OBITUÁRIO


O ex-deputado federal do MDB, Marcos Tito, que teve seu mandato cassado em 1977 pelo Ato Institucional nº 5, no período da Ditadura Militar (1964-1985), morreu na madrugada desta quarta-feira (2), aos 82 anos, segundo familiares. Marcos era irmão do colunista do jornal O TEMPO, Luiz Tito. O corpo será velado das 9h às 12h na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Em seguida, ele será cremado no Cemitério Parque Renascer.  

O ex-deputado lutava contra uma câncer há 14 anos. O irmão, Luiz Tito, ressaltou o legado do irmão. "Perdemos o Marcos, o Marquinhos, o Marcos Tito, o Tito, como era conhecido, mas reconhecido sobretudo como o amigo Marcos de todos com quem ele conviveu. Em tudo que ele foi, vai nos fazer muita falta', disse.   

Marcos Wellington de Castro Tito nasceu em Belo Horizonte no dia 22 de setembro de 1940, filho de Fábio Tito e de Elisa de Castro Tito. Foi casado com Ivone Amélia Peixoto Queiroga, já falecida, com quem teve três filhos. 

Marcos Tito cursou o secundário nos colégios Anchieta e Municipal na capital mineira e, em 1966, formou-se em Direito pela PUC Minas, onde foi líder estu­dantil.


Em 1970, elegeu-se deputado estadual pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB).  Empossado em fevereiro do ano se­guinte, na Assembléia mineira  foi vice-presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente e integrou, entre outras, as co­missões Elaboradora do Estatuto do Magisté­rio de Minas Gerais e Elaboradora do Código Tributável de Minas Gerais, de Constituição e Justiça e de Economia, atuando ainda co­mo vice-líder do MDB e membro de sua co­missão executiva em Minas Gerais.

 
Quatro anos depois, em 1974, foi eleito deputado federal também pelo MDB, assumindo, em feve­reiro do ano seguinte, seu mandato na Câmara dos Deputados. Marcos Tito ligou-se à corrente dos “autên­ticos”, ala de esquerda do partido.  Nessa legislatu­ra, integrou a Comissão de Minas e Energia e a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Minérios. Além disso, foi relator do Acordo Atômico Brasil-Alemanha e presidiu a Comissão de Finanças da Câmara em substituição ao deputado Camilo Nogueira da Gama, falecido em julho de 1976 durante o recesso parlamentar.

O deputado federal Marcos Tito teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos por 10 anos durante a Ditadura Militar (1964-1985). Ele foi acusa­do de ter embasado seu discurso em artigo do jornal Voz Operária, do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O discurso foi feito na tribuna da Câmara dos Deputados em maio de 1977 e, 48 horas depois, foi denunciado pelo deputado Sinval Boaventura como manifesto do Partido Comunista. Em junho desse mesmo ano, teve o mandato cassado pelo presidente da Repúbli­ca Ernesto Geisel (1974-1979), com base no Ato Institucional n°. 5 (AI-5), instituído em 13 de dezembro de 1968. O texto lido na tribuna havia sido plantado pelos militares e não passava de uma armadilha para o parlamentar. As forças mais radicais do regime criaram uma crise artificial.

Quatro décadas depois, um ex-integrante do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa) revelou a trama sobre como um complô foi armado para que Marcos Tito e Alencar Furtado perdessem os mandatos. A crise que levou à cassação dos dois últimos mandatos de deputados federais com base no AI-5, em 1977, foi o resultado de uma conspiração montada por integrantes da comunidade de informações da ditadura militar. O objetivo inicial do governo era se livrar de Marcos Tito por ele estar assumindo uma posição que estava incomodando muito os militares.

 
Logo após a cassação, Marcos Tito disse, por meio de uma nota, na casa de sua mãe, em Belo Horizonte: "Não sou como querem um comunista mas como democrata espero que os comunistas, tanto como os macartistas que aí estão possam participar da vida institucional. Estamos no limiar de novos dias".

Para o jornal O Estadão, que revelou o complô contra seu mandato, Marcos Tito contou contou que fazia uma oposição "muito dura à ditadura" e "denunciava torturas e mortes". Segundo Tito, os militares usaram o pretexto de que ele tinha o apoio dos comunistas para cassar seu mandato. "Não me arrependo nada do que fiz. Podem vasculhar minha vida; não tem nenhum ato de desonra", afirmou nessa entrevista.

Os impactos da cassação foram muitos. Marcos Tito contou que era jovem, tinha 37 anos, um mandato e um cargo no Estado. Ele foi aposentado com 10% do salário e teve que ir morar na casa de sua mãe, pois estava sem condição de sobreviver. "Voltei à advocacia, mas as pessoas tinham medo de procurar meu escritório, porque naquela época o medo intimidava as pessoas. Morei dois anos com minha mãe para reorganizar minha vida", contou.

 
Em 1978, fez parte do Comitê Brasileiro pela Anistia, sendo também advogado de presos políticos e de jornais da chamada imprensa alternativa, como O Pasquim e Movimento. Em agosto de 1979, com a assinatura da Lei da Anistia pelo general João Batista Figueiredo, foi beneficiado pela medida, ingressando meses depois, no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), legenda que surgiu após a extinção do bipartidarismo em novembro de 1979 e a conseqüente reorganização partidária. Em novembro de 1982, Marcos Tito foi candidato a deputado estadual pelo PMDB, quando obteve apenas a quinta suplência.

No ano seguinte, foi nomeado pelo governador Tancredo Neves diretor administrativo da Companhia de Ampliação de Construção e Reparos de Prédios Escolares, cargo que ocuparia até setembro de 1997. Participou ativamente da campanha das Diretas Já, percorrendo o território mineiro fazendo palestras em defesa do restabelecimento das eleições diretas para a presidência da República.

Em 1985,  exerceu o mandato de deputado estadual na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Disputou uma vaga de deputado estadual constituinte no pleito de novembro de 1986, mas ficou como suplente. Ainda em 1986, foi nomeado vice-presidente da Florestas Rio Doce, empresa subsidiária da Companha Vale do Rio Doce, com sede em Belo Horizonte.

 
Membro do diretório regional do PMDB desde a fundação do partido, tornou-se presidente da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais em maio de 1999, no governo de Itamar Franco.

Publicou O poder (1975), Em defesa da cultura brasileira (1975), Em defesa do painel Tiradentes (1976), Parecer sobre o acordo atômico Brasil-Alemanha (1976) e Temas parlamentares (volumes 1 e 2 em 1976 e 1977).