Uma reviravolta na corrida pela sucessão de Arthur Lira (PP-AL) no comando da Câmara colocou o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) como favorito na disputa. Aos 34 anos, ele construiu uma boa base política fora e dentro do Parlamento. Motta está no quarto mandato como deputado federal. Sua primeira vitória nas urnas foi nas eleições de 2010, quando tinha 21 anos.  

Nesse período, o paraíbano consolidou relações para ter trânsito livre em alas opostas da política. Ele tem portas abertas tanto entre nomes ligados ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quanto da oposição, associada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Não à toa, o agora candidato à presidência da Câmara foi sabatinado, na quarta-feira (4), pelos dois.

Motta teve um encontro, na parte da manhã, com Bolsonaro. Já a reunião com Lula foi durante a tarde. Um dos questionamentos do petista ao deputado foi sobre seu alinhamento com o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (Republicanos-RJ), responsável pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016. Motta foi favorável à destituição de Dilma. Na época, ele era filiado ao MDB.

O deputado da Paraíba comandou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras em 2015, que terminou com o pedido de indiciamento de 70 pessoas. Ele foi aliado do governo de Michel Temer (MDB), que assumiu como presidente após a saída de Dilma.  

Desde então, Motta esteve na base de apoio dos dois governos anteriores. Na época de Temer, votou a favor de propostas estruturais do emedebista, como a reforma trabalhista e a instituição de um teto de gastos públicos. Além disso, foi contrário a uma investigação do então presidente pelo Ministério Público Federal (MPF) por suposta corrupção.

Foi em 2018 que Motta trocou o MDB pelo Republicanos, depois de 13 anos no primeiro partido. Em 2019, no governo Bolsonaro, ele se manifestou de forma favorável a privatizações, como a dos Correios (que não avançou) e da Eletrobras. 

Já no governo Lula, a partir de 2023, se declarou independente, mas apoiou propostas encabeçadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária. O parlamentar se aproximou ainda mais do governo depois da entrada de Silvio Costa Filho, seu colega de partido, no comando do Ministério dos Portos e Aeroportos.

Família influente em Patos, na Paraíba
Hugo Motta é de uma família influente na política da Paraíba. Seu pai, Nabor Wanderley (Republicanos), já foi deputado estadual e hoje é prefeito da cidade de Patos, o quarto mais populoso do Estado. Nas eleições deste ano, Nabor tenta a reeleição.  

A cidade também já teve como prefeitos o avô paterno do deputado, também Nabor Wanderley, e por sua avó materna Francisca Motta. Em 2016, ela chegou a ser afastada do cargo em uma investigação sobre irregularidades em licitações e contratos públicos.

A mãe do deputado, Ilana Motta, era chefe de gabinete da própria mãe na prefeitura e também foi afastada das funções, além de ter sido alvo de um mandado de prisão preventiva. 

Francisca também atuou fora do Executivo de Patos. Ela foi deputada estadual por cinco mandatos, assim como seu avô materno, Edivaldo Fernandes Motta, que também foi duas vezes deputado federal.

A disputa na Câmara
Hugo Motta assumiu como favorito na disputa pela sucessão da Câmara depois que o presidente nacional do Republicanos e 1º vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (SP), desistiu de sua candidatura e passou a financiar, politicamente, sua campanha. O movimento escancarou um racha no Centrão e, segundo Pereira, o nome de Motta recebeu o aval de Lula.

A decisão embolou o cenário que estava desenhado. Isso porque Lira pretendia, em breve, anunciar o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), como seu candidato na intenção de reunir um consenso sobre o nome. Agora, Motta reúne apoios que vão de Lula, no Palácio do Planalto, e aliados governistas, até o PL de Bolsonaro, com quadros da oposição.

O nome de Motta também prejudica a intenção de outros candidatos: os líderes do PSD na Câmara, Antonio Brito (BA), e do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), que buscavam uma base de apoio. A eleição para o novo presidente da Câmara será em fevereiro de 2025, na abertura dos trabalhos do próximo ano no Parlamento. Lira não poderá mais se reeleger por já estar no segundo mandato na função.