CONSTRANGIMENTO

Ministras do governo Lula relataram terem sido barradas, em ocasiões diferentes, no Palácio do Planalto, por seguranças e funcionários terceirizados. Elas atribuíram os episódios a “preconceitos e discriminação” diários vividos pelas mulheres.  

Os relatos são da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, e da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, que narram os casos na última quinta-feira (27) no Palácio do Planalto, durante a instalação da Comissão de Combate às Desigualdades do Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável, o chamado "Conselhão". Elas não deram muito detalhes das situações.  

Cida Gonçalves contou que em alguns casos, foi preciso ser identificada pelas assessoras de imprensa diante da situação constrangedora. “Eu sempre brinco: tem dia que eu chego ao Palácio (do Planalto) e os seguranças não me deixam entrar. Eles falam assim: ‘Não, a senhora entra por aquela porta ali’. Aí, eu falo para eles: ‘Olha, eu não tenho cara de ministra, não tenho tamanho de ministra nem me visto como ministra, mas eu sou ministra. Lamento’”. 

O Palácio do Planalto possui vários acessos. A entrada de autoridades é diferente do local do público comum. Ainda assim, em todas as portarias, é preciso passar por seguranças, detetores de metal. Os elevadores inclusive são diferentes. Na edificação,  despacham o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais); Márcio Macedo (Secretaria-Geral de Governo) e vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). O Palácio do Planalto também é palco para várias agendas públicas para anúncios, reuniões e lançamentos de programa.  

“Faz parte dos preconceitos e das discriminações”, reportou Cida Gonçalves. “O que acontece no Palácio acontece em todos os lugares, inclusive no meu ministério. São questões que temos que estar atentas cotidianamente”. 

Sem dar muitos detalhes também, Esther Dweck contou que passou por situações parecidas. E citou, por exemplo, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que é uma mulher negra e deve passar por situações até piores. Anielle também estava no evento.  

“Quando a Cida falou aqui que ela é barrada no Palácio… Eu sou barrada no Palácio, a Anielle é barrada no Palácio”, afirmou. “E, muitas vezes, o servidor, o terceirizado que fica ali na segurança (…), a pessoa que está ali não tem nenhuma responsabilidade por estar tendo aquela reação, porque isso é fruto de uma cultura na sociedade brasileira de não imaginar determinadas pessoas em determinados espaços”. 

Em seguida, Cida Gonçalves relatou que Anielle deve ter mais dificuldade de “convencer todo mundo que é ministra” por ser negra. Nesse sentido, elencou que o ministro Silvio Almeida (Direitos Humanos) deve passar por situação parecida diante de estereótipos.   

A ministra da Gestão afirmou que não é culpa do funcionário da segurança, mas sim de uma "cultura da sociedade brasileira de não imaginar determinadas pessoas em determinados espaços". 

Esther Dweck pontuou que “não é culpa” do funcionário da segurança, mas sim de uma "cultura da sociedade brasileira” de não enxergar determinadas pessoas em certos espaços. 

Fonte: O TEMPO