SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depois de terminar em quarto lugar a corrida presidencial do ano passado, com cerca de 5% dos votos, o pior resultado de um candidato do PSDB, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que ia "voltar para a Planície" e se dedicar a dar aulas.


Na noite da última quarta-feira (16), no entanto, Alckmin foi aclamado por um grupo de prefeitos e vereadores tucanos como candidato ao Governo de São Paulo em 2022. O tucano já governou o estado por mais de 12 anos (2001 a 2006 e 2011 a 2018). 

O governador João Doria (PSDB), atual ocupante do Palácio dos Bandeirantes, seria o candidato natural à reeleição pelo partido se não estivesse planejando voos maiores - o tucano almeja a Presidência da República em 2022.

Doria foi criticado no mesmo jantar em que Alckmin foi informalmente lançado ao Governo de SP. "Ele foi governador de gente humilde, não é engravatado que quer tirar vantagem do governo", discursou Pedro Tobias, ex-deputado estadual e ex-presidente do PSDB em São Paulo.  "Nós que precisamos dele. O estado de São Paulo precisa dele. Prefeito precisa dele. Vocês, prefeitos, conseguiram alguma fotografia com João Doria? Nenhuma. Foi à cidade de vocês? Não. Vamos trabalhar e já, pra não deixar alguém ocupar espaço", completou Tobias.

Tobias foi efusivamente aplaudido ao dizer que estava lançando Alckmin a governador de São Paulo. "Viva, Geraldo", gritaram alguns prefeitos.  A fala ocorreu durante um jantar com prefeitos e vereadores do PSDB, em Campos do Jordão, após participação de Alckmin no 63º Congresso de Municípios Paulistas. 

"Ele vai ser nosso candidato. A receptividade foi nota 10", disse Tobias à Folha. Questionado sobre a disposição de Alckmin em disputar mais uma eleição, ele respondeu: "Ele topa. Ele diz que está cedo, mas adorou a ideia." 

Tobias afirmou ainda que Doria é candidato à Presidência, o que deixa o espaço livre para Alckmin ser o candidato do PSDB ao Governo de SP. Ele disse que a fala sobre "engravatado" foi porque "Doria se esqueceu do interior, que elegeu ele", e voltou a dizer que os prefeitos cobram uma foto com o governador.

Tucanos do governo Doria, porém, veem seu vice-governador, Rodrigo Garcia (DEM), como sucessor natural ao Palácio dos Bandeirantes. Em troca, o DEM apoiaria sua candidatura ao Planalto. Garcia, quando questionado sobre o assunto, desconversa e diz que se concentra no atual mandato. 

A hipótese esbarra no próprio PSDB, que teria que abrir mão, em 2022, de um candidato próprio no estado que governa desde 1995 -algo considerado improvável por alguns tucanos. "Se o PSDB não lançar candidato em São Paulo, o partido acaba de uma vez", ponderou Tobias à Folha. 

Tucanos próximos a Doria consideraram o lançamento da candidatura de Alckmin um constrangimento, que cria divisões no partido. Afiram ainda ser muito cedo para falar em eleição de 2022 e avaliaram que tal antecipação é prejudicial ao ex-governador.

Embora Alckmin tenha sido o padrinho de Doria e o grande patrocinador de sua candidatura vitoriosa à Prefeitura de São Paulo em 2016, a relação entre eles já não é mais a mesma. 

Após se eleger prefeito, Doria passou a articular uma candidatura própria à Presidência da República. Alckmin se impôs e saiu candidato ao Planalto no ano passado, enquanto Doria, após apenas 15 meses na prefeitura, deixou o cargo para disputar o governo do estado.

Em reunião de líderes tucanos após a eleição de 2018, Alckmin chegou a insinuar que Doria era traidor.  Desde então, o grupo de Doria dominou o PSDB, com um aliado dele, o ex-deputado federal Bruno Araújo (PE), substituindo Alckmin no comando da sigla. No diretório de São Paulo, saiu Tobias, crítico de Doria e fiel a Alckmin, e entrou Marcos Vinholi, alinhado ao governador. 

Doria, no entanto, ainda enfrenta resistência na sigla. Em julho, ele foi derrotado em votação na executiva nacional. Por 30 votos a 4, o órgão que reúne os líderes do partido rejeitou a abertura de um processo de expulsão de Aécio Neves (PSDB-MG), que havia sido patrocinado pelo governador de São Paulo. 

Mais do que um sinal de apoio a Aécio, a derrota expressiva foi vista como um recado de desaprovação dos deputados federais a Doria.