PRIMEIRO ESCALÃO

Pesquisa realizada pelos institutos Aleias, Alziras, Foz e Travessia Políticas Públicas mostra que apenas 28% dos cargos de primeiro escalão nos estados e nas suas capitais são ocupados por mulheres. Em Minas Gerais e em Belo Horizonte, o percentual é ainda menor. Na administração estadual, 17% das secretarias são chefiadas por mulheres, enquanto na municipal, a presença feminina no comando chega a 19%.

Minas é o quinto estado com menor representatividade, de acordo com o levantamento. Somente Rondônia, Tocantins, Paraná e Mato Grosso possuem percentuais ainda piores.

Na outra ponta do ranking está Alagoas, com pouco mais da metade das secretarias ocupada por mulheres.

O trabalho ainda aponta que 53% das mulheres que alcançaram esses cargos no país estão inseridas em pastas relacionadas ao serviço social e saúde, e 41% delas têm vínculo partidário. Considerando apenas o secretariado do governador Romeu Zema (Novo), os dados se confirmam.

Três das 14 secretarias de Minas são comandadas por mulheres: Meio Ambiente, por Marília Carvalho; Desenvolvimento Social, por Alê Portela (PL); e Planejamento e Gestão, por Luísa Barreto (Novo), que disputou o cargo de vice-prefeita de Belo Horizonte na chapa liderada por Mauro Tramonte (Republicanos) no último pleito a prefeito da capital mineira.

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No ranking das capitais, Belo Horizonte é a sétima no país com menor número de mulheres em cargos de primeiro escalão. Na capital mineira, 81% das secretarias são ocupados por homens, contra 19% por mulheres. A melhor capital em termos de representatividade feminina é Natal (RN), com 52% das pastas sendo geridas por mulheres.

BH repete o número do estado e também tem apenas três secretarias geridas por mulheres em um total de 16 pastas: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico é comandada por Chyara Sales; Adriana Branco chefia a pasta municipal de Esportes; e Eliane Parreiras é secretária de Cultura do município.

Desafio para Minas

Em 2025, 8% das prefeituras mineiras serão comandadas por mulheres. A doutora e pesquisadora em gênero Bruna Camilo afirmou, em entrevista ao EM, que garantir a diversidade em cargos públicos é um desafio, sobretudo em Minas Gerais. “É algo estabelecido, Minas Gerais é um estado conservador em relação aos costumes e à própria política. Não conseguimos superar o entendimento de que os homens estão mais preparados para cargos na política, estamos em passos muito lentos”, disse.

“Não é que os homens sejam incapazes de ter um olhar diversificado, mas eles se mantêm conservadores em pensar mais em números, em não se atentar à diversidade das secretarias, por exemplo. Não existe um avanço sobre onde as mulheres estão inseridas. A maioria (delas) está em cargos de secretarias de assistência social”, afirmou.

Durante agenda com coletivos de mulheres na última quarta-feira (22/10), a quatro dias da eleição, o prefeito Fuad Noman (PSD) afirmou que a formação de um secretariado com representatividade feminina ainda não é uma preocupação. “Temos mais mulheres na coordenação das regionais e um número bom delas nas secretarias. A gente não vai conversar sobre secretariado agora, vamos ganhar a eleição primeiro. E procurar profissionais mais competentes; e se forem mulheres, muito bom”, declarou.

Cor e raça

No cenário nacional do Censo Secretárias Brasileiras – como foi batizado o levantamento feito pelos institutos –, quando analisado o recorte de cor e raça, a maioria é branca, totalizando 57%; 38% são negras, 3%, indígenas; e 2%, amarelas.

Na Região Sul do país, apenas 2% das secretárias são negras. No Centro-Oeste, são16%. Já o Sudeste do país registra 28% de mulheres negras em cargos de secretaria. Na Região Nordeste, 46% das mulheres em cargos de primeiro escalão são negras. O Norte do país é a região que chegou mais perto da equidade racial no grupo feminino que ocupa esses cargos, com 52% de representatividade negra.

Os números ainda apontam que, em todo o país, 95% das mulheres são heterossexuais; 53%, católicas; e 63% têm de um a três filhos. Para Marina Barros, diretora do Instituto Alziras, esses números evidenciam barreiras estruturais que continuam a impedir a ascensão feminina em posições de maior influência.

“Apesar de as mulheres terem conquistado espaço em algumas áreas, sua subrepresentação nos cargos de primeiro escalão continua preocupante. A falta de diversidade nessas áreas impacta diretamente a qualidade das políticas públicas”, afirmou.

Nível de escolaridade

A pesquisa também aponta que 43% das secretárias possuem especialização; 26% têm mestrado; e 10% concluíram doutorado. Dentre as mulheres negras, essa qualificação é ainda mais elevada, com 44% delas tendo especialização; e 32%, mestrado. Além disso, 66% das secretárias possuem 21 anos ou mais de experiência profissional, e 61% passaram a maior parte de suas carreiras no setor público, com 67% já atuando no setor antes de assumir o cargo de secretária.

Luana Dratovsky, diretora-executiva do Instituto Aleias, explicou que, para chegar a esses cargos, as mulheres precisam de capital político. "Elas precisam ser nomeadas. E quem nomeia está no alto escalão do poder executivo, em sua grande maioria formada por homens. Parece não ser suficiente que elas tenham anos de experiência e formação, se quem tem a caneta na mão não se compromete em trazer mais mulheres para esses cargos”, disse.

"O que vemos é que as secretárias estaduais e das capitais são mulheres extremamente qualificadas, com uma longa trajetória no setor público e experiência de gestão, formulação e implementação de políticas públicas. Esse é um retrato que vemos em outros níveis e setores também, considerando que as mulheres na sociedade brasileira possuem mais anos de formação escolar do que os homens", ressaltou Esther Le Blanc, diretora-executiva do Instituto Foz.