Aliados do general Braga Netto avaliam que o militar está tranquilo com as investigações da Polícia Federal (PF) que miram possíveis fraudes na aquisição de coletes balísticos no Rio de Janeiro, época em que ele comandava o Gabinete de Intervenção Federal no Estado, em 2018.

A leitura é a de que há uma tentativa de enfraquecer o nome do militar que, hoje, é apontado pelo PL como um possível candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições do ano que vem. E é justamente o fato de ele ter sido interventor que seria um dos motes da campanha.

A compra dos equipamentos de segurança desencadeou, nesta terça-feira, a operação Perfídia. A PF saiu às ruas para cumprir 16 mandados de busca e apreensão nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e no Distrito Federal.

Não há ordens de prisão emitidas pela Justiça, e Braga Netto não foi alvo de mandados nesta terça-feira. No entanto, o general teve o sigilo telefônico quebrado no âmbito da investigação.

Segundo a investigação, os 9.360 coletes balísticos teriam sido comprados pelo Gabinete de Intervenção Federal no Rio de Janeiro, em 2018, com valor acima do mercado. A estimativa do Tribunal de Contas da União (TCU) é a de que o valor total global do sobrepreço foi de R$ 4,6 milhões.

A apuração foi iniciada com a cooperação internacional da Agência de Investigações de Segurança Interna (Homeland Security Investigations – HSI). O contrato com a empresa americana foi realizado com dispensa de licitação, em dezembro de 2018, no valor total de US$ 9,4 milhões (valor global de R$ 40,1 milhões do câmbio à época).

O pagamento foi realizado de forma integral e, após suspensão do contrato pelo TCU, a quantia foi estornada. De acordo com militares que foram integrantes do Gabinete de Intervenção, os coletes não foram recebidos e a própria pasta teria suspendido a licitação porque existiam irregularidades no processo.

Ainda segundo as fontes, a situação teria sido solucionada pela Casa Civil, a quem a pasta era subordinada. A Controladoria Geral da União (CGU) é quem analisa esses documentos. Aliados do general dizem que isso tudo será esclarecido adiante.
A intervenção
O decreto de intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro foi assinado pelo então presidente Michel Temer (MDB), em 2018, em função de uma onda de violência no Estado. O texto previa que o general do Exército Walter Souza Braga Netto, do Comando Militar do Leste, seria o interventor.

Na prática, ele se tornou responsável pelo comando da Secretaria Estadual de Segurança Pública, Polícias Civil e Militar, Corpo de Bombeiros, além do sistema carcerário. No governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, o militar foi chefe da Casa Civil. Já nas eleições do ano passado, ele foi candidato a vice na chapa encabeçada por Bolsonaro nas eleições de 2022.