SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil está diante da ameaça de cair num "fenômeno nazista e militarista", disse nesta quinta-feira o candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, que voltou a defender que os eleitores votem por convicção no primeiro turno, deixando o chamado voto útil para a segunda rodada.
"O povo brasileiro está em revolução, as pessoas estão mudando violentamente, estão procurando um caminho e eu entendo com o meu coração esse sentimento, porque é muita emoção, muita mudança de última hora... muita 'fake news'", disse Ciro a jornalistas após participar de uma reunião no Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) em São Paulo.
"Então as pessoas estão preocupadas, o Brasil está ameaçado de uma queda no precipício, um fenômeno nazista, militarista e extremista", acrescentou. "Mulheres estão sendo insultadas pelo mero fato de serem mulheres, meninos e meninas brigando de forma odienta, descambando para a violência, um candidato que emula a violência sofreu o que não pode acontecer, pela primeira vez na história moderna do Brasil."
Para Ciro, nesse quadro, não é possível a pregação do voto útil já no primeiro turno.
"Voto útil é a negação da preferência do cidadão, o cidadão tem que votar em quem ele achar melhor e ficar em paz com a sua consciência", argumentou Ciro.
"Depois tem o segundo turno onde a gente vota no menos pior. Mas agora não é possível tirar a esperança do povo de votar naquele que achar mais preparado, mais treinado", acrescentou.
A possibilidade de apelos pelo voto útil cresceu depois que o Ibope divulgou pesquisa na terça-feira mostrando o candidato do PT, Fernando Haddad, isolado no segundo lugar, com 19 por cento das intenções de voto, enquanto Ciro tinha 11 por cento. O presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, liderava com 28 por cento.
Mas na madrugada de quinta-feira, O Datafolha divulgou levantamento mostrando Ciro e Haddad em empate técnico, embora o petista apareça numericamente à frente (16 a 13 por cento). Bolsonaro somou 28 por cento das intenções de voto também nesta pesquisa.
Apesar do quadro menos desfavorável na sondagem mais recente, Ciro voltou a colocar em dúvida os institutos de pesquisa.
"O que a gente precisa tirar de lição dessas pesquisas, que estão saindo praticamente todo dia, é que não é razoável que um cidadão amadurecido politicamente entregue sua decisão, sua preferência em relação à sorte da nação, da sua família, a institutos de pesquisa, nem porque eles podem ser desonestos, porque nesse país até deputado se compra, quanto mais instituto de pesquisa", afirmou. "Mas basicamente porque nós temos um sistema em que a gente pode ter duas opções, uma no primeiro turno e uma no segundo."
"Portanto a gente deve votar naquele que a gente acha melhor... que tem condições de vencer o fascismo e a violência, que é a grande ameaça que hoje paira sobre a nação brasileira, que é o extremismo militarista, radicalizado, hostil às mulheres, aos negros, aos índios, aos quilombolas, à população LGBT", acrescentou Ciro, numa possível alusão a Bolsonaro.
"E eu me energizo todo dia para me compenetrar da minha responsabilidade de não deixar o país cair nesse precipício", concluiu o pedetista.
Na véspera, Ciro havia ironizado a crença nos institutos de pesquisa.
Ao ser questionado se sua agenda de campanha pelo Nordeste na próxima semana visa frear o crescimento de Haddad na região, já que o Ibope aponta uma grande distância entre os dois no eleitorado nordestino, o pedetista respondeu: "E você acredita no Ibope? E em mula sem cabeça? Acredita também? E em Papai Noel, acredita?"