A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste domingo na Etiópia, em que ele comparou o genocídio promovido pelo estado de Israel contra o povo palestino ao holocausto nazista, é, além de correta, algo que já vem sendo dito com frequência por rabinos ortodoxos judeus, como pode-se ver abaixo:

A questão é que, mesmo estando correta, a declaração desencadeou um movimento extremamente perigoso no Brasil. A extrema-direita fascista, que vê seu líder Jair Bolsonaro à beira da prisão, se aproveita do caso para apresentar pedidos de impeachment do presidente Lula. Governadores de oposição, como Ronaldo Caiado, tentam surfar no caso para herdar o espólio do fascismo. E o advogado de Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, promete mobilizar a bancada evangélica numa guerra santa contra o presidente Lula.

A instabilidade favorece ninguém menos que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que, com pedidos de impeachment nas mãos, poderá aumentar seu poder de barganha em relação ao governo federal. O bolsonarismo poderá também renovar suas juras de amor ao Império e a Israel para tentar sair das cordas e, quem sabe, evitar a prisão e cancelar a inelegibilidade de Jair Bolsonaro.

Após as declarações de Lula, o Brasil passou a estar no centro da geopolítica global. Não por acaso, nos próximos dias, o governo brasileiro receberá visitas do chanceler russo, Sergei Lavrov, e do chefe do Departamento de Estado, Anthony Blinken. Ou seja: Lula será pressionado pelas duas forças mais poderosas que disputam os destinos da humanidade. 

Numa análise mais ampla, que vê a floresta, e não apenas as árvores isoladas, o massacre em curso na Palestina é apenas um fragmento da grande guerra do Império e seus vassalos contra o mundo multipolar, do “Ocidente” contra o Sul Global, dos colonizadores contra os povos oprimidos do mundo, da minoria privilegiada contra a maioria despossuída. 

Com sua fala deste domingo, Lula se tornou o principal líder do Sul Global. É uma posição nobre, mas que implica riscos evidentes, uma vez que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que hoje comanda uma das mais poderosas máquinas de guerra e espionagem do mundo, está babando de ódio. Lula precisa de todo apoio dos brasileiros comprometidos com o Brasil e com a paz mundial. E também de muita mobilização social.

*Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247