247 - O PSDB é um partido de sorte. Tem um ministro do STF para chamar de seu, Gilmar Mendes, especialistas em habeas corpus para tucanos -o último foi o super operador Paulo Preto. E tem Sérgio Moro. Depois de festejar o sucesso do golpe de Estado com Aécio Neves numa festa em dezembro de 2016, ontem e hoje (16) foi a vez das poses ao lado de João Doria, todo sorridente, envergando um smoking apropriado para este tipo de encontro de milionários.
O juiz viajou a Nova York para duas solenidades. Recebeu ontem o prêmio de "Personalidade do Ano" da Câmara de Comércio Brasil-EUA, um dos caça-níqueis (ou caça-milhões) mais manjados do mercado. Hoje, Moro será uma das estrelas de um evento do Lide, uma organização de João Doria voltada para lobbies de todo tipo e aproximação entre empresários, banqueiros e políticos -o tema são sempre negócios, ou "business", como prefere o ex-prefeito de São Paulo, agora candidato a governador e aspirante a candidato a presidente, de olho na vaga de Alckmin como as aves de rapina ao sobrevoarem carniça.
No evento de Doria, Moro será a estrela ao lado do inacreditável Carlos Marun, ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, o "pit bull" de Temer e que se tornou nacionalmente conhecido por defender Eduardo Cunha de maneira agressiva e com expressões vulgares dirigidas aos adversários. O encontro do Lide é como uma peça de ficção, com o título de "A Retomada do Crescimento no Brasil" -num país cuja economia está em crise profunda. A palestra de Moro é puro nonsense: "Fortalecimento das instituições para o crescimento do Brasil” -num país cujas instituições estão em frangalhos depois do golpe de Estado que teve participação expressiva do juiz da Lava Jato.
Numa entrevista recente, Moro chegou a dizer-se "arrependido" da foto ao lado de Aécio. Mas repete a dose agora, com Doria. A performance de Moro incomodou até os arautos do golpe. O colunista Josias de Souza, do UOL, um dos mais estridentes jornalistas da linha de frente da direita, reclamou: "Espera-se de um juiz que tenha um comportamento recatado. Se Moro foi sincero ao expressar o arrependimento que a foto com Aécio lhe causou, as imagens com Doria constituem indício de que, para o magistrado, é errando que se aprende... A errar."
Ao receber o prêmio da Câmara de Comércio, ontem à noite, Moro encenou humildade e recato: "Quando recebi o convite, pensei se deveria aceitar. Não sei se um juiz deve chamar este tipo de atenção. Judiciário e juízes devem atuar com modéstia, de maneira cuidadosa e humilde". Na platéia, cerca de mil pessoas, entre empresários, banqueiros, lobistas... e tucanos. Cada mesa "vip" do evento, próxima à mesa do homenageado, custou a bagatela de 26 mil dólares. Foram arrematadas pelos bancos brasileiros de varejo e outras grandes empresas favorecidas pelo golpe de 2016.
Na viagem estrelada do casal Moro, entretanto, não há nada da "modéstia" e "maneira humilde" anunciadas pelo juiz no discurso. Moro está hospedado num dos hotéis mais caros de Nova York, o The Pierre. Uma diária não sai por menos de R$ 3 mil. Ele e a mulher viajaram à cidade de classe executiva, a um preço aproximado de R$ 4.500,00 per capita. Isso sem contar almoços, jantares, compras. Uma "esticada" que não custa menos que 20 ou 30 mil reais. Ora, o salário bruto de um juiz é de R$ 33.763,00, sem os descontos de Imposto de Renda e Previdência Social. Sabe-se que Moro, por conta do "bolsa juiz" (auxílio moradia mesmo tendo apartamento próprio em Curitiba, vale refeição e outros benefícios), juiz teve salário bruto médio de R$ 45.056,49 em quase todos os meses de 2017, levando para casa, líquidos, ao redor de 30 mil reais (leia aqui).
Salário de 30 mil reais líquidos, viagem a Nova York equivalente a um mês de salário... O que suscita uma pergunta: quem arcou com os custos da viagem do casal Moro?