Brasília - Em entrevista ao UOL, o diplomata Mario Vilalva, afirmou que recebeu a notícia de sua exoneração pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, "com um misto de alívio e frustração", mas caiu atirando. Disse que não quis participar de um esquema "imoral".
"Eu já estava resistindo desde que cheguei à Apex e notei que eu não havia sido contratado para cuidar de comércio exterior. Fui contratado para cuidar de uma determinada pessoa que tem lá dentro e eu me recusei a participar de um esquema que achava absolutamente imoral", disse ele, sem citar nomes.
Vilalva afirmou que foi pressionado pelo ministro Araújo durante todo o período que esteve à frente da Apex. "Foram 90 dias de muita agonia, muito bombardeio e desavenças internas. Eu tentei, seja pelo diálogo pela conversa, mostrar que é importante observar normas, leis e procedimentos. Mas as pessoas não querem saber, elas têm suas agendas próprias e nem querem que um sujeito da minha idade fique lembrando a eles que este tipo de comportamento é necessário", declarou o embaixador.
Vilalva disse que não ficou confortável com as mudanças feitas pelo ministro no estatuto da agência, sem sequer consultá-lo. As medidas tiraram os poderes do presidente, neste caso Vilalva, e fortalecia membros da diretoria ligados ao PSL.
"Sofri situações muito embaraçosas, até que chegou ao ponto do que foi visto na imprensa ontem, de que foi descoberta a tentativa do ministro Ernesto Araújo de mudar o estatuto da agência, transferindo os poderes da presidência da agência para os dois diretores. Isso foi feito na calada da noite, arquivado em um cartório e só 25 dias depois é que foi descoberto pela Folha", relatou.
"Você imagina um ministro de Estado fazendo uma coisa dessa, com o conluio do advogado da Apex, que era subordinado a mim? Esse governo não pode fazer esse tipo de coisa", criticou.
Na entrevista, Vilalva citou que foram oferecidos a ele outros postos diplomáticos para que ele deixasse a presidência do órgão responsável pelo sistema comercial do país. "Mas eu não saio pela porta dos fundos. A honra é muito mais importante do que qualquer tipo de benesse material. E eu não me vendo por este tipo de coisa, preferi morrer lutando", garantiu.