Em entrevista à TV 247, o ex-ministro da Educação e candidato à presidência em 2018 pelo PT, Fernando Haddad, não deixou claro se também irá disputar o cargo em 2022. Em contrapartida, negou que irá se candidatar à Prefeitura de São Paulo em 2020. Haddad se limitou a dizer que na próxima eleição presidencial estará “na trincheira contra o fascismo”. Ele também opinou sobre a situação do Enem, falou da possível candidatura de Flávio Dino (PCdoB) e de sua frente ampla, da política econômica neoliberal do ministro Paulo Guedes, da aliança entre PDT e DEM no Nordeste e de sua relação com o PT. Haddad participou do programa Mercadante Debate, que faz uma série sobre os 40 anos do partido.

Sobre 2022, Haddad pontuou também que a preocupação do campo progressista deve ser com quem atenta contra os direitos e forças sociais, e não com possíveis candidatos de esquerda. “Eu vou trabalhar para evitar o que aconteceu em 2018, sendo candidato, sendo militante, sendo cabo eleitoral, não importa. A situação que eu vou assumir não importa, vou estar na trincheira contra o fascismo e vou estar defendendo quem for para o segundo turno para derrotar esse projeto que está aí, que é perigoso para o Brasil, do ponto de vista econômico, da soberania, do ponto de vista democrático, social, civilizatório. Não devemos nos preocupar com pessoas que estão crescendo no nosso campo, temos que nos preocupar com pessoas que estão crescendo contra as forças sociais, essa é a verdadeira ameaça ao Brasil”.

Ele disse, por exemplo, que uma possível candidatura de Flávio Dino pelo PCdoB seria “bom para o Brasil”. “Quando falam assim, ‘tem que ficar preocupado, o Flávio Dino pode ser candidato’, ótimo que nós tenhamos o PCdoB em condição de lançar um candidato a presidente. Poxa vida, o PCdoB que nos acompanhou desde 1989 em todas as campanhas eleitorais chegou ao ponto de poder lançar um candidato à presidência do país, isso é bom para o Brasil. O que nós precisamos garantir é um segundo turno em que a gente derrote o obscurantismo, não pode acontecer em 2022 o que aconteceu em 2018”.

Muito se fala da frente ampla que Flávio Dino estaria construindo. Há rumores de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o apresentador Luciano Huck façam parte desta aliança. Acerca deste tema, Haddad ponderou: “do meu ponto de vista, obviamente que tem uma frente muito ampla contra o obscurantismo que pode, inclusive, contar com liberais de centro-direita. Quando tem censura às artes ou perseguição a jornalistas você pode contar com uma frente um pouco mais ampla. Dá para ter um programa econômico com a centro-direita? Não dá”.

“Eles fecharam com o Bolsonaro, eles não estão preocupados com valorização do salário mínimo, eles não estão preocupados com os aposentados, não estão preocupados com as famílias do Bolsa Família, não estão preocupados com o Fies, não estão preocupados com isso. Como é que você vai fazer uma frente ampla com quem não está preocupado com aquilo que é essencial para a vida?”, indagou.

Prefeitura de São Paulo
Ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad disse que não disputará a prefeitura novamente neste ano. “Eu participei de três eleições muito recentes, então acho que a gente tem que abrir um pouco o espaço para aparecer nomes novos, gente nova. Vamos fazer uma bela campanha”. Ele também negou que irá apoiar especificamente algum dos sete pré-candidatos do PT.


Haddad condena aliança de Ciro com o DEM 
Para Haddad, o PDT de Ciro Gomes tenta enfraquecer o campo progressista no Nordeste se aliando ao DEM de ACM Neto, o que seria, segundo ele, uma crise de identidade do partido. “O PDT está vivendo uma crise de identidade. A partir do momento que o PDT elege como parceiro prioritário o DEM do Nordeste para enfraquecer a esquerda… Quem são os governadores hoje do Nordeste? PT, PSB e PCdoB, hegemonicamente. Quando você fala que vai fazer aliança com o anteontem para enfraquecer quem está no comando hoje de uma região que vai bem... Esse time que está lá deu muito trabalho para construir”.

'Paulo Guedes é um Meirelles radicalizado'
O ex-ministro registrou o aniversário de quatro anos do sistema econômico neoliberal no Brasil, resultado das ações do ministro da Economia, Paulo Guedes, de Jair Bolsonaro e do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, do governo Michel Temer. “Estamos completando agora em março não um ano, mas quatro anos desta política econômica. As pessoas não se dão conta: o Guedes é um Meirelles radicalizado. Nós estamos completando em março de 2020 quatro anos de política econômica neoliberal e os resultados estão aí, 30 mil moradores de rua na cidade de São Paulo”.

Enem


Ex-ministro da Educação, Haddad comentou o caos que se instalou no Enem 2019. Após inúmeras denúncias de erros nas notas de estudantes no Exame e um efeito cascata no Sisu, Prouni e Fies, candidatos de todo o Brasil ainda seguem sem saber, com clareza, suas notas e colocações na lista de vagas para as universidades.


Haddad deu a saída do problema ao atual ministro da pasta, Abraham Weintraub. Ele disse que o melhor a fazer é recalcular as notas dos estudantes e verificar se algum candidato à universidade ficou de fora injustamente. Caso o prejuízo tenha ocorrido, é necessário abrir mais uma vaga na lista de aprovados para o candidato que foi afetado. “Se ele tiver juízo, às vezes um tranco ajuda, tomou um tranco agora e quem sabe cai na real. Se ele tiver juízo ele se compromete com Ministério Público e com a Defensoria a fazer o que ele já deveria ter feito: o recálculo e verificar se algum estudante foi prejudicado, se ficou, abre uma vaga a mais, isso ele pode fazer. Aí ele não está prejudicando ninguém, ele está reconhecendo o erro e abrindo uma vaga a mais”.

Haddad disse também que torce para que a situação do Enem seja resolvida. “Eu quero que ele arrume uma saída, ele que não quer sair. O nosso compromisso é com o estudante, os ministros da Educação deste país têm compromisso com a educação, não com a política partidária. A gente quer que estudante que tenha direito e tenha mérito faça sua faculdade”.

40 anos do PT


O Partido dos Trabalhadores se aproxima de seus 40 anos. Personagem da história do partido, Haddad afirmou que o PT é o primeiro projeto de “transformação social a partir do ponto de vista dos trabalhadores” e contou um pouco de sua relação com a legenda. “Um depoimento pessoal de quem viveu a construção do PT, já era adulto quando a coisa começou, entrei na faculdade em 81 e o PT foi fundado em 80, então vivi o processo de construção do PT. O que preciso dizer para as pessoas é o seguinte: nós conseguimos construir efetivamente um instrumento de transformação social a partir do ponto de vista dos trabalhadores, isto é real e foi a primeira vez que aconteceu. Já tivemos partidos de centro-esquerda no passado, mas jamais tivemos um partido construído a partir da base”.

“O PT nasceu, não foi uma geração espontânea, tinha liderança, mas a força veio da base e vem até hoje da base. O que impressionou as pessoas foi o seguinte: ‘como é que depois de tudo que aconteceu o PT foi para o segundo turno e quase ganhou a eleição?’”, disse.

Questionado se sairia do PT, Haddad disse que a ideia “nunca passou pela cabeça”. “Nunca recebi nenhum tipo de convite, sondagens sim, normal da política, mas nunca passou pela minha cabeça. Eu milito no PT desde 83, sou filiado desde 85, meu único partido”.