Entusiastas e futuros integrantes da UDN (União Democrática Nacional) fizeram neste sábado (24), em Campinas (SP), o primeiro encontro nacional do partido desde o início do movimento de retomada da sigla, extinta em 1965 pelo AI-2 (Ato Institucional número 2), durante a ditadura militar.
O partido ainda espera homologação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para ser refundado.
Um pedido para extinção do AI-2 foi negado pelo tribunal do começo do ano. Agora, os correligionários tentam recriar o partido como uma nova legenda.
Falta, porém, reunir as 500 mil assinaturas exigidas para a criação de um partido. Segundo o presidente da "nova" UDN, Marcus Alves de Souza, no entanto, o processo está evoluindo. "Estamos bem perto disso. Já temos delegados regionais em dez estados", afirmou.
A intenção de Souza é registrar a UDN até junho do ano que vem, para que o partido possa fazer sua convenção e lançar candidatos nas eleições municipais de 2020.
Ele negou que a meta do partido seja arregimentar o clã Bolsonaro, incluindo o presidente, após o desgaste do PSL.
"Nosso objetivo imediato é a homologação. Depois, vamos conversar com pessoas de bem que queiram ajudar o partido. Mas quem entrar vai rezar nossa cartilha. Que não venha ninguém que queira mandar na UDN, porque a UDN não vai ter dono", afirmou.
Do antigo partido, fundado em 1945 como oposição ao governo de Getúlio Vargas, a nova UDN guarda a bandeira de combate à corrupção. Os discursos (de moralidade e conservadorismo) também são parecidos com as ideias que levaram Bolsonaro à Presidência.
Souza até quase parafraseou o lema da campanha do PSL em seu discurso. "Seremos o partido mais sério do Brasil, com Deus no controle".
"Não vamos ser um partido de aluguel. Quem estiver respondendo processo criminal não entra na UDN. E se entrar e se envolver em qualquer denúncia de crime será expulso. Somos a favor do Brasil", afirmou Souza.
Sobre o governo, Souza acredita que Bolsonaro "está no caminho certo". "Estou torcendo para que ele acabe com a corrupção. Falta melhorar um pouco o relacionamento com o Congresso, é o único problema que eu vejo."
Todos os presentes no encontro deste sábado são políticos ou ex-políticos com cargos de vereador ou no Executivo de pequenas cidades.
O presidente, Marcus Alves de Souza, nunca foi eleito para nenhum cargo. "Sempre atuei nos bastidores", disse. Ele foi presidente do PRP no Espírito Santo e sua maior posição foi a de subsecretário da Casa Civil do Estado.
Foi exonerado, em 2016, após denúncias de que tomava de volta parte do salário pago a um assessor. "Fui perseguido porque não quis fazer negociata com prefeituras. Sei que vou ser perseguido de novo. Enfrentei os poderosos e continuarei enfrentando", afirmou. Ele não foi denunciado criminalmente.
Entre os outros participantes do encontro, estão Carlos Aymar, ex-prefeito de Araçariguama (SP); sua mulher e atual prefeita, Lili Aymar, foi cassada pela Câmara da cidade em fevereiro acusada de usar R$ 40 mil em recursos públicos para alugar dois prédios para uso particular. Lili conseguiu retomar o cargo após uma liminar na Justiça.
Embora tenha sido realizado em Campinas, nenhum representante do Legislativo ou Executivo da cidade participou do encontro.
"O preço da liberdade é a eterna vigilância", frase atribuída a Carlos Lacerda, o mais conhecido udenista, foi bastante repetida nos discursos. "Ele foi um profeta. Olha o que está acontecendo hoje", disse Hélio Ribeiro (PSB), vereador em Indaiatuba (SP) e presidente da Associação dos Vereadores da Região de Campinas.