CASO DAS JOIAS

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, planeja confessar à Justiça que fez parte de um esquema ilegal de venda de joias nos Estados Unidos e apontar Bolsonaro como o mandante da operação. A informação foi publicada nesta quinta-feira (17) pela revista Veja.

Segundo a publicação, Cid vai confirmar que após vender as joias que deveriam ir para o patrimônio da Presidência da República, por terem sido presentes de governos estrangeiros, entregou ao ex-presidente o dinheiro em espécie, para não deixar rastros no sistema bancário.

Além disso, o tenente-coronel vai dizer que estava apenas cumprindo ordens de Jair Bolsonaro. O próprio advogado de Mauro Cid, o criminalista Cezar Bittencourt, teria confirmado a confissão à revista.

Um exemplo usado pelo advogado foi a venda de dois relógios de luxo por US$ 68 mil, das marcas Rolex e Patek Philippe, em que Bolsonaro teria dito a Cid: “resolve lá”.

“A relação de subordinação na iniciativa privada é uma coisa. O funcionário pode cumprir ou não. No funcionalismo público, é diferente. Em se tratando de um militar, essa subordinação é muito maior”, disse Bittencourt à revista.

No caso dois dois relógios, teria sido adotada a solução de usar a conta bancária, nos Estados Unidos, em nome de Mauro Lourena Cid, pai do então ajudante de ordens. Depois, os valores seriam enviados ao Brasil.

Em diálogo travado em fevereiro deste ano, Mauro Cid avisa ao pai que Bolsonaro estaria indo a Miami e sugere ao então presidente dormir na casa de Lourena Cid. Segundo o militar, o pai entregaria, pessoalmente e em espécia, US$ 25 mil ao ex-mandatário.

“A questão é que isso pode ser caracterizado também como contrabando. Tem a internalização do dinheiro e crime contra o sistema financeiro”, disse Bitencourt.

O advogado de Cid estaria pretendendo se reunir com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, para tratar da confissão. O objetivo é atenuar a pena do tenente-coronel.

Em nota, a defesa de Jair Bolsonaro diz que ele “jamais se apropriou ou desviou quaisquer bens públicos” e teria devolvido “voluntariamente” algumas das joias.  Ainda segundo os advogados, alguns presentes eram “personalíssimos”, e por isso, o então presidente poderia decidir qual destino daria a eles.

Desde que foi preso, há três meses, por supostamente ter fraudado cartões de vacina dele e de Bolsonaro, Mauro Cid se mantém em silêncio. Em depoimento à CPMI dos atos do 8 de janeiro, ele não respondeu às perguntas dos parlamentares.