O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) reagiu a declarações do prefeito reeleito do Recife, João Campos (PSB), sobre sua atuação política e derrotas eleitorais, afirmando que o adversário "não está autorizado a dar aulas de coerência e moral a ninguém". As declarações de Boulos foram feitas em entrevista à coluna de O Globo, em que ele rebateu as críticas que Campos lhe dirigiu durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, na semana passada.

Ao responder as críticas, Boulos destacou a diferença de trajetórias entre ele e o prefeito pernambucano. “Construí minha trajetória no movimento social. Não foi por sobrenome, não foi por herança familiar. O mínimo que se precisa ter na política, independentemente das diferenças, é respeito”, declarou o parlamentar, numa referência clara ao histórico familiar de Campos. Filho do ex-governador Eduardo Campos, falecido em 2014, e bisneto de Miguel Arraes, uma das figuras mais emblemáticas da esquerda brasileira, João Campos construiu sua carreira pública sob forte influência do legado familiar.

A declaração de Boulos vem como uma resposta direta aos comentários feitos por Campos, que criticou o deputado por revisitar antigos posicionamentos. "A prática precisa caber naquilo que você fala, e o que você fala tem que caber na sua prática", disparou o prefeito do Recife durante o programa. "Tem 19 anos que ele [Boulos] se posiciona de um jeito em tudo. Aí, em um ano começa a revisitar todos os posicionamentos. Você acha que o povo não pensa. Mas o povo pensa", afirmou Campos, sugerindo inconsistência nas posturas do parlamentar do PSOL.

Na entrevista concedida ao O Globo, Boulos também reconheceu o mérito de Campos ao conquistar a reeleição no Recife, mas questionou a autoridade do prefeito para criticá-lo. "O João Campos conseguiu uma reeleição fenomenal [como prefeito do Recife], tem os seus méritos, sem sombra de dúvida. Mas não creio que ele está autorizado a me dar aulas de coerência", pontuou.

O embate entre os dois políticos, ambos expoentes de campos progressistas, revela divisões dentro da esquerda brasileira sobre estratégias eleitorais e posicionamentos ideológicos. Enquanto Campos e sua companheira, a deputada Tabata Amaral (PSB), adotam uma linha mais moderada e de alianças amplas, Boulos defende uma postura combativa e de proximidade com os movimentos sociais. Essas divergências, agora explicitadas publicamente, apontam para desafios internos no campo progressista em ano pré-eleitoral, quando as alianças e plataformas de campanha começam a ser desenhadas.

 

Brasil247