O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou na noite desta segunda-feira (8) que é o senador Sergio Moro (União-PR), e não ele, quem é acusado de vender sentenças. A resposta foi dada em uma pergunta sobre a ação da Procuradoria Geral da República contra o ex-juiz por ter aparecido em um vídeo brincando em 'dinheiro para comprar habeas corpus do Gilmar Mendes". As declarações de Gilmar foram no programa Roda Viva, da TV Cultura.

"Eu achei estranha a revelação dessa suposta brincadeira feita lá numa festa de São João ou coisa do tipo exatamente num momento em que Moro está sendo acusado de venda de decisões por Tacla Duran (ex-advogado da Odebrecht). E todos os seus amigos lá no Paraná, inclusive, aparentemente o sogro da sua filha, atuaram no TRF para impedir esse depoimento do Tacla Duran", afirmou Gilmar.

O ministro do STF continuou no assunto, dizendo que bastaria a Moro abrir suas contas e a da esposa, a deputada federal Rosângela Moro (Podemos-SP), para mostrar que não houve recebimento de recursos.

"É muito fácil ele resolver essa questão. Pois Tacla Duran diz é que deu a ele ou a Rosângela Moro US$ 5 milhões. Basta abrir a conta. Eu acho estranho isso. Quem tem problema de acusação de venda de decisões é o Sergio Moro", reforçou.

O ministro também lançou suspeitas sobre a atuação profissional de Moro após a Lava Jato, por ter sido contratado por uma empresa que teria sido beneficiada por suas decisões no comando da operação;

"Sergio Moro é uma pessoa que, como nós vimos, gosta muito de dinheiro. Ele inventou a Alvarez & Marsal no Brasil. Ela passou a administrar todas essas empresas que quebraram na Lava Jato. E depois ele arrumou emprego na Alvarez & Marsal. Essa gente também tinha inventado a questão da fundação, a tal fundação Dallagnol (em referência ao fundo que o procurador Deltan Dallagnol queria criar com recursos recuperados na operação), que pagaria palestra e coisa do tipo. Com um fundo de 2,5 bilhões. Isso seria maior talvez ou igual a (Fundação Calouste) Gulbenkian (que concede bolsas de estudo) em Portugal. Seria a joia da coroa. E quase inventaram um fundo em Brasília na operação Greenfield, com assessoria do Joaquim Falcão. Iam fazer um fundo. Essa gente gosta muito de dinheiro como se vê. Então, eles que respondam pelos problemas que eles causaram ao país e a si mesmo", enfatizou.

O caso Tacla Duran
Rodrigo Tacla Duran, que chegou a ser alvo de pedido de prisão por parte de Sergio Moro da Lava Jato, acusa Moro e Deltan Dallagnol de extorsão durante o processo. Ele afirma que foi alvo de perseguição por não aceitar pagar propina para ficar livre de um pedido de prisão. Tanto Moro quanto Dallagnol negam peremptoriamente qualquer irregularidade.

Neste episódio, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pediu esclarecimentos ao desembargador Marcelo Malucelli, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), sobre a suposta ordem de prisão emitida por ele contra Tacla Duran, que prestaria depoimento e prometeu apresentar provas que implicariam o ex-juiz. Malucelli é pai de um sócio de Moro, que também seria namorado da filha do ex-juiz. Por isso, o CNJ foi acionado para apurar se houve alguma falta disciplinar por parte do desembargador no episódio.

Após a polêmica, ao Supremo Tribunal Federal (STF), que havia avocado o caso para si, o desembargador negou ter determinado nova prisão de Tacla Duran. Contudo, o próprio TRF-4 havia divulgado a informação, inclusive com trechos da decisão de Marcelo Malucelli. A informação, contudo, desapareceu depois do site do tribunal. Depois, Marcelo Malucelli pediu para deixar o caso.

Sergio Moro, por sua vez, rechaça qualquer irregularidade e tem dito sempre que Tacla Duran busca vingança em razão das acusações e do pedido de prisão na Lava Jato. Segundo ele, há "uso político de calúnias feitas por criminoso confesso e destituído de credibilidade".