O presidente da República, Jair Bolsonaro, contestou nesta sexta-feira, 2, reportagem do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) e do jornal O Estado de S. Paulo sobre o baixo número de empréstimos a Estados e municípios do Nordeste. Para ele, as prefeituras da região são as mais inadimplentes do País. "Houve um equívoco nessa informação. As prefeituras do Nordeste são as mais inadimplentes e a Caixa precisa de garantias para poder emprestar", disse.

Ao ser questionado sobre a reportagem, ele ligou para o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e colocou no viva-voz para que os jornalistas que o aguardavam na saída do Palácio da Alvorada pudessem ouvir a explicação.

Guimarães respondeu que "não existe nenhuma indicação para não favorecer uma região ou outra". "Este ano liberamos muito mais dinheiro para a Região Nordeste. O que acontece é que você tem uma série de esteiras de análise. Neste momento, estamos analisando inclusive para o Estado da Paraíba e para o município de São Luís (MA)", disse.

O presidente da Caixa afirmou ainda não reconhecer o dado de 2,2% de empréstimos à região como mostrou reportagem do Broadcast na quinta-feira, 1º de agosto, e do jornal O Estado de S. Paulo nesta sexta. "Esse dado não é algo que reconhecemos. Simplesmente pegaram um dado específico, mas vai ser normalizado. Mas se é 20%, 15%, essa é uma análise técnica. É matemática", disse.

Ao encerrar a ligação, Bolsonaro afirmou que "isso é igual o desmatamento", em referência a dados oficiais contestados por ele recentemente.

Reportagem.

A reportagem revela que a Caixa reduziu a concessão de novos empréstimos para o Nordeste neste ano, segundo levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo e pelo Broadcast, com base nos números do próprio banco e do sistema do Tesouro Nacional.

Em 2019, até julho, o banco autorizou novos empréstimos no valor de R$ 4 bilhões para governadores e prefeitos de todo o País. Para o Nordeste, foram fechadas menos de dez operações, que juntas totalizam R$ 89 milhões, ou cerca de 2,2% do total - volume muito menor do que em anos anteriores.

No ano passado, a região recebeu R$ 1,3 bilhão, o equivalente a 21,6% dos R$ 6 bilhões fechados pela Caixa em operações para governos regionais. Em 2017, o banco contratou R$ 7 bilhões, dos quais R$ 1,3 bilhão foi direcionado para governadores e prefeitos nordestinos (18,6% do total).

Segundo apurou a reportagem com fontes do banco e da área econômica, a ordem para não contratar operações para os Estados e municípios do Nordeste veio do presidente Pedro Guimarães.

Sob condição de anonimato, elas confirmam que ouviram a orientação em mais de uma ocasião.