BRASÍLIA - A dez meses das eleições, pode-se dizer que há apenas um candidato dado como certo na corrida ao Palácio do Planalto: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tentará se reeleger para o seu quarto e último mandato em 2026.

O petista já deixou claro que só não concorrerá caso o seu estado de saúde não permita. E da parte do PT e da maioria dos partidos de esquerda e centro-esquerda, como PCdoB, PSB e PDT, não deverá haver resistências para que o nome do presidente seja o principal - e talvez o único - desse campo político a se lançar com algum nível de competitividade.

Pesa, ainda, o fato de Lula liderar as pesquisas de intenção de voto, seja qual for o adversário. Após um primeiro semestre difícil em 2025, em que passou a maior parte do tempo tentando conter crises, como a do Pix e a do INSS, o presidente teve uma recuperação de sua popularidade a partir de julho, com a reação ao tarifaço imposto pelo presidente americano, Donald Trump.

Os aliados do petista apostam, ainda, que ele deverá se fortalecer ainda mais em 2026, quando forem implementadas medidas como a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil, a distribuição gratuita de botijões de gás para pessoas de baixa renda (“Gás do Povo”), a ampliação da tarifa social de energia elétrica (“Luz do Povo”) e a não-obrigatoriedade de autoescola para tirar carteira de habilitação. Além disso, sua campanha à reeleição deve encampar pautas de apelo popular, como o fim da jornada de trabalho 6 por 1.

Mas se por um lado é um trunfo ter uma figura com a força eleitoral de Lula, por outro, a esquerda segue convivendo com um antigo problema: a falta de outras lideranças nacionais. O futuro do PT e de seu campo político ainda é visto como incerto no “pós-Lula”.

Ministros como Fernando Haddad (Fazenda), que já concorreu ao Planalto em 2018, são especulados como possíveis sucessores imediatos de Lula, mas pairam dúvidas em torno de seu potencial eleitoral. Há, também, Guilherme Boulos (Secretaria-Geral), mas este é considerado pouco experiente e com uma postura radical.

Disputa na direita

O campo da direita vive situação oposta: com a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado e preso por tentativa de golpe de Estado, sobram nomes com alguma projeção nacional, mas falta unidade. Uma das dúvidas é se haverá, de fato, uma candidatura de um membro da família.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-SP) se colocou como pré-candidato após o apoio vocalizado pelo pai. Porém, a ideia não foi bem recebida por grupos do centrão, além de ter gerado um impacto negativo no mercado financeiro. O nome de Flávio não é visto como competitivo por esses setores, mesmo com o apoio de Jair Bolsonaro.

Assim como a ala bolsonarista do PL, a família Bolsonaro reluta - especialmente com a entrada de Flávio no cenário - em declarar apoio a uma pré-candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o nome predileto do centrão e de parte da centro-direita. Aiados veem Tarcísio como alguém capaz de angariar votos daqueles eleitores que rechaçam o bolsonarismo, mas também não querem um novo governo Lula. Contudo, o governador sinaliza que só concorreria com o apoio de Bolsonaro,

Os governadores do Paraná, Ratinho Jr (PSD); Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); Goiás, Ronaldo Caiado (União); e Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), também são apontados como pré-candidatos e correm por fora segundo as pesquisas.

Setores da direita defendiam que até abril, o ex-presidente escolhesse quem será seu candidato ao Planalto, com uma pressão crescente para que o eleito fosse Tarcísio. A escolha de Flávio frustrou parte de seus aliados, enquanto outros já abraçam a pré-candidatura do senador.