Brasil247 - O escândalo da provável nomeação de Sergio Moro como ministro da Justiça ganha nova dimensão com a notícia de que o convite foi feito por Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral. A revelação foi feita pelo general Hamilton Mourão, vice-presidente eleito, em entrevista aos jornais Valor Econômico (aqui) e Folha de S. Paulo: "Isso (o convite) já faz tempo, durante a campanha foi feito um contato", disse Mourão nesta quarta-feira, ao falar sobre o convite a Moro, detalhando que o contato foi feito por Paulo Guedes a pedido de Bolsonaro. Em 1 de outubro, menos de uma semana antes do primeiro turno, Moro quebrou o sigilo da delação premiada de Antonio Palocci e ordenou sua divulgação para a imprensa com o objetivo de prejudicar a campanha do PT (aqui).
Moro está no Rio de Janeiro desde as 7h30 desta quinta-feira (1) para reuinir-se com Bolsonaro e definir sua ida ao Mnistério da Justiça. O convite de Bolsonaro e a reação entusiasmada de Moro está causando enorme escândalo no meio jurídico, na política e até na imprensa conservadora que sempre apoiou a Lava Jato, agravado agora com a revelação de que houve uma trama durante a campanha eleitoral.
O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta, reagiu à entrevista de Mourão no começo da manhã: É de uma gravidade espantosa a revelação de Mourão. É prova testemunhal da relação criminosa e perversa entre a Lava Jato e Bolsonaro. Quando Moro vazou a delação de Palocci, já sabia que se Jair Bolsonaro fosse eleito ele seria ministro".
Veja a sequencia de tweets de Pimenta sobre o caso:
O ex-ministro da Justiça no governo Dilma, Eugênio Aragão, falou sobre o caso ao Brasil de Fato: "Isso apenas confirma tudo o que a gente disse até hoje, de que verdade ele não era juiz. Ele estava atrás de uma vantagem pessoal para sua carreira, cultivando a sua vaidade e, na verdade, chegou onde ele conseguiu chegar".
Segue a reportagem:
A opinião é compartilhada por Cláudia Maria Barbosa, professora de direito constitucional da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Mas ela alerta que, após empossado no cargo político, os abusos de Moro não terão o mesmo tratamento que tiveram na magistratura.
"A ocupação, pelo juiz, do Ministério da Justiça, escancara a politização indevida do Judiciário, e isso já é um sinal para que a população e a própria imprensa esteja atenta. Por outro lado, o Ministério da Justiça não é o Judiciário. Então, as garantias de imunidade que, enquanto juiz, o Sérgio Moro teve quando cometeu excessos e abusos, ele não teria dentro do Ministério da Justiça, afinal é um cargo de livre nomeação, mas também de livre destituição".
Aragão relembra os vários casos controversos em que o juiz Moro extrapolou suas atribuições para "perseguir" Lula e seus familiares.
"Do ponto de vista ético, é algo lamentável. Do ponto de vista da história do senhor Moro, na verdade, isso prova apenas que o crime compensa. O que ele tem feito ao longo do processo da Lava Jato em relação ao Lula e sua família foi criminoso. Abriu sigilos que foram quebrados de forma ilegal, fora do período autorizado, deu publicidade a conversas particulares entre Dona Marisa e seu filho. Moro foi tudo menos um juiz. Ele foi mais um carrasco do que um juiz. Depois, aquele episódio em que ele protagonizou uma disputa com o desembargador Favretto, saindo de suas férias, despachando sem qualquer competência e determinando a Polícia Federal a não cumprir uma decisão de um desembargador. Por fim, também, no que diz respeito a este desafio, Moro não está no tamanho dele. Ele é uma pessoa pequena, que prova apenas a pequenez do governo ao qual ele irá servir".
O ex-ministro afirma que o aceitamento de Moro ao cargo pode servir como mais um argumento de suspeição do juiz Moro para julgar os processos relacionados ao ex-presidente Lula. Mas pondera que a decisão final caberá às cortes superiores, que até o momento não têm assumido sua responsabilidade.
"Aqui, mais uma vez, nós teríamos uma arguição de suspeição do Sérgio Moro. Já foram interpostas várias arguições de suspeição. Todas elas flagrantes, por opiniões que ele deu publicamente, pela forma como ele procedeu. Podemos até arguir, mas resta saber se o Judiciário vai assumir a sua responsabilidade. Infelizmente, até agora, não fez".