A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu na manhã desta quinta-feira (3) quatro pessoas em uma operação relacionada à morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.

Entre os presos está Elaine de Figueiredo Lessa, mulher do sargento reformado da PM Ronnie Lessa, acusado de ser o assassino da vereadora e do motorista, e o irmão dela, Bruno Figueiredo.

Também foram presos Márcio Montavano, o Márcio Gordo, e Josinaldo Freitas, o Djaca. 

 
 

O grupo detido nesta quinta é acusado de ter ocultado armas usadas pela quadrilha, entre elas possivelmente a submetralhadora HK MP5 que teria sido usada para matar Marielle e Anderson. A arma utilizada no crime ainda não foi encontrada.

Segundo a denúncia oferecida pelo Ministério Público, eles se livraram de pertences do policial militar reformado, como armas de grosso calibre, um dia após a prisão de Lessa, em março deste ano. Ao menos seis armas longas e acessórios teriam sido jogados no mar.

Marielle Franco na Câmara Municipal do Rio em 2017
Marielle Franco na Câmara Municipal do Rio em 2017 - AFP

De acordo com a Polícia Civil e o Ministério Público, na madrugada do dia 13 de março deste ano, um dia após a prisão de Lessa, um carro com quatro ocupantes tentou acessar um imóvel alugado pelo policial reformado, com o objetivo de retirar seus pertences do local. Na ocasião, a administração do condomínio impediu a entrada no prédio.

Na tarde do mesmo dia, Bruno teria levado Márcio Gordo ao apartamento de Ronnie Lessa. De lá, o denunciado saiu com uma grande caixa com pertences, como mostram as câmeras de segurança do condomínio, retornando em seguida ao veículo conduzido por Bruno.

Na manhã seguinte, Márcio Gordo teria se encontrado com Djaca no estacionamento de um supermercado na Barra. No local, teriam retirado de outro veículo caixas, bolsas e malas e saído para destinos distintos.

As investigações não descobriram para onde Márcio foi, mas concluíram que Djaca se dirigiu para a colônia de pescadores do Quebra-Mar da Barra.

Lá alugou os serviços de um barqueiro e atirou todo o conteúdo retirado do apartamento de Ronnie ao mar, próximo às ilhas Tijuca. Teria sido possível identificar armas de grosso calibre e peças para a montagem de armas.

Em depoimento à polícia, um pescador revelou que foi contratado por Djaca por R$ 300 para levá-lo ao mar, onde se livraria de “fuzis e pequenas caixas”.

Com o auxílio de mergulhadores do Corpo de Bombeiros e da Marinha, foram realizadas buscas no local, mas nada foi encontrado. Segundo a polícia, a grande profundidade e as águas muito turvas dificultaram o trabalho.

As investigações tiveram início quando o Ministério Público foi cumprir um mandado de busca e apreensão, a partir de uma denúncia de que Lessa guardaria armas de fogo em um apartamento. Quando as autoridades chegaram ao local, no dia seguinte à prisão do policial reformado, as armas não estavam mais ali.

Segundo o Ministério Público, o imóvel era utilizado apenas para guardar armamento e ainda podem existir outros esconderijos de Lessa.

Elaine teria sido a mentora do plano e Bruno teria ajudado na execução.

Elaine, Bruno, Márcio Gordo e Djaca responderão pelo crime de obstrução da Justiça, com pena prevista de três a oito anos de reclusão. Já Ronnie irá responder por posse ilegal de arma de fogo de uso restrito, com pena prevista de três a seis anos de prisão.

Também foram cumpridos 27 mandados de busca e apreensão contra os quatro alvos e outras três pessoas contra as quais não houve denúncia ou prisão. Os mandados foram expedidos pelo Juízo da 19º Vara Criminal da Capital.

O advogado de Elaine Lessa afirmou que não irá se pronunciar porque ainda não teve acesso ao processo. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos demais acusados

A operação ocorre cerca de 15 dias após a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pedir a federalização das investigações.

Em entrevista à imprensa nesta quinta, o delegado Antônio Ricardo Nunes, chefe do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa, defendeu que a saída da Polícia Civil e do Ministério Público estadual das investigações representaria um retrocesso.

"Qualquer tentativa de retirada da investigação do rumo que está seguindo será extremamente prejudicial", disse.

Marielle e Anderson foram assassinados a tiros em 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, Centro do Rio. Eles estavam dentro de um carro quando o crime aconteceu. A vereadora voltava de um evento chamado Jovens Negras Movendo as Estruturas, na Lapa, também na região central, quando um carro emparelhou com o veículo em que ela estava e efetuou disparos.

 

Acusado do assassinato, Ronnie Lessa está preso na penitenciária federal de Porto Velho. Além dele, o ex-policial Élcio Queiroz, que foi expulso da Polícia Militar, também está preso sob a acusação de ter matado Marielle e seu motorista.