Campanha do candidato do PSL mantém conversas com Arick Wierson, que participou da equipe que elegeu Michael Bloomberg à Prefeitura de NY
O norte-americano Arick Wierson acompanha a política brasileira como um observador privilegiado. Formado em relações internacionais nos Estados Unidos, pela Georgetown, mesma universidade onde estudou Bill Clinton, com mestrado em economia pela Universidade de Campinas (Unicamp), ele está com um dos pés na campanha de Jair Bolsonaro. O contrato não fechado entre as partes, no entanto, é mantido em sigilo, porque começou a se desenvolver efetivamente e rapidamente depois do atentado sofrido pelo capitão reformado do Exército.
Procurado inicialmente pelo príncipe Luiz Phillipe Bragança, Arick tem dado palpites cada vez mais frequentes sobre, principalmente, a imagem pesada de Bolsonaro. A grande preocupação da campanha é com a rejeição do presidenciável do PSL, dado a quase certa chegada ao segundo turno. O Correio procurou Arick, que se recusou a falar diretamente da campanha do Bolsonaro, mas abordou aspectos da política brasileira.
"Esta eleição é insólita. Um dos candidatos que liderava as pesquisas é um ex-presidente que está atrás das grades, querendo ser solto. Do outro lado, tem um homem de extrema direita, polêmico, bem parecido com Donald Trump, que superou os resultados de pesquisas e venceu a disputa. Ainda tem o contexto do impeachment de Dilma, o governo de Michel Temer e a crise econômica", diz.
Após a facada, a equipe de campanha de Bolsonaro estuda contratar os serviços da TZU, empresa de marketing político do norte-americano com o advogado eleitoral Gustavo Guedes, também advogado de Temer. Arick tem sugerido alternativas tanto de comunicação quanto jurídica para o caso de que esse período de Bolsonaro no hospital se alongue por mais tempo, principalmente para o segundo turno. Há, inclusive, uma estratégia já pronta, caso o quadro se complique, e o deputado federal acabe não conseguindo participar da campanha.
Questionado sobre isso, Arick e pessoas do partido negam o envolvimento, apesar de uma das fontes ouvidas pela reportagem confirmar a atual ligação entre eles. Alguns dos direcionamentos já estão sendo colocados em prática pela equipe do presidenciável, entre elas, a de transformar a imagem dele para uma versão mais “branda e democrática”. Antes de ser procurado por aliados de Bolsonaro, contudo, Arick mantinha conversas com o Novo, partido de João Amoêdo. Mas, no decorrer das negociações, ainda durante a pré-campanha, foi substituído pelo marqueteiro Freddy Luz, a contragosto do presidente da sigla, Moisés Jardim.
E-commerce
Atualmente, o norte-americano de Minnesota vive em Minneapolis. Mas, a trajetória profissional de Arick começou no Brasil. O país entrou na vida do marqueteiro quando ganhou uma bolsa de estudos para fazer um mestrado em economia na Unicamp, quando foi aluno do ex-ministro Aloizio Mercadante e de Otaviano Canuto, representante do Brasil no Banco Mundial. Por dois anos, viveu em São Paulo com uma família hospedeira em Jundiaí, com a qual ainda mantém contato. Durante a estadia em território nacional, conheceu a primeira esposa e foi trabalhar com e-commerce em um banco ABN. Em 1998, começou uma startup com colegas da universidade, no entanto, seis meses depois, decidiu voltar para Nova York. Soube de uma vaga para a equipe de campanha do ex-prefeito Michael Bloomberg e decidiu tentar.
“Foi algo totalmente inesperado. Consegui conversar com Michael por cinco minutos e disse que não tinha experiência com a política, mas queria trabalhar na campanha dele. Novato também na disputa, topou. Fui o terceiro contratado”, conta, divertindo-se. Por ser fluente em português e falar espanhol, Arick lidava diretamente com a parte dos grupos de minorias do governo do norte-americano e representava o ex-prefeito em todas as agendas que envolvia o Brasil e outros países da América Latina. Foi aí que começou na área de marketing político.
Bloomberg chamou Arick, inicialmente, para fazer um levantamento de mídia, porque Nova York detém de vários canais de televisão e rádio. Como tinha um perfil de gestão de investimento, fez o mapeamento e tomou frente dessa área de projetos. Anos depois, seguiu por esse caminho, mas já na iniciativa privada. Bem-sucedido em vários âmbitos profissionais, o currículo do norte-americano reúne ainda seis premiações Emmy — a maioria com o programa Segredos de Nova York, transmitido, à época, pela emissora ABC.
Arick, que lidava frequentemente com investidores, conheceu o bilionário brasileiro Valdomiro Minoru Dondo, chamado também por “rei da África”, com quem fechou contrato. O executivo, que tem centenas de empresas no país, como hospitais, companhias de ônibus, banco, supermercados e, sobretudo, emissoras de TV, convidou o norte-americano para ser CEO de um novo projeto. O conselheiro político decidiu, então, trocar Manhattan por Luanda, onde ficou por seis anos e conheceu a segunda mulher, uma angolana.
Durante a experiência, pôde trabalhar com líderes de diversos países, como Arábia Saudita e Moçambique, que, futuramente, passaram a ser também clientes dele. “Eu trago o diferencial, porque eu sei como funciona o marketing político nos EUA. Por bem ou por mal, é o mais avançado do mundo, porque não tem tantas restrições. A publicidade é como se fosse qualquer produto de consumo”, acrescenta. Agora, Arick se divide entre Angola, Brasil e Estados Unidos, onde mantém negócios. Fora do escritório, é colunista da CNN, da CNBC e da New York Observer.