BRASÍLIA, DF E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Uma mulher que se relacionou por mais de um ano com o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro, registrou em 2008 um boletim de ocorrência na qual relata ter sido perseguida após fazer uma denúncia contra ele na Polícia Federal.

O caso acabou arquivado a pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro por falta de provas que corroborassem o relato da mulher, a advogada Roma Angélica de França. A investigação, porém, não aguardou a conclusão de uma diligência crucial para identificar o responsável pela suposta ameaça.

Ouvido na polícia, o deputado negou ter envolvimento na suposta ameaça sofrida. Em nota, disse que a mulher nunca havia aceitado o fim do relacionamento entre eles, motivo pelo qual teria feito denúncias falsas em retaliação. Em nota, disse que as "imputações são inverídicas".

Ramagem foi escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para ser o candidato de seu partido na capital fluminense. O principal adversário na disputa é o prefeito Eduardo Paes (PSD), que busca a reeleição.

À época do registro, Ramagem era delegado federal em Boa Vista (RR), onde morava. Angélica de França vivia no Rio de Janeiro havia seis meses, para onde se mudou após o relacionamento com o deputado, segundo relatou à polícia.

Em 1º de novembro de 2008, Angélica de França registrou na 10ª DP (Botafogo) um boletim de ocorrência sobre uma suposta ameaça que sofrera naquele dia.
De acordo com o relato, ela estava em seu carro quando notou que estava sendo perseguida por um veículo Gol prata, ocupado por homem não identificado. Segundo a advogada, o motorista do outro automóvel buzinou para ela.

"No momento em que a vítima olhou para o motorista, este fez com as mãos um movimento típico de quem efetua disparo de arma de fogo, afastando-se em seguida", diz a transcrição do depoimento dela.

Segundo Angélica de França, três dias antes ela teve uma discussão com João Rodrigues, pai de Ramagem, por telefone. Conforme o relato dela aos policiais, os dois conversaram sobre um boletim de ocorrência que o delegado havia registrado contra ela em Roraima também por ameaça.

No diálogo, ela teria pedido que Rodrigues orientasse o filho a evitar uma briga e demandas judiciais desnecessárias.

"Nesse momento, João Rodrigues, exasperado, disse que já sabia dos fatos e era advogado de Alexandre, acrescentando que se caso denunciasse Alexandre as coisas não ficariam assim. João Rodrigues disse ainda que a vítima 'não sabia com quem estava mexendo'", disse ela na delegacia, segundo o depoimento.

No depoimento, ela indicou qual era a placa do carro do qual teria partido as ameaças. Pesquisa feita pela polícia na época apontou que o veículo era de propriedade de uma locadora de carros. A delegacia chegou a oficiar a empresa sobre quem havia utilizado o automóvel na data do suposto crime, mas a resposta nunca foi juntada ao inquérito.

Na ocasião, fazia seis meses que Angélica de França havia prestado depoimento na Superintendência da Polícia Federal em Roraima relatando suposto relacionamento ilegal entre Ramagem e advogados. Ela declarou ter estranhado, por exemplo, ter se mudado com o delegado para um imóvel de um desse defensores e nunca ter recebido pedido de ajuda para quitar o aluguel.

Ela também relatou que Ramagem passou a dizer que ela estava sob investigação e poderia ser alvo de mandado de busca e apreensão, motivo pelo qual deveria se mudar para o Rio de Janeiro. A advogada disse que o delegado tinha apenas a intenção de lhe causar mal.

Além de Ramagem, a polícia ouviu o pai do delegado. Ele também negou ter qualquer relação com os fatos narrados pela advogada.

Em maio de 2010, o Ministério Público defendeu o arquivamento do inquérito por falta de provas. Nem a delegacia nem a Promotoria determinam nova diligência junto à locadora de carros para esclarecer se o veículo indicado por França estava em uso naquele dia e por quem. A Justiça arquivou o caso no mesmo ano.

IMPUTAÇÕES SÃO INVERÍDICAS E OCORRÊNCIA FOI ENCERRADA, DIZ DEPUTADO

Ramagem disse, em nota, que as imputações feitas por Angélica de França são inverídicas. Ele inclusive nega ter morado com a advogada, como ela informou no depoimento.

"Não se trata de ex-namorada. Nunca tive relacionamento fixo com a mesma, muito menos residi no mesmo endereço que ela. Todos os meus endereços anteriores e atuais constam dos registros da Polícia Federal", diz ele.

O deputado disse que não estava no Rio de Janeiro no momento em que o boletim de ocorrência foi lavrado por estar trabalhando na PF de Roraima.

"A ocorrência foi encerrada, sem qualquer pedido de oitiva/manifestação minha, por total ausência de nexo, fundamento ou vinculação a mim", disse ele. No inquérito conste um depoimento dele sobre o caso.

Ramagem disse também que um procedimento aberto na Corregedoria da PF em Roraima "demonstrou que a mesma, por não ter correspondência de um relacionamento fixo, decidiu que inventaria situações a meu respeito". "Há provas no procedimento, inclusive com manifestação da própria nesse sentido."

Ele também disse não se recordar de qualquer contato do pai dele com a advogada. "Desconheço os fatos imputados a ele. Infelizmente meu pai já é falecido."

O pai declarou na polícia à época desconhecer os fatos.