EM MINAS

“Não se preocupe com a vida dos outros, não fale mal de ninguém”: este é o terceiro de 10 mandamentos para vencer na vida descritos em uma das últimas páginas do livro “Zema: a história de um nome”. A obra editada e distribuída pela rede de varejo da família conta a história da linhagem desde a partida na Itália e a chegada no Brasil no fim do século 19 até sua consolidação em Araxá. Tem alguns pontos interessantes que ajudam a entender a formação sanguínea de Romeu Zema, o filho mais pródigo do clã, que chegou à condição de governador de Minas Gerais por dois mandatos, reeleito para o segundo ainda no primeiro turno. Esta coluna, porém, vai se ater ao princípio citado na primeira linha e ao fato de que Romeu é simplesmente incapaz de cumpri-lo.

Semana após semana, mês após mês, o governador de Minas Gerais mostra que não há limites para sua capacidade de atrelar toda e qualquer mazela que assole o Brasil ao Partido dos Trabalhadores (PT) e, por conseguinte, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Só nos últimos 30 dias, ele conseguiu criticar o governo brasileiro ao comentar a morte de Juliana Marins na Indonésia, comemorou a derrubada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), disse que PT e Psol querem transformar “bandido em mocinho” ao elogiar um projeto de seu chapa gaúcho Marcel Van Hattem (Novo-RS)... Tudo isso salpicado com uma manifestação de solidariedade a Israel aqui e um incompreensível anúncio de show privado da banda de gosto duvidoso “Imagine Dragons” acolá.

Mas o novo malabarismo da retórica antipetista de Romeu Zema é atrelar Lula ao tarifaço de Trump. Sim, a medida de delinquência diplomática que ataca a soberania brasileira e começa sua argumentação citando Jair Bolsonaro (PL) e atrelando o julgamento do ex-presidente à punição comercial pretendida ao Brasil também é culpa do “petê”.

O governador mineiro se pronunciou duas vezes sobre o tema. Na segunda, ele até diz que a medida da Casa Branca é injusta, mas só porque prejudica todos os brasileiros, incluindo quem votou contra Lula. Nas duas manifestações, ele deixou claro que o petista é a causa magna de todas as moléstias que caem sobre o país, com uma dose de ajuda de Janja e, claro, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nada amolece Zema em sua cruzada antipetista, nem o avassalador impacto do tarifaço para a indústria mineira e no agronegócio que ele tanto tem exaltado (ele até brincou sobre mudar o nome do estado para “Agro Gerais”). Até Flávio Roscoe, presidente da Fiemg, que começou a semana chamando o trabalhador CLT de “idiota”, baixou o tom e mostrou preocupação com a medida tresloucada de Trump. Zema, não.

Romeu Zema governa o segundo estado que mais exporta no país e lidera um governo que se orgulha de ter fechado o primeiro semestre de 2025 com US$ 21,5 bilhões arrecadados enviando nossos produtos para o mercado internacional. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro nesta empreitada, responsável por 12,4% das transações. Por que não discutir tecnicamente o impacto que o tarifaço pode ter para os mineiros?

No mês passado, Zema passou duas semanas na Ásia, com agendas na China. O gigante oriental é responsável por 37,9% das exportações de Minas Gerais, nosso principal parceiro comercial. O governador tinha a carta na manga para dizer que está em sintonia com as transformações da economia global, que trabalhou para que o estado consiga sobreviver a medidas como a sobretaxa anunciada por Trump por mérito de sua gestão. Mas preferiu não fazê-lo e dobrou sua aposta na manifesta subserviência aos Bolsonaro tanto no Brasil quanto nos EUA.

Ao longo da última semana, o EM divulgou resultados de levantamento realizado pela Opus Consultoria & Pesquisa que mostram que os belo-horizontinos rejeitam em mais de 70% as postagens de Zema com intuito único de ataque político aos seus rivais eleitorais. A piadinha com o Lula reborn conseguiu ser criticada por três quartos da população de uma cidade em que 60% da população reprovam o trabalho do petista. Destes, 40% consideram o trabalho do governo federal péssimo. Talvez seja a hora de virar o disco para Romeu Zema, hora de focar no próprio trabalho e não nas críticas, hora de fazer o mandamento “não se preocupe com a vida dos outros, não fale mal de ninguém”.

Simões conta com PSD

Durante o evento Conexão Empresarial realizado em Cachoeira do Campo na última sexta-feira (11/7), o vice-governador Mateus Simões (Novo) comentou sobre suas costuras políticas para concorrer ao governo estadual em 2026. Ele voltou a dizer que o PSD, aliado do PT nos últimos pleitos em Minas, estará ao seu lado no ano que vem. “Tenho certeza de que o PSD vai acabar caminhando conosco. Certeza porque eles caminham conosco desde o primeiro mandato do governador Zema. Na reeleição, os deputados estavam ao nosso lado, mesmo tendo um candidato dentro do partido que era o (Alexandre) Kalil”.

Unificação da direita

No mesmo evento, Simões reiterou sua defesa de uma unificação da direita em torno de seu nome, tratou as negociações com o PL como pacificadas e o apoio do senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) como uma tratativa em aberto. “Não unificar em Minas seria um risco, porque a gente abriria espaço para que a esquerda, que aqui está morta, pudesse lançar alguém com cara de centro para tentar convencer os distraídos”, argumentou.

Capital do grau

Talvez você não saiba, mas BH é oficialmente a capital nacional do grau, manobra em que motociclistas levantam a roda dianteira do veículo e andam apenas com a traseira no chão. A homenagem, aprovada pelo então vereador e hoje deputado estadual Bim da Ambulância (Avante), está em vias de ser extinta por um novo projeto de lei, desta feita assinado por Sargento Jalyson (PL), que quer revogar o título da capital.Debate importante.