Visto como uma alternativa à polarização entre petistas e bolsonaristas no pleito do ano passado, o ex-ministro, ex-deputado, ex-governador, ex-prefeito, advogado e professor Ciro obteve pouco menos de 13% dos votos válidos no primeiro turno, durante o qual chegou a afirmar que não participaria mais de uma disputa pelo Palácio do Planalto caso fosse derrotado. Mas, após a confirmação da vitória de Jair Bolsonaro (PSL), a questão sobre uma possível candidatura daqui a quatro anos voltou a ficar em aberto, com o presidente do PDT, Carlos Lupi, chegando a garantir que Ciro será o candidato do partido na próxima eleição para a presidência do Brasil.
Em declarações à Sputnik Brasil, Ciro afirmou que a verdade é que "uma pessoa que já foi candidata três vezes não pode andar dizendo que não gostaria de ser porque isso não respeitaria a percepção que o nosso povo tem". Entretanto, segundo ele, agora, é preciso se dedicar a outra tarefa dada pelo povo, que é a de vigiar o governo, cobrar as promessas, denunciar as contradições e exigir mudanças de rumo nas estratégias erradas. Ainda de acordo com o político, a confusão que está tomando conta da política brasileira atualmente não deve ser vista pela população como um acidente, mas, sim, como resultado de um permanente erro de modelo econômico, com origem no governo da ex-presidenta Dilma Rousseff. Para ele, sua função hoje seria a de ajudar o povo a consertar e a entender como consertar esse caminho, embora o cenário que se apresenta seja bastante pessimista.
"Não sei nem se vou estar vivo em 2022. E o Brasil de 2022, pode acreditar, com a minha experiência, será um país profundamente diferente desse que nós temos hoje. Infelizmente, eu não estou vendo essa diferença como uma melhoria para a vida do povo. Há uma confusão, como eu já disse, muito grande, o governo é formado de lunáticos, gente muito incompetente, muito despreparada. Não há comprometimento nenhum com o interesse do povo, com o interesse nacional. Tudo que se fez até agora revela uma incapacidade profunda de oferecer uma estratégia de desenvolvimento para o país. De maneira que a gente precisa ajudar o povo a transformar a justa queixa e a revolta que está crescendo no Brasil num projeto de esperança de que a gente possa colocar uma coisa nova no lugar", declarou.
Sobre a afirmação que havia feito em 2018 de que deixaria a política se Bolsonaro vencesse a eleição, Ciro Gomes disse à Sputnik que tal declaração foi feita, na ocasião, em um momento em que estava de "cabeça quente" e que não tem "direito de fugir da luta". Além disso, ele justificou a sua ausência no segundo turno, em um eventual apoio a Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, dizendo que não queria fazer campanha ao lado de pessoas que ele considera responsáveis por sérios problemas que estão acontecendo no país.
"Essa quadrilha fez muito mal ao Brasil e eu não quero mais andar com eles na política. Não quero dizer o PT, porque o PT tem um lado muito bom, que eu respeito. Mas, hoje, quem manda no PT é o lado bandido. E aí, eu, evidentemente de cabeça quente, porque ver um cara como Bolsonaro ser eleito, francamente, dói muito no coração... Mas eu, imediatamente, vejo que não é culpa do nosso povo, que eu não posso desertar da luta, que a minha vocação sempre foi lutar pelo Brasil. E estou aqui de volta, muito firme, muito esperançoso e, mais do que isso, muito indignado com tudo que está acontecendo. E transformo a minha indignação em trabalho."
Negando as especulações de que poderia ser ministro em uma possível administração de Haddad ou que o mesmo poderia compor um hipotético governo seu — caso um dos dois tivesse sido eleito, Ciro disse ter uma boa impressão do candidato petista nas últimas eleições. No entanto, para ele, o ex-prefeito de São Paulo merece ser criticado tanto por ter participado de uma tentativa de enganar a população de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia disputar a presidência quanto por ter aceitado como coordenador de campanha alguém como José Sérgio Gabrielli, alvo de investigações por irregularidades cometidas na Petrobras durante o período em que presidiu a empresa.
"Acho que ele não é membro desse lado quadrilha do PT e acho que é uma pessoa que tem espírito público e tal", declarou Ciro sobre Haddad. "Mas eu jamais o convidaria para ser ministro do meu governo, muito menos com a antecedência de uma eleição", acrescentou, dizendo não se considerar responsável pela derrota do petista no segundo turno, que ele atribui às decisões erradas tomadas pelo Partido dos Trabalhadores nos últimos anos.
Para 2022, embora ainda não tenha confirmado sua participação na eleição, o candidato pedetista em 2018 concorda que é possível termos um pleito marcado por disputas entre governadores e ex-governadores, dadas as sinalizações feitas até o momento.
"É bem possível, porque no Brasil também se faz isso com nosso povo. Você mal entra num cargo e já está especulando despudoradamente sobre as disputas no futuro. Não sabe se fez bem a coisa, se está governando bem, se revelou condição de combate à corrupção, se revelou prioridade correta às questões da saúde, da segurança... Mas já são candidatos. O exemplo mais prático — e, para mim, absolutamente chocante — é o Doria [governador de São Paulo]. Mas o Witzel lá, agora, no Rio de Janeiro, também é candidato. E nosso povo precisa ver se quer mais do mesmo ou se quer mudar."