O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira, 8, ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que a economia do País vai para o "beleléu" neste ano por causa do coronavírus. Bolsonaro cobrou medidas rápidas para amenizar o impacto da crise e uma mensagem otimista por parte do ministro. Isolado e sem apoio, ele começou a se reaproximar do Centrão.

 
No pós-crise, Bolsonaro planeja fazer uma reforma na equipe. Em recente conversa com pelo menos dois aliados, o presidente confidenciou que, passada a tormenta, pretende dispensar não apenas Mandetta como "mexer" em outros "dois ou três" auxiliares. Não citou nomes.

A reunião de ontem com o ministro da Saúde serviu para Bolsonaro estabelecer com ele um pacto de convivência até o fim do estado de calamidade pública em que vive o País. Na prática, porém, Mandetta se tornou um fio desencapado para Bolsonaro e sua demissão é vista nos bastidores da política como questão de tempo.

De um lado, o presidente exige o fim da política de isolamento social para todos e diz que precisa "reabrir o Brasil" para salvar os empregos. De outro, o ministro afirma que uma atitude assim equivale a "navegar sem instrumentos" e pode levar o País ao colapso na Saúde. Há, ainda, a polêmica relativa ao uso amplo da cloroquina no tratamento de pacientes com covid-19. Bolsonaro é a favor, como deixou claro em seu pronunciamento de ontem. Mandetta faz restrições.

Nos últimos dias, Bolsonaro também se queixou do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Disse que Moro é "egoísta" e "não está fazendo nada" para defendê-lo na batalha contra as medidas restritivas de circulação, adotadas por governadores e prefeitos. Uma alternativa em estudo pelo presidente prevê a transferência do ex-juiz da Lava Jato para o Supremo Tribunal Federal (STF). O decano do STF, ministro Celso de Mello, deixará a Corte em novembro, quando completará 75 anos.

Antes da reunião de ontem com Mandetta, no Palácio do Planalto, o próprio presidente já dizia que havia gente "se achando" em sua equipe, falando "pelos cotovelos". A frase foi para o ministro da Saúde, mas a "bronca" e a ameaça de usar a caneta atingem outros integrantes da Esplanada que, na avaliação de Bolsonaro, viraram "estrelas".

Centrão

Bolsonaro recebeu ontem o vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (SP), que comanda o Republicanos. E conversou, recentemente, com líderes do PP e do PL, que também compõem o Centrão. A todos, pediu ajuda para enfrentar a crise, já que sua relação com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), anda estremecida. "Bolsonaro ouve mais as redes sociais do que o Congresso", resumiu Maia. Mandetta é do DEM, mesmo partido dos presidentes da Câmara e do Senado.

Alvo do chamado "gabinete do ódio", comandado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o ministro da Saúde só permanece até hoje na equipe porque seu apoio popular ultrapassa o do presidente.

A crise do novo coronavírus ainda acirrou o confronto entre os militares do governo e a ala ideológica. Na tentativa de evitar um novo embate, o chefe da Casa Civil, general Braga Netto, pediu a Mandetta que evite expor divergências com o presidente. O ministro prometeu não olhar pelo retrovisor. "Daqui a pouco eu sou passado", admitiu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.