CRISE SEM FIM

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), inflou a pressão no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para conseguir mais poder político, mas a tendência é que a crise se estenda entre os dois como uma espécie de “guerra infinita”. Isso porque nem Lula está disposto a ceder às exigências de Lira, e nem o presidente do Câmara pretende abandonar a ofensiva que tem lançado sobre o petista. 

Políticos próximos a Lira admitem que a decisão dele de instalar Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) que podem impactar o Executivo (ainda sem previsão de serem iniciadas) foi uma reação à forma como o governo conduziu a demissão do primo dele, Wilson César de Lira Santos, do comando da superintendência regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Alagoas. Isso porque foi ignorado o acordo para que houvesse um comunicado prévio e a demissão fosse feita somente quando Lira indicasse outro nome. 

O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, chegou a ir até Lira para se explicar e informou que o presidente da Câmara poderia fazer sua indicação, mas com termos que não interessam ao alagoano. Além da reação de dar andamento às CPIs, Lira avançou com projetos que punem organizações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). 

Por trás dos corredores, a jogada de Lira tem um objetivo claro. A menos de um ano de deixar o comando da Câmara em fevereiro de 2025, ele não quer correr o risco de cair no esquecimento e ser visto como alguém que não tem influência política. A preocupação é comum no Congresso, mas a avaliação nos bastidores é de que Lira tem reagido explicitamente para mostrar o que deseja, uma forma pouco usual entre seus antecessores. A pressão é somada ao fato de Lira saber a influência que tem atualmente para inviabilizar a vida do governo Lula na Câmara. 

A crise com o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que já dura meses, continua. Lira quer a saída dele do cargo e, na última semana, chegou a declarar que o articulador político é um “desafeto pessoal”, além de incompetente. Lula reagiu de imediato: “Só de teimosia o Padilha vai permanecer nesse ministério por muito tempo", disse na sexta-feira (12). 

A situação virou uma questão de honra para os dois lados, especialmente porque o entorno de Lula vê Lira como insaciável e sabe que, se o petista atender ao presidente da Câmara agora, terá que renunciar a muito mais em prol da governabilidade - especialmente em um quadro de maior espaço a parlamentares da oposição.

Tem peso na irritação de Lira, segundo fontes do Congresso, o fato de nunca ter conseguido derrubar a ministra da Saúde, Nísia Trindade, para colocar um nome de sua indicação: o do deputado Doutor Luizinho (PP-RJ). Essa troca é angariada por ele de forma reservada pelo menos desde junho de 2023. Lula tem essa pasta como sua cota pessoal e não abre para negociação política, decisão que Lira nunca engoliu. E o nome de Padilha também entra nessa briga. 

O atual chefe da articulação política chegou a ser um dos cotados para assumir o Ministério da Saúde após a vitória de Lula nas eleições de 2022, cargo que ocupou no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Por isso, é grande a ocupação de cargos na pasta por indicação de Padilha. Esse cenário também é uma trava para Lira que deseja, no fim, derrubar dois coelhos com uma tacada só: Nísia e Padilha, para também liberar os cargos na Saúde e conseguir nomear seus aliados. 

Lira também tem seu favorito para substituir Padilha: o atual líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), a quem tem uma relação mais próxima e pode conseguir ter certo controle. Fontes do Palácio do Planalto avaliam que essa troca já esteve perto no princípio da crise no ano passado, mas as chances atualmente são pequenas por conta da insistência de Lula em defender seu articulador.