NEGOCIAÇÕES

Em meio à escalada das tensões comerciais com os Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o governo brasileiro encara com seriedade a imposição de tarifas sobre produtos brasileiros, mas ressaltou que isso não significa adotar uma postura submissa diante das medidas norte-americanas.

“Tenham certeza de que estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência”, declarou o petista, em entrevista concedida ao jornal norte-americano The New York Times, publicada nesta quarta-feira (30/7). A conversa ocorreu no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência.

De acordo com o presidente Lula, o Brasil está disposto a negociar, mas não aceitará ser tratado como um país inferior. Ele reconheceu o peso econômico, tecnológico e militar dos Estados Unidos, mas afirmou que essa força inspira preocupação e não temor.

“Em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande. Conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos, reconhecemos a dimensão tecnológica dos Estados Unidos. Mas isso não nos deixa com medo. Nos deixa preocupados”, afirmou.

As falas do presidente Lula sobre a medida tarifária e sobre o presidente dos Estados Unidos provocaram reações de parlamentares da direita, especialmente aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que o acusaram de tratar o tema sem a postura diplomática adequada.

A crise comercial teve início no começo de julho, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, alegando desequilíbrio nas relações bilaterais. O republicano também justificou a medida com críticas ao tratamento dado pelo governo brasileiro ao ex-presidente Jair Bolsonaro. 

Como resposta, Lula assinou um decreto regulamentando a chamada Lei da Reciprocidade. A medida autoriza o Brasil a adotar, em relação a cidadãos e governos estrangeiros, o mesmo tratamento que for dado ao país. A norma pode ser aplicada em áreas como comércio, vistos, relações diplomáticas e investimentos.

Além da tarifa, o governo dos EUA também abriu uma investigação comercial contra o Brasil. O inquérito vai apurar práticas brasileiras em setores como comércio digital e meios de pagamento, incluindo o Pix.

Nos últimos dias, Lula tem cobrado respeito à soberania brasileira. Em diferentes falas, criticou a postura de Trump, afirmando que o presidente norte-americano “não quer conversar”.

Apesar dos esforços diplomáticos, ainda não houve avanço significativo. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, esteve nos Estados Unidos para uma cúpula internacional, mas não se reuniu com autoridades locais para tratar do tarifaço. Uma delegação de senadores também está no país, em busca de interlocução com congressistas e empresários, mas o impasse persiste a dois dias de a nova tarifa entrar em vigor.