Jornal GGN – A ministra Damares Alves começou o ano de 2020 com uma proposta polêmica: incentivar a abstinência sexual entre jovens, para combater a gravidez precoce e a disseminação de doenças. Mas um estudo acadêmico realizado entre jovens de 16 a 30 anos mostra que o plano da pastora fracassa até mesmo entre aqueles que se dizem evangélicos.

O estudo, publicado em 2015 por Leandro Ontunes (doutor e mestre em Ciências Sociais e especialista em Ciências da Religião), mostra que a maioria dos jovens evangélicos já fez sexo antes do casamento, contrariando as campanhas controladoras de cunho religioso que inspiram a mais nova política pública de Damares. Caso do movimento “Eu Escolhi Esperar”, que surgiu no Brasil no início da década passada.

A pesquisa feita com 403 jovens (171 se declararam evangélicos) visava descobrir se a prática sexual estava em acordo com o discurso
oficial de boa parte das instituições religiosas.

O resultado: quase 67% dos jovens declaradamente evangélicos admitiram que mantiveram relações sexuais antes do casamento. E 45,22% declararam manter relações sexuais frequentemente.

“Uma variável que foi abordada nesta pesquisa foi sobre a permanência de relações sexuais após a conversão ao cristianismo (evangélico). O resultado demonstrou que apenas 35,42% abandonaram a prática sexual, enquanto 64,58% a mantiveram mesmo após a conversão.”

Um trabalho sobre as campanhas midiáticas de “pureza sexual” que marcaram os anos 1990 a 2010, publicado mais recentemente, após a ascensão de Jair Bolsonaro na Presidência, mostra outros gargalos na proposta de Damares.

 
Um deles diz respeito à total marginalização das meninas e mulheres que tiveram ou não uma gravidez precoce, e que hoje são mães solo. Segundo a pesquisa, é como se esse “tipo” de mulher não existisse para os teóricos do “Eu Escolhi Esperar”, pois não é mais visto como público-alvo. É um nicho que, a depender desse movimento, ficaria descoberto em termos de saúde pública.