O candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da  República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se reuniu nesta segunda-feira  (17) em São Paulo com cerca de 200 lideranças religiosas da Igreja  Católica. No evento, Lula afirmou que o Brasil, que era reconhecido pela  alegria, foi tomado pelo “ódio”. Nesse sentido, ele atribuiu essa  situação ao avanço da extrema direita mundial. E disse que o atual  presidente, Jair Bolsonaro, representa esse segmento “raivoso” da  sociedade. Como exemplo, citou hostilidade contra bispos e padres  durante a última quarta-feira (12), dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.

“Tenho  lido notícias de padres que são atacados durante a missa, porque estão  falando da fome, da pobreza. Porque estão falando da democracia. São  atacados por pessoas que sempre conviveram com a gente. Mas a gente não  sabia que essas pessoas tinham tanto ódio dentro delas”, afirmou o  ex-presidente. “E esse ódio é como se fosse um casulo que foi aberto.”

Parte  desse ódio, de acordo com o candidato, se deve ao preconceito produzido  em função da ascensão dos mais pobres. Ele disse que durante seu  governo, o país chegou a viver “um momento de rara felicidade”. Com a  ascensão da chamada então chamada “nova classe C”, mais pessoas passaram  a viajar de avião, por exemplo, e a frequentar locais que, até então,  eram de uso exclusivo das elites e da classe média alta.

 “A elite  começou a dizer que os aeroportos tinham virado rodoviária. Incomodou.  Como incomoda os pobres quererem vir tomar banho de sol no Parque do  Ibirapuera. Ou seja, há um preconceito contra a ascensão dos mais  pobres. Mesmo que você não queira tirar nada dos outros, mas só pelo  fato do pobre chegar perto de você, já causa um certo pânico”, afirmou.
 
Participação

 Apesar  do cenário adverso, Lula se diz tranquilo sobre “ganhar as eleições”,  mas observa que precisa contar com a participação da sociedade para  fazer as mudanças de que o Brasil precisa. Por exemplo, em relação ao orçamento secreto,  o candidato afirmou que pretende substituí-lo pelo “orçamento  participativo”. Também sinalizou para a volta das conferências, para que  a sociedade decida coletivamente sobre as políticas públicas em cada  área.

 
 “Estou aqui dizendo para vocês: esse país vai mudar”, disse  Lula aos religiosos. Ele também voltou a se comprometer com o combate ao  racismo, ao feminicídio e a perseguição aos povos indígenas. Disse que é  preciso garantir igualdade salarial entre homens e mulheres que  realizam as mesmas funções. Ressaltou que as mulheres passaram a  trabalhar “fora”, mas os homens ainda não foram “para dentro da  cozinha”, para dividir as tarefas domésticas.

Apelo à tolerância

 Vice de Lula, Geraldo Alckmin também participou do encontro com religiosos. Ele citou a caminhada que realizaram mais cedo em São Mateus,  na zona leste da capital paulista. Em menção ao santo que dá nome ao  bairro, disse que “São Mateus nos alerta contra os falsos profetas”,  disse que que não é possível “colher frutos” de “ervas daninhas”.

 
 Por  outro lado, citou frutos que foram colhidos durante o governo Lula. “Na  Saúde, o fortalecimento do SUS, Farmácia Popular, o Samu, dobrou  equipes de Saúde da Família. Na educação, bons frutos, com Haddad, como o  Fundeb, os institutos federais, as universidade, a inclusão, a política  de cotas, tão necessária e importante. A moradia, bom fruto.  Infelizmente o atual governo acabou com a faixa 1, para aquela parcela  que mais necessita”.

 Candidato ao governo de São Paulo, Fernando  Haddad (PT) disse que “dói a alma” quando vê um brasileiro agredindo  alguém de outra religião. Lembrou da história do seu avô, sacerdote  cristão de origem libanesa, junto com sua família, veio ao Brasil em  busca de “liberdade religiosa“.

 “Transformar  a intolerância religiosa em política de Estado é uma coisa que tenho  certeza que a minha família jamais imaginou ver no Brasil. Aqui, judeus e  cristão se casam entre si, coisa inimaginável no Oriente Médio. Aqui  encontramos paz, respeito, solidariedade e esperança. Não podemos  permitir que uma pessoa insana introduza no Brasil uma coisa estranha à  nossa cultura, que não pode prosperar no nosso país. Temos que cultivar a  crença de que nós todos somos livres para buscar a verdade que se  encontra em cada um de nós”, disse.