Demitido no governo, atacado por bolsonaristas e forçado a reinventar a sua vida, Sérgio Moro foi se escorar em parceiros de primeira hora, os mais fieis. E virou colunista da Crusoé, revista do site O Antagonista. Ali ele está em casa. Mas ficou mais exposto. Rasgou de vez a fantasia do moralista e justiceiro.

A nova coluna, que estreia na sexta, 19/6, confirma as denúncias do The Intercept Brasil, que contestou a isenção de Moro como juiz da Lava Jato ao revelar gravações de conversas sigilosas na força-tarefa. A partir dessas gravações soube-se que Moro costumava vazar informações sobre as operações para O Antagonista.

A imagem de Moro como paladino da moral e da justiça começou a ruir quando ele abandonou a magistratura e a Lava Jato para integrar o governo do adversário do candidato que julgou e prendeu na campanha eleitoral. Aí ele já indicou que tinha lado e partido na Lava Jato: era pró-Bolsonaro e anti-Lula. O escândalo posterior das gravações evidenciou ainda mais essa falta de isenção do ex-juiz.

Agora, sem ministério e sem magistratura, Moro confirma em definitivo que agiu premeditadamente para influenciar a versão da mídia sobre o combate à corrupção. Para espetacularização das operações policiais e decisões judiciais, antecipava detalhes à imprensa amiga. E o principal beneficiário dos vazamentos, citado nominalmente, é justamente O Antagonista. Aliás, na campanha de 2018, este site foi um dos mais ardorosos defensores de Bolsonaro e críticos de Lula e do PT.

As relações com Moro foram decisivas para o sucesso de O Antagonista. Furos de reportagem e notícias exclusivas são a essência do jornalismo. As informações recebidos com antecedência por meio de Moro turbinaram a audiência do site, que explodiu em cliques com a sua cobertura da Lava Jato. O jornalista Diogo Manairdi e sócios têm mais que escancarar as portas do seu site para Moro. O ex-juiz e ex-ministro fez tudo por merecer deles toda a gratidão e consideração.