Por Fernando Brito, do Tijolaço
A Veja, na edição que esta nas bancas, assume na capa, sem meias-palavras, que o establishment já assumiu Jair Bolsonaro como seu candidato.
Candidato nas urnas, claro, porque diz, descaradamente, que é o desconhecido Paulo Guedes quem governará o Brasil.
A figura é retratada em entrevista ao repórter Fernando Molica.
Ou melhor: auto retrata-se.
Um arrivista, cara-de-pau, aventureiro, arrogante que, sem serviços prestados à população na vida pública, descobre que ela pode ser uma grande fonte de lucros, ao menos em matéria de projeção pessoal que, afinal, são negócios.
Leia a história de como se habilitou a ser “dono do Brasil”, narrada por ele mesmo:
Procurei Luciano [ Huck] em 2016 e disse a ele que um tsunami aconteceria em sua vida. Ele tinha, então, mais de 40 milhões de seguidores nas redes sociais. Eu disse: “Você está ferrado porque vai ser presidente da República!”. Ele disse que não havia a menor possibilidade, que ele era “irmão” do Aécio (o senador tucano Aécio Neves era, então, o possível candidato do PSDB à Presidência) e que seria chamado de moleque pelo Fernando Henrique Cardoso caso entrasse para a política. Eu disse a ele que Aécio seria fulminado pela Lava-Jato por causa das denúncias envolvendo Furnas e que ele próprio pediria a Luciano que se candidatasse. Eu não tinha informação nenhuma, era um palpite. Essa conversa foi presenciada pelo Gilberto Sayão (banqueiro carioca). Seis meses depois, Luciano me liga dizendo que eu havia acertado todas as minhas previsões. Aécio o havia procurado oferecendo a vaga de vice. Ele sugeriu, só de sacanagem, ser ele mesmo o candidato à Presidência e Aécio ficar com a Vice. Chocado, Luciano me disse que Aécio tinha topado.
A proposta para ser presidente da República é apenas, como se vê, uma oportunidade de negócio. Não tem sentido coletivo, político, programático. Paulo Guedes foi lá “vender” a Luciano Huck o “lote” que até então estava reservado a Aécio.
Como Luciano refugou, Guedes pegou os prospectos e foi em quem estava disponível, com muito dinheiro em cédulas eleitorais: Jair Bolsonaro.
“Ele me chamou para conversar depois de ter lido um artigo em que eu dizia que o Ciro Gomes era o legítimo candidato da esquerda e ele, Bolsonaro, o legítimo representante da direita.”(…) “Avisei o Huck que iria falar com Bolsonaro, e ele não viu problema algum.”(…) E, quando falei com ele, saí da bolha. (…) A bolha é São Paulo, Rio, Florianópolis. Somos nós, a Folha de S.Paulo, a Globo, a VEJA. A bolha diz assim: “Ah, esse cara é chato, disgusting (repugnante, em inglês), tosco”. A bolha pensa em direitos humanos, que são demandas legítimas, corretas e sofisticadas da sociedade. Só que o povo está lá fora gritando socorro porque não sabe se levará um tiro hoje ou amanhã. Então, quando falei com ele, tudo ficou muito claro para mim. O que ele representa? A ordem, que é a função básica de qualquer governo. É isso que as pessoas querem.
Portanto, é disso que o Bolsonaro pretende ser presidente: presidente da ordem, seja lá como for que ordem vá ser garantida num mais afundado na areia movediça da pobreza, de exclusão, do desemprego e da carência.
E o que Guedes, o presidente “do resto”, quer? Vender tudo, claro:
Começa com um programa de privatizações. Calculamos que temos cerca de 1 trilhão de reais em ativos a ser privatizados, incluindo as ações do Tesouro na Petrobras.(…) Bolsonaro já disse que não quer privatizar tudo. Que não quer privatizar Itaipu, Nuclebrás etc. Mas eu defendo privatizar tudo mesmo. O meu papel é sugerir tudo. Mas a decisão é dele. A história recente mostra que não há mais defesa para a manutenção dessa quantidade de estatais. Os grandes escândalos de corrupção aconteceram dentro delas. Petrobras, Caixa, Banco do Brasil. São empresas que perderam a capacidade de investimento, não conseguem se modernizar, competir. Por que os Correios são uma estatal? Não faz o menor sentido. Essa seria a primeira medida.
Como “dono” do pedaço se dá como garantido no “superministério econômico” a quem o tosco Bolsonaro entregará aquilo que, confessadamente, não faz ideia do que seja: a economia nacional.
Vai ficar na porta do “saloon”, dando tiros, enquanto os bandidos de verdade levam até o último níquel do banco da cidade.
A revista da Abril, concordatária, espera vir a cobrar de Guedes esta capa.
Mas, provavelmente, se o PT não reeditar a sua versão do “sou bonzinho”, o que vai receber mesmo é a nota da funerária.