No dia dos 57 anos do golpe de 1964, a ex-presidente Dilma Rousseff também lembrou, nesta quarta-feira (31), a ruptura institucional de 2016, quando ela foi deposta sem ter cometido crime de responsabilidade. Após destacar o enfraquecimento de Jair Bolsonaro, a petista afirmou que o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (MDB-RJ), atualmente preso no âmbito da Operação Lava Jato, foi o responsável por comandar o movimento golpista contra ela. 

 
"Eu acho que Temer é uma pessoa de personalidade extremamente frágil. Eu acho que ele foi, de certa forma, um presidente decorativo, porque ele é sempre isso", afirmou Dilma durante entrevista à TV 247, à TV Fórum e ao DCM.

"Não era ele a liderança golpista principal, a liderança golpista que leva o PMDB para a extrema-direita – ou pra direita, mas não uma direita cheirosa, gostosa e gourmet, para um direita bolsonarista – [foi Eduardo Cunha]. A pré-estreia de Bolsonaro tem nome, se chama Eduardo Cunha", acrescentou Dilma. 

 
De acordo com a presidente deposta pelo golpe, "as 'movimentações estranhas' de Cunha eram vistas a olho nu". "Não precisava de telescópio para isso, não precisava de telescópio para ver a TV Globo, sistematicamente… O golpismo foi explícito. As provas do golpe estão na mídia. O projeto do impeachment já estava decidido pela direita neoliberal caso eu fosse reeleita. Foram 4 eleições seguidas, eles temiam que nós aprofundássemos tanto que não tivesse volta atrás, que não tivesse isso que ocorreu com Bolsonaro", disse. 

Na entrevista, Dilma citou motivações geopolíticas para o golpe. "Nós tínhamos colocado o Brasil como um player internacional. Nós éramos um dos países principais dos BRICS. Nós não só criamos o Banco dos Brics, como também criamos uma coisa que ninguém dava muita importância, que era o Acordo Contingente de Reservas, uma espécie de FMI dos Brics. O Brasil se situou diferentemente na América Latina… Veja a Unasul, a Celac…"”, declarou. "Nós nunca votamos com os Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU", complementou. 

Inocência


Em julho de 2016, o Ministério Público Federal concluiu que a "pedalada" fiscal envolvendo o Plano Safra, um dos motivos que baseiam o pedido de impeachment contra Dilma no Senado, não foi operação de crédito, nem crime.


O procurador da República Ivan Cláudio Marx, responsável pelo caso aberto no MP do Distrito Federal, levantou suspeitas sobre "eventuais objetivos eleitorais" com as "pedaladas" e afirmou que o caso "talvez represente o passo final na infeliz transformação do denominado 'jeitinho brasileiro' em 'criatividade maquiavélica'".

Naquele ano, técnicos do Senado entregaram uma perícia à comissão do impeachment e destacaram que a então presidente não praticou as chamadas "pedaladas fiscais". 

"Pela análise dos dados, dos documentos e das informações relativos ao Plano Safra, não foi identificado ato comissivo da Exma. Sra. Presidente da República que tenha contribuído direta ou imediatamente para que ocorressem os atrasos nos pagamentos", disse um trecho do laudo.