BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou nesta terça-feira (23/12) um decreto que reconhece a música gospel como manifestação cultural brasileira. A medida é interpretada nos bastidores como mais uma estratégia do governo para se aproximar do eleitorado evangélico, mais inclinado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A assinatura ocorreu em cerimônia no Palácio do Planalto, com líderes evangélicos, cantores gospel e autoridades políticas. Entre os presentes estavam o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que participou da articulação do decreto junto ao governo federal. 

Lula afirmou que cogitou não discursar no evento por causa de uma coceira na garganta. Ainda assim, fez uma breve fala, na qual disse que o Brasil superou as previsões negativas dos indicadores no início do ano. O presidente também afirmou que a cerimônia “representa mais um passo importante para o acolhimento e o respeito à comunidade e ao povo evangélico do Brasil”. 

Segundo o Planalto, o texto estabelece diretrizes para valorizar, promover e proteger a cultura gospel no país, reconhecendo sua relevância social, cultural e artística. A iniciativa ocorre em um contexto de intensificação do diálogo do governo com segmentos religiosos, às vésperas de 2026.

Com as eleições previstas para o próximo ano, Lula se movimenta em busca de um quarto mandato no Planalto. Com isso em vista, o eleitorado evangélico ganha peso estratégico. Dados recente do Censo indicam que o grupo representa mais de um quarto da população brasileira, percentual que segue em crescimento, enquanto o número de católicos vem diminuindo.

O segmento é considerado decisivo na eleição e tem sido alvo tanto do petismo quanto do bolsonarismo, por concentrar uma parcela capaz de influenciar os resultados nas urnas.

Outra frente de aproximação do governo com esse público é a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Evangélico, Messias participou de uma reunião de Lula com lideranças evangélicas no Palácio do Planalto em outubro. A indicação se seu nome à Corte tem o apoio da bancada evangélica no Congresso.

Na última reunião ministerial, Lula se dirigiu diretamente ao AGU ao anunciar a política de valorização da música gospel. “Vamos transformar a música gospel em patrimônio, Messias. Você pode estar preparado porque, além de ser ministro da Suprema Corte, vai poder cantar música gospel no Palácio do Planalto”, afirmou.

Indicado ao STF em novembro, Messias enfrenta dificuldades para vencer resistências no Senado, o que levou ao adiamento de sua sabatina para 2026. A escolha também provocou desgastes na relação entre Lula e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que defendia o nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).