O general Júlio César de Arruda, demitido do comando do Exército neste sábado, teve duras discussões na noite do dia 8 de janeiro com o ministro da Justiça, Flávio Dino, relata Guilherme Amado, no Metrópoles. Começou ali o enredo que levou à sua exoneração.

"Naquela noite, o comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, teve uma dura discussão com o interventor Ricardo Cappelli. O clima esquentou quando o secretário, liderando a tropa da Polícia Militar, chegou ao Setor Militar Urbano e anunciou que prenderia os golpistas acampados em frente ao quartel-general. O general afirmou que a tropa da PM não passaria dali", escreveu o jornalista.

O comandante do Exército e Cappelli se reuniram no Comando Militar do Planalto. Houve a primeira discussão tensa de Arruda naquela noite, quando chegou a colocar o dedo na cara de Cappelli e do então comandante da PM, coronel Fábio Augusto Vieira.

O policial, preso por determinação de Alexandre de Moraes, afirmou em seu depoimento que o Exército havia proibido prisões. Em dado momento, Arruda dirigiu-se para o policial, também com o dedo em riste. “O senhor sabe que a minha tropa é um pouco maior que a sua, né?”, disse, em tom de ameaça, referindo-se às tropas da PMDF e do Exército.

Os ministros Flávio Dino, José Múcio (Defesa) e Rui Costa (Casa Civil) se reuniram naquela mesma noite com o general Arruda. Foi quando o comandante do Exército peitou o ministro da Justiça.

O general exigiu que os ônibus dos golpistas, que haviam sido apreendidos pela Polícia Militar por ordem de Dino, fossem devolvidos. O ministro da Justiça afirmou que não devolveria porque era prova de crime e assim seriam tratados.

 O general, subindo o tom de voz, insistia que ninguém seria preso no acampamento, conforme relatou a repórter Marina Dias. Dino também elevou a voz e manteve a ordem.

Neste momento, os dois já estavam em pé e o clima prenunciava uma briga ainda mais dura.

Rui Costa interveio e conduziu a conversa para uma conciliação. Ficou acordado que as prisões não seriam naquela hora, mas sim no dia seguinte de manhã.

A demissão de Arruda foi sacramentada quando chegou a Lula a informação de que Arruda não demitiria o tenente-coronel Mauro Cid.

Cid era o principal ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e cuidava até das contas pessoais da família – uma espécie de Fabrício Queiroz do Palácio do Planalto –, e hoje está lotado no 1º Batalhão de Ações e Comandos, em Goiânia. Trata-se de uma das unidades do Comando de Operações Especiais do Exército, e, por estar nos arredores de Brasília, passível de ter que ser acionada para garantir a segurança da capital.