Candidatos ao Governo de Minas participaram nessa terça-feira (27) do último debate antes do primeiro turno das eleições. No evento promovido pela TV Globo, os concorrentes priorizaram ataques aos rivais e ignoraram propostas para economia e desenvolvimento, para um eventual mandato. A avaliação é feita pelo cientista político, doutor em relações internacionais, Oswaldo Dehon. 

De acordo com o especialista, a situação tem sido frequente nos debates em nível estadual e nacional promovidos nesse período eleitoral. Para ele, o dessa terça foi permeado por tentativas de mostrar a fragilidade do adversário. 

"Os debates têm mudado bastante, perdido exposição de planos e servido para mostrar fragilidade e limitações de um candidato em relação aos outros. Em geral eles [os candidatos] estavam muito nervosos, devido a proximidade do primeiro turno, crescimento de Kalil e candidatura turbulenta de Zema.

Na opinião de Dehon, a falta de apresentação de propostas é negativa já que prejudica a compreensão dos eleitores em relação ao que está em "jogo". 

"Algo negativo, algo problemático em relação a compreensão do que está em jogo. Isso porque sem saber das propostas para economia e desenvolvimento, por exemplo, é muito difícil saber o que cada candidato fará em um eventual mandato. O debate está voltado para uma arena de costume. A impressão é que os humores da política foram substituídos para as questões da moralidade, muitas delas da vida privada, justamente pelo crescimento da relação entre religião e poder", avalia. 

Desempenho de Zema e Kalil
Participaram do debate os candidatos Alexandre Kalil (PSD), Carlos Viana (PL), Lorene Figueiredo (Psol), Marcus Pestana (PSDB) e Romeu Zema (Novo). O cientista político avalia o desempenho dos políticos durante o evento.
"Kalil tentou demonstrar algumas das suas principais questões em relação ao seu estilo e não necessariamente aos projetos. Os demais candidatos tentaram fazer com que Zema fosse o centro do debate, aproveitando o nervosismo e a instabilidade dele. Notei a sobriedade do Carlos Viana, que já é um comunicador de longa data. O Zema aproveitou para buscar o voto útil em cima de Carlos Viana, candidato que tem o apoio do atual presidente Jair Bolsonaro", opina. 

Para Oswaldo Dehon, o destaque negativo ficou com o atual governador Zema, que compareceu pela primeira vez a um evento com adversários políticos na TV em 2022. "A decisão de ir ao debate foi imprecisa, já que ele nesse momento poderia ser alvo de todos os candidatos e se mostrou também com muitas observações imprecisas, chegando a dar tapa na mesa", afirma.

 "Zema também apresentou um monotema, já que aparentemente ele só tem o tema PT - Pimentel, o único assunto que ele mostrou interesse em dialogar ontem. Foi ainda bastante impreciso ao chamar a Copasa de empresa privada, que na verdade é publica, me parece uma falha grande para alguém que já é governador a quatro anos", afirma. 

Quem se saiu melhor
O cientista político opina que Carlos Viana e Marcus Pestana (PSDB) foram o que se mostraram mais bem preparados. No entanto, do ponto de vista político, Kalil foi quem se saiu melhor.

"Os candidatos com maior poder de debate foram Marcus Pestana e Carlos Viana, tecnicamente. Do ponto de vista político, quem se saiu melhor foi Kalil. Não só por sua atitude, como pela performance dos demais que criticaram o Zema e mostraram ironia ao apontar ações do governador durante o mandato", pontua. 
Expectativa para o 1° turno
Segundo Oswaldo Dehon, o crescimento de Kalil mostrado por pesquisas nos últimos dias mostra uma situação ainda indefinida. "Zema em primeiro turno ainda é improvável, ele tem grande quantidade de votos, mas a questão é se isso será suficiente. Houve crescimento do Kalil e encolhimento do Viana, então ainda tem variáveis", explica.

A pesquisa Ipec divulgada na noite desta terça-feira (27) mostrou salto de 5 pontos de Kalil nas intenções de voto. O ex-prefeito de Belo Horizonte passou de 29% para 34% em uma semana. Enquanto isso, o governador Romeu Zema caiu um ponto percentual e passou de 46% para 45% das intenções de votos. Já Viana, foi de 4% para 3%. 
De acordo com o cientista político, a movimentação dos principais candidatos ao Palácio do Planalto em Minas, nos próximos dias, também pode ser determinante. 

"É preciso ver se o ex-presidente Lula voltará a Minas nos próximos dias para tentar alavancar esse crescimento de Kalil. Bolsonaro em Minas [que visita o Sul de Minas na próxima sexta (30)] pode ser a tentativa de evitar o avanço de Kalil. Zema também deve ir aos seus locais de força no Estado para reforçar sua imagem. Há ainda a possibilidade de ele abrir voto de seus eleitores em Bolsonaro, como fez em 2018.", completa.