Carlos Miranda prestou depoimento ao juiz Marcelo Bretas, nesta terça-feira (27), em inquérito que apura esquema comandado pelo ex-governador e que ocultou mais de R$ 340 milhões no exterior

O delator Carlos Miranda, apontado como operador do ex-governador do Rio Sérgio Cabral, prestou depoimento, nesta terça-feira (27), ao juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio.

Miranda foi ouvido em inquérito sobre a operação Eficiência, que apura esquema usado para ocultar mais de R$ 340 milhões enviados ao exterior. Na época em que a ação foi deflagrada, janeiro de 2017, os procuradores do Ministério Público Federal (MPF) pediram à Justiça a prisão de dez pessoas. Entre elas estavam, além de Carlos Miranda, o empresário Eike Batista.

A operação da PF foi feita com base em depoimentos dos delatores Renato Hasson Chebar e de seu irmão Marcelo Hasson Chebar, em troca de benefícios penais. Eles estão envolvidos na remessa de US$ 100 milhões do ex-governador para fora do país.

Segundo Miranda, foi durante o período em que ele e Cabral dividiram uma cela, na Cadeia Pública de Benfica, que o ex-governador ficou sabendo da determinação do Ministério Público Federal para que devolvesse aos cofres públicos cerca de R$ 300 milhões. Cerca de 80% do valor, segundo afirmou o delator, seriam de Cabral.

"Ele ficou muito assustado. Eu acredito que seja isso (não imaginou que ia tão longe). Acho que, em nenhum momento, (ele) realizou que a situação era tão séria", disse Miranda.

De acordo com o portal G1, o operador também comentou sobre o seu sentimento naquele momento. "É difícil definir. O que imaginei é que realmente não tinha para aonde correr. A partir do nome da investigação, Eficiência (o mesmo nome da conta de Cabral no exterior), na hora me veio o nome da conta que ele tinha no exterior. Percebi que a situação era a pior possível", admitiu.

Miranda ainda contou como funcionava o esquema criminoso. "Eu participei da organização criminosa chefiada por Sérgio Cabral, que tinha (os ex-secretários) Wilson Carlos e Régis Fichtner como principais assessores, e (eu) desempanhava função de gerenciar fluxo financeiro dessa organização, fruto de propina de empresas que fechavam contratos com o Estado. Depois de feito o acordo (entre a empresa) pelo Cabral e, principalmente pelo Wilson Carlos, eu entrava em contato com a empresa para pegar o dinheiro que tinha sido combinado".

Ainda segundo ele, depois disso, os doleiros enviavam as remessas das propinas para contas no exterior do ex-governador. A defesa do ex-governador, que também será ouvido hoje, por meio de videoconferência, afirmou que os valores atribuídos a Cabral pelos delatores pertenceriam a outros clientes dos doleiros. Cabral nega ter recebido propina.