O procurador-geral da República, Paulo Gonet, pediu nesta terça-feira (11/11) a condenação de dez réus acusados de participação em uma tentativa de golpe de Estado, apontada como uma das ações mais graves contra a democracia desde a redemocratização. Entre os denunciados estão militares das Forças Especiais do Exército – conhecidos como os “kids pretos” – e um agente da Polícia Federal.

Gonet apresentou um panorama detalhado das acusações, reunidas na Ação Penal 2696, destacando que o grupo formou uma organização criminosa armada para pressionar a cúpula das Forças Armadas e viabilizar a assinatura de um decreto golpista pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL). 

O plano incluía ações violentas contra autoridades, como o ministro Alexandre de Moraes, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice Geraldo Alckmin (PSD).

A investigação aponta que os envolvidos participaram da elaboração e execução da chamada “Operação Copa 2022”, uma ofensiva clandestina destinada a monitorar e neutralizar autoridades públicas. 

Segundo a denúncia, o grupo utilizava técnicas de anonimização – em que se modifica ou remove dados pessoais de um indivíduo – para dificultar a identificação dos participantes.

Embora a operação tenha sido interrompida antes de atingir seus objetivos, a PGR afirma que ela “evidenciou a disposição dos envolvidos em praticar crimes graves e coordenados”.

A acusação também menciona o plano “Punhal Verde Amarelo”, que previa atos de sabotagem e caos social para justificar a tomada do poder. Em 28 de novembro de 2022, os réus se reuniram para redigir uma carta ao comandante do Exército, pressionando-o a aderir ao movimento.

Entre os nomes mais citados na sustentação estão:

- o general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, apontado por ter oferecido suporte estratégico ao golpe;
- o major Rafael Martins de Oliveira e tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo, descritos como participantes ativos da operação “Copa 2022”;
- o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, autor do documento “Desenho Op Luneta”, que detalhava a estrutura do plano;
- e o agente da Polícia Federal Wladimir Matos Soares, acusado de fornecer informações sigilosas da equipe de segurança presidencial à organização criminosa.

O procurador pediu ainda tratamento distinto para Ronald Ferreira de Araújo Júnior, cuja conduta foi classificada apenas como incitação ao crime (artigo 286 do Código Penal). Para os demais, a PGR reiterou o pedido de condenação por tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada, dano ao patrimônio público e deterioração de patrimônio tombado.

Segundo Gonet, as provas reunidas mostram que as ações do grupo “colocaram em risco a estabilidade democrática e a integridade das instituições republicanas”.