (PT) e, ainda o governador de São Paulo, João Dória (PSDB). “Mas uma unidade institucional urgente contra o fascismo e a morte, Dino, Dória, Camilo, Rui, Wellington, Kalil, João Campos poderiam construir já”, destaca um trecho de sua postagem.
Ele não foi o único. Outras lideranças já deram declarações nesse sentido. Entretanto, o movimento continua sem se tornar realidade. Os desafios são muitos. Há as pretensões eleitorais, feridas políticas abertas e ainda o antipetismo, que continua muito presente no eleitorado brasileiro. Nas últimas eleições municipais, em 2020, o sentimento contrário ao PT deu mostras de que permanece forte, com a sigla amargando derrotas em todas as capitais do Brasil. “O antipetismo é mais amplo do que simplesmente o apoio ao presidente Bolsonaro”, afirma a cientista política Mariana Lopes.
A especialista aponta que para uma frente ampla ser competitiva, é preciso evitar o extremismo. “Uma frente forte de oposição a Bolsonaro em 2022 precisa de um discurso que valorize evidências científicas, respeite as instituições democráticas e que tenha sensibilidade social aliada à responsabilidade fiscal. Os cenários onde Bolsonaro perde são os de confronto com uma chapa moderada, por isso, para ter uma oposição competitiva é necessária uma construção nesse sentido”, argumenta.
A criação de um movimento maior de oposição não é algo inédito na história do país. Em 1966, ocorreu a criação da Frente Ampla, uma união de políticos contrários à ditadura instalada no Brasil. O grupo defendia pautas como a restauração do poder civil, o pluripartidarismo, o direito de greve, a Constituinte e as eleições diretas. O movimento reunia nomes como o conservador Carlos Lacerda e seus antigos adversários Juscelino Kubitschek e João Goulart.
Para o cientista político e professor universitário Thales Castro, a formação de uma frente ampla de oposição está cada vez mais em pauta, mas a ideia também pode ser uma faca de dois gumes. “É uma estratégia sagaz, mas ao mesmo tempo problemática. Sagaz porque mostra a perspectiva de você aglutinar forças visando atingir o poder. Mas é problemática porque cada legenda partidária quer ter o seu quinhão”, explica.
Nomes ventilados para liderar o movimento variam
Partidos como PT, PDT, PSOL, PCdoB, PSB e outros já falaram sobre a possibilidade de uma frente ampla. Mas como acomodar tantas siglas diferentes em um mesmo movimento? PT e PDT, por exemplo, têm travado embates desde a última eleição presidencial, especialmente envolvendo dois dos maiores nomes do campo da esquerda e centro-esquerda atualmente: Ciro Gomes (PDT) e Lula (PT).
Os dois, que já foram próximos, romperam em 2018 após a articulação do PT para inviabilizar a aliança do PSB com o PDT nas eleições presidenciais. No final do ano passado, Lula e Ciro se encontraram para restabelecer o diálogo, embora não tenham falado sobre 2022. Além deles, nomes como Guilherme Boulos (PSOL), e o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), aparecem como possíveis lideranças de uma frente ampla. Há ainda quem defenda nomes de “fora” da política, como o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e até mesmo o apresentador Luciano Huck.
Em Pernambuco, o governador Paulo Câmara (PSB) já chegou a ter seu nome ventilado para a eleição presidencial em 2022. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), citou o nome do pernambucano em mais de uma ocasião. Paulo Câmara deixará o governo do estado em 2022 e ainda não definiu qual será o seu futuro político.
Outro político que tem se colocado como oposição ao presidente Jair Bolsonaro é o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Entretanto, para o cientista político Thales Castro, o tucano precisa se tornar mais conhecido fora de São Paulo. “Ele tem zero visibilidade no Nordeste e um índice de rejeição que está crescendo dentro do próprio estado de São Paulo”, diz ele, que aponta o ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta como outra liderança que poderia tomar à frente do processo.
Especialistas defendem mudança de postura do presidente
Desde a aproximação com o Centrão, Jair Bolsonaro ganhou mais força política. Entretanto, a mudança de direção do presidente foi de encontro ao que se falou durante a campanha para a presidência em 2018. Para a cientista política Mariana Lopes, ainda não está claro se a atitude pode afetar as pretensões políticas de Bolsonaro para 2022.
“Precisamos de mais tempo para entender se a percepção das pessoas sobre a economia e o apoio do Centrão terá algum efeito. A pedra no sapato do presidente, que pode enfraquecer o seu discurso é a situação do seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, e seu suposto envolvimento em um esquema de rachadinhas [desvio de salário de assessores]”, pondera.
Entretanto, a governabilidade do presidente pode estar em jogo com a eleição para presidente da Câmara. O atual ocupante do cargo, Rodrigo Maia, e o candidato escolhido por ele, o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), será o adversário do nome apoiado por Bolsonaro, o deputado federal Arthur Lira (PP-AL).
O cientista político Thales Castro acredita que o presidente precisa mudar de postura na saúde e na economia. “Ele deve ter uma estratégia mais saudável com relação à cobertura vacinal. Esse é o primeiro pilar, sobretudo no campo da saúde coletiva. O segundo pilar é a retomada econômica, talvez renovar o auxílio-emergencial, embora isso seja muito contraditório, com a agenda liberal do ministro Paulo Guedes. E por fim, sair das armadilhas que ele próprio cria. Bolsonaro gera inimigos para si mesmo”, finaliza.
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Muito se fala da postura agressiva do governo Jair Bolsonaro em relação aos seus adversários políticos. Não raro, o presidente dá declarações fortes e rechaça o diálogo com quem está fora da base aliada. Desde o fim das eleições presidenciais em 2018, políticos e especialistas defendem a criação de uma frente ampla de oposição capaz de medir forças com o bolsonarismo em 2022.
Recentemente, o ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), publicou no Twitter uma mensagem defendendo a construção de uma frente ampla de esquerda “contra o fascismo”. O petista citou nomes como o prefeito do Recife, João Campos (PSB), o presidente do consórcio Nordeste e governador do Piauí, Wellington Dias (PT) e, ainda o governador de São Paulo, João Dória (PSDB). “Mas uma unidade institucional urgente contra o fascismo e a morte, Dino, Dória, Camilo, Rui, Wellington, Kalil, João Campos poderiam construir já”, destaca um trecho de sua postagem.
Ele não foi o único. Outras lideranças já deram declarações nesse sentido. Entretanto, o movimento continua sem se tornar realidade. Os desafios são muitos. Há as pretensões eleitorais, feridas políticas abertas e ainda o antipetismo, que continua muito presente no eleitorado brasileiro. Nas últimas eleições municipais, em 2020, o sentimento contrário ao PT deu mostras de que permanece forte, com a sigla amargando derrotas em todas as capitais do Brasil. “O antipetismo é mais amplo do que simplesmente o apoio ao presidente Bolsonaro”, afirma a cientista política Mariana Lopes.
A especialista aponta que para uma frente ampla ser competitiva, é preciso evitar o extremismo. “Uma frente forte de oposição a Bolsonaro em 2022 precisa de um discurso que valorize evidências científicas, respeite as instituições democráticas e que tenha sensibilidade social aliada à responsabilidade fiscal. Os cenários onde Bolsonaro perde são os de confronto com uma chapa moderada, por isso, para ter uma oposição competitiva é necessária uma construção nesse sentido”, argumenta.
A criação de um movimento maior de oposição não é algo inédito na história do país. Em 1966, ocorreu a criação da Frente Ampla, uma união de políticos contrários à ditadura instalada no Brasil. O grupo defendia pautas como a restauração do poder civil, o pluripartidarismo, o direito de greve, a Constituinte e as eleições diretas. O movimento reunia nomes como o conservador Carlos Lacerda e seus antigos adversários Juscelino Kubitschek e João Goulart.
Para o cientista político e professor universitário Thales Castro, a formação de uma frente ampla de oposição está cada vez mais em pauta, mas a ideia também pode ser uma faca de dois gumes. “É uma estratégia sagaz, mas ao mesmo tempo problemática. Sagaz porque mostra a perspectiva de você aglutinar forças visando atingir o poder. Mas é problemática porque cada legenda partidária quer ter o seu quinhão”, explica.
Nomes ventilados para liderar o movimento variam
Partidos como PT, PDT, PSOL, PCdoB, PSB e outros já falaram sobre a possibilidade de uma frente ampla. Mas como acomodar tantas siglas diferentes em um mesmo movimento? PT e PDT, por exemplo, têm travado embates desde a última eleição presidencial, especialmente envolvendo dois dos maiores nomes do campo da esquerda e centro-esquerda atualmente: Ciro Gomes (PDT) e Lula (PT).
Os dois, que já foram próximos, romperam em 2018 após a articulação do PT para inviabilizar a aliança do PSB com o PDT nas eleições presidenciais. No final do ano passado, Lula e Ciro se encontraram para restabelecer o diálogo, embora não tenham falado sobre 2022. Além deles, nomes como Guilherme Boulos (PSOL), e o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), aparecem como possíveis lideranças de uma frente ampla. Há ainda quem defenda nomes de “fora” da política, como o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e até mesmo o apresentador Luciano Huck.
Em Pernambuco, o governador Paulo Câmara (PSB) já chegou a ter seu nome ventilado para a eleição presidencial em 2022. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), citou o nome do pernambucano em mais de uma ocasião. Paulo Câmara deixará o governo do estado em 2022 e ainda não definiu qual será o seu futuro político.
Outro político que tem se colocado como oposição ao presidente Jair Bolsonaro é o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Entretanto, para o cientista político Thales Castro, o tucano precisa se tornar mais conhecido fora de São Paulo. “Ele tem zero visibilidade no Nordeste e um índice de rejeição que está crescendo dentro do próprio estado de São Paulo”, diz ele, que aponta o ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta como outra liderança que poderia tomar à frente do processo.
Especialistas defendem mudança de postura do presidente
Desde a aproximação com o Centrão, Jair Bolsonaro ganhou mais força política. Entretanto, a mudança de direção do presidente foi de encontro ao que se falou durante a campanha para a presidência em 2018. Para a cientista política Mariana Lopes, ainda não está claro se a atitude pode afetar as pretensões políticas de Bolsonaro para 2022.
“Precisamos de mais tempo para entender se a percepção das pessoas sobre a economia e o apoio do Centrão terá algum efeito. A pedra no sapato do presidente, que pode enfraquecer o seu discurso é a situação do seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, e seu suposto envolvimento em um esquema de rachadinhas [desvio de salário de assessores]”, pondera.
Entretanto, a governabilidade do presidente pode estar em jogo com a eleição para presidente da Câmara. O atual ocupante do cargo, Rodrigo Maia, e o candidato escolhido por ele, o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), será o adversário do nome apoiado por Bolsonaro, o deputado federal Arthur Lira (PP-AL).
O cientista político Thales Castro acredita que o presidente precisa mudar de postura na saúde e na economia. “Ele deve ter uma estratégia mais saudável com relação à cobertura vacinal. Esse é o primeiro pilar, sobretudo no campo da saúde coletiva. O segundo pilar é a retomada econômica, talvez renovar o auxílio-emergencial, embora isso seja muito contraditório, com a agenda liberal do ministro Paulo Guedes. E por fim, sair das armadilhas que ele próprio cria. Bolsonaro gera inimigos para si mesmo”, finaliza.