O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ), confirmou que vai deixar o DEM para fazer oposição ao presidente Jair Bolsonaro. Após ver seu candidato na eleição à Presidência da Câmara abandonado em nome da aproximação de seu partido com o presidente da República, Maia disse que o DEM regrediu aos tempos de Arena, voltando à extrema-direita.
 
"O partido voltou ao que era na década de 1980, para antes da redemocratização, quando o presidente do partido aceita inclusive apoiar o Bolsonaro", disse Maia em entrevista ao jornal Valor Econômico. E completou: "o DEM decidiu majoritariamente por um caminho, voltando a ser de direita ou extrema-direita, que é ser um aliado de Bolsonaro."

Maia afirmou que vai fazer o pedido de desfiliação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para "dormir tranquilo". "Vou pedir minha saída no TSE (...). Hoje posso dizer que sou oposição ao presidente Bolsonaro. Quando era presidente da Câmara, não podia dizer. Mas agora quero um partido que eu possa dormir tranquilo de que não apoiará [o presidente]. (...) Não quero participar de um projeto que respalda todos os atos antidemocráticos."

A decisão de Maia de deixar o partido foi tomada após o DEM abandonar a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) à presidência da Câmara, declarando neutralidade na véspera da eleição, o que liberou os deputados a votarem no candidato bolsonarista, Arthur Lira (Progressistas-AL).

O ex-presidente da Casa criticou duramente o presidente do partido, ACM Neto (BA), e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, pela mudança de posicionamento do partido. "Foi um processo muito feito do Neto e do Caiado. Ficar contra é legítimo, falar uma coisa e fazer outra não. Falta caráter, né?", afirmou.

Ainda de acordo com Maia, a formação da chapa encabeçada por Baleia foi discutida com o presidente e o líder partidário, que aprovaram a escolha como parte de uma estratégia para viabilizar também a eleição do candidato Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no Senado, esvaziando um possível bloco do MDB em torno do nome de Simone Tebet (MDB-MS).

A "traição" do partido, contudo, só foi notada em uma reunião de líderes no dia 31 de janeiro, às vésperas da eleição. "Não podia imaginar que um amigo de 20 anos ia fazer um negócio desses", disse Maia sobre ACM Neto. E completou: "Mesmo a gente tendo feito o movimento que interessava ao candidato dele no Senado, ele entregou a nossa cabeça numa bandeja ao Palácio do Planalto."

Além da questão envolvendo a eleição no Congresso, Maia disse que as decisões dos líderes do DEM estão transformando a sigla em "um partido sem posição" - mencionando uma entrevista em que ACM Neto diz que pode ir "do Bolsonaro ao Ciro Gomes" - e sem projeto de País. "Deste partido eu não tenho mais como participar porque não acredito que esse governo tenha um projeto, primeiro, democrático, e, segundo, de país".

Maia ainda colocou que, com a aproximação cada vez maior do DEM com Bolsonaro, a tendência é que a aliança entre o partido e o presidente ultrapassem a pauta econômica. "Não descarto nem a hipótese de Bolsonaro acabar filiado ao DEM", finalizou.