SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Manifestantes bolsonaristas voltaram a se reunir neste domingo (10) para protestar contra a indicação do ministro Flávio Dino (PSB) para o STF (Supremo Tribunal Federal).

Em São Paulo, o ato acontece na avenida Paulista. Por volta das 14h, bolsonaristas concentravam-se em frente à apenas um carro de som. O grupo, de número ainda tímido e vestido de verde e amarelo, tomava o equivalente a meio quarteirão entre a rua Peixoto Gomide e o Masp.

O carro de som tocou o hino nacional e um single que repetia "Dino não, Dino não". Além de faixas contra a indicação do ministro, havia também as já tradicionais faixas contra o ministro do STF Alexandre de Moraes e a favor do voto impresso.

Durante a semana, parlamentares bolsonaristas gravaram vídeo convocando para a manifestação. Nas imagens aparecem os deputados federais Carla Zambelli (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG) e o senador Magno Malta (PL-ES), entre outros. Além deles, o pastor Silas Malafaia também participou do vídeo. Eles pedem que o Senado, em especial parlamentares do centrão, vete a indicação de Lula (PT) para o Supremo.

Dino e o procurador Paulo Gonet, indicado por Lula à PGR (Procuradoria-Geral da República), serão sabatinados simultaneamente na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado na próxima quarta (13). A expectativa é que a análise em plenário ocorra em seguida, no próprio dia 13 ou no dia seguinte, 14.

Os atos deste domingo foram convocados também em memória de Cleriston Pereira da Cunha, réu pelos ataques de 8 de janeiro que morreu no Complexo Penitenciário da Papuda. No último domingo (26), os bolsonaristas já fizeram uma manifestação na avenida Paulista para homenagear Cleriston.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e alguns parlamentares e governadores bolsonaristas, como Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), porém, estão na Argentina, neste domingo, acompanhando a posse do presidente eleito Javier Milei.

Movimentos de direita marcaram manifestações em capitais e cidades de 15 estados e no Distrito Federal, segundo o UOL. Em Brasília, o ato na Esplanada dos Ministérios aconteceu pela manhã e teve a presença de parlamentares como Magno Malta e Marcel Van Hattem (Novo).

Como mostrou a Folha, as principais pautas usadas por bolsonaristas para levar as pessoas às ruas neste domingo expõem contradições desse campo político em relação a direitos humanos e democracia, além de uma visão controversa sobre os limites da liberdade de expressão.

O posicionamento crítico do grupo à decisão do STF sobre liberdade de imprensa também se contrapõe aos seguidos ataques a jornalistas ao longo do governo Bolsonaro.
"Nós, deputados de direita, pessoas que estamos lutando pelas nossas liberdades, precisamos do povo nas ruas", afirma o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), no vídeo gravado por diferentes parlamentares do núcleo bolsonarista para divulgar a manifestação.

Bolsonaro, que já tratou temas relacionados a direitos humanos como "direitos de bandidos" e "esterco da vagabundagem", apoiou a convocação de ato em homenagem a Cleriston há duas semanas.

Terceira convocação consecutiva de grupos bolsonaristas, depois de 26 e 15 de novembro, as manifestações deste domingo fazem parte de um movimento de retomada das ruas pela direita desde os ataques golpistas de 8 de janeiro.
O próprio Bolsonaro já admitiu que o medo tem inibido parte da militância –punições aos participantes do 8 de janeiro e decisões do STF são apontadas como causas do temor de voltar às ruas.

Ao longo deste ano, bolsonaristas promoveram em 7 de setembro e 12 de outubro atos com bandeiras da direita e do conservadorismo. Em ambas as datas, concentrações em diferentes cidades tiveram público reduzido, baixa adesão da classe política e repercussão tímida.

Em 15 de novembro, bolsonaristas voltaram às ruas no feriado da Proclamação da República em protestos também esvaziados –em São Paulo, apenas um sentido da avenida Paulista foi bloqueado para o trânsito. Nesse dia, os atos foram afetados pela onda de calor.

Já em 2022, as manifestações tiveram adesão superior, impulsionados pela contestação do resultado das urnas, no golpismo incitado por Bolsonaro.

No domingo passado, os manifestantes ocuparam as duas pistas da avenida Paulista na extensão de um quarteirão e meio. Eles entoaram críticas a Lula, chamado de "ladrão", e a Alexandre de Moraes, relator dos casos relacionados ao 8 de janeiro no STF.
Desde que deixou a Presidência, Bolsonaro já foi condenado duas vezes pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Primeiro pelos ataques e pelas mentiras relacionados ao sistema eleitoral. Depois pelo uso eleitoral dos festejos do 7 de Setembro do ano passado.

Bolsonaro está inelegível, proibido de disputar eleições por oito anos e ainda sob investigação pelo STF sob suspeita de ter sido autor intelectual dos ataques golpistas de 8 de janeiro.